A Coreia do Norte está prestes a superar uma de suas principais vulnerabilidades militares: a limitação no rastreamento de mísseis inimigos e na testagem eficiente de seus próprios ICBMs. Para isso, o regime de Kim Jong-un aposta em uma nova tecnologia de radar aerotransportado, instalada em um antigo avião de carga soviético, modificado para cumprir essa função estratégica. O projeto foi revelado publicamente em março, durante uma inspeção de Kim, e representa um grande avanço na modernização do aparato bélico norte-coreano.
Segundo o site Foreign Policy, esse radar de última geração pode transformar radicalmente as capacidades defensivas e ofensivas do país. Além de ampliar o monitoramento aéreo e detectar ameaças com mais precisão, o sistema promete auxiliar nos testes e aprimoramento dos mísseis balísticos intercontinentais, com foco especial nos veículos de reentrada, que são estruturas cruciais para garantir que as ogivas nucleares resistam à reentrada na atmosfera e atinjam seus alvos com eficácia.
Avião espião no horizonte
Em março deste ano, o ditador norte-coreano Kim Jong-un visitou pessoalmente a aeronave modificada, confirmando as suspeitas de analistas internacionais que, desde dezembro de 2023, já haviam notado alterações estruturais em um avião de carga no Aeroporto Internacional Pyongyang Sunan.

“Esta aeronave também pode ajudar a Coreia do Norte a finalmente resolver um problema tecnológico que a persegue há décadas: desenvolver com sucesso ogivas para seus mísseis balísticos intercontinentais capazes de reentrar na atmosfera”, revela a análise da Foreign Policy.
Vantagem estratégica
O radar aerotransportado oferece duas vantagens cruciais em comparação com os sistemas terrestres. Por voar em grandes altitudes, consegue detectar ameaças além da curvatura da Terra, incluindo mísseis de cruzeiro voando baixo.
“Um radar terrestre norte-coreano em um vale pode não detectar um míssil de cruzeiro inimigo no vale vizinho. Uma aeronave de alerta aéreo pode observar esses vales de cima, dando à liderança norte-coreana um tempo de alerta valioso antes que esses mísseis atinjam seus alvos”, explica o artigo.
Superando limitações geográficas
A geografia da Coreia do Norte sempre representou um obstáculo para o desenvolvimento de seu programa nuclear. Com apenas cerca de 1.000 km em seu ponto mais estreito, o país enfrenta dificuldades para testar mísseis de longo alcance.
Para evitar sobrevoar o Japão, a Coreia do Norte testa seus ICBMs (mísseis nucleares de longo alcance) em trajetórias quase verticais no Mar do Japão, o que submete os veículos de reentrada a condições extremas e irreais.
“Em vez de reentrar gradualmente, a ogiva desce pela atmosfera em um ângulo quase perpendicular à superfície da Terra, resultando em velocidades e temperaturas extremamente altas. É semelhante a aprender a rebater uma bola de beisebol com a máquina de arremesso ajustada para sua configuração mais alta”, compara a publicação.
Coleta de dados críticos
O principal benefício do radar aerotransportado será fornecer dados preciosos sobre o desempenho dos veículos de reentrada, atualmente um ponto fraco do programa nuclear norte-coreano.
“A incapacidade da Coreia do Norte de demonstrar conclusivamente a capacidade de reentrada de seus mísseis está prejudicando a credibilidade de suas forças de dissuasão”, observa a Foreign Policy.
Com a nova aeronave pairando no Mar do Japão, o regime poderá “rastrear veículos de reentrada enquanto descem, coletando dados sobre sua precisão e, se a ogiva falhasse e se fragmentasse na reentrada, detectar quando e, talvez, por quê”.
Ameaça crescente
Embora a tecnologia não resolva todos os problemas do programa nuclear norte-coreano, representa um enorme avanço que preocupa a comunidade internacional.
“Um radar aerotransportado oferece à Coreia do Norte capacidades únicas que ela não conseguiria alcançar apenas com estações terrestres”, alerta a análise, acrescentando que esta tecnologia pode “aproximar [a Coreia do Norte] um passo de finalmente dominar a arma mais letal do mundo”.