Marcos Santos nasceu na periferia carioca. Estudando em escola pública e criado por mãe solteira, o menino tinha poucas perspectivas de um futuro diferente da maior parte dos meninos de Bangu nascidos nos anos 70. Aprovado na prova para o Colégio Naval, onde fez seu segundo grau, o jovem galgou vários degraus na Marinha do Brasil e acabou enveredando por uma carreira científica dentro das Forças Armadas, se tornando um dos cientistas mais reconhecidos do país e do mundo. Em um ranking especial, organizado pela renomada Universidade de Stanford (EUA), o Capitão-de-Fragata Marcos Santos aparece entre a nata dos pesquisadores mais relevantes do planeta, está entre os 2%.
Melhorar a vida das pessoas
Marcos Santos acredita ser parte de seu dever contribuir positivamente para a sociedade, desenvolvendo sistemas que melhorem a vida das pessoas. Ele compartilha sua trajetória: “fui um jovem pobre, do subúrbio carioca, mãe solteira, negra e analfabeta. Cursei todo meu Ensino Fundamental na escola pública, meu Ensino Médio na escola pública (Colégio Naval), minha graduação em universidade pública (Escola Naval), meu mestrado em universidade pública (UFRJ), meu doutorado em universidade pública (UFF) e o meu pós-doutorado em universidade pública (ITA). Por isso não estou fazendo favor algum em estudar, pesquisar, publicar e disseminar esse conhecimento. É a minha obrigação como cidadão brasileiro e como marinheiro”, conta.
Atualmente, como Capitão de Fragata da Marinha e reconhecido em periódicos de grande prestígio como parte de um seleto grupo dos cientistas mais influentes do planeta, o Pós-Doutor Marcos dos Santos tem em seu currículo mais de 900 pesquisas publicadas, incluindo os modelos matemáticos complexos que podem auxiliar na tomada de decisões críticas para a sociedade, como a aquisição de hospitais, seleção de fornecedores de medicamentos ou escolha do helicóptero ideal para a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.
Mais de 20 países
Os modelos desenvolvidos pelo cientista já foram apresentados em mais de 20 países, entre eles Estados Unidos, França, Inglaterra, Índia, Croácia, Irlanda, Portugal, Itália, Sérvia, Nepal e China.
Ouvido pela Revista Sociedade Militar, o oficial explica que “ sempre que se toma uma decisão a partir de um modelo mais estruturado, quem ganha é a sociedade como um todo… E eu poderia citar vários outros projetos que além de contribuírem com a ciência (em termos teóricos), trouxeram um ganho direto para a sociedade… “
Ferramentas para uso da sociedade em geral
O cientista quer desenvolver mais softwares para uso por profissionais de todos os ramos do conhecimento, facilitando a tomada de decisões e melhorando a vida das pessoas
“Eu penso que todo cientista tem o dever de aproximar a sociedade da sua ciência… deve permitir que a sua ciência seja um instrumento para melhorar a vida das pessoas. Por isso, lá no IME eu criei a linha de pesquisa ‘Ferramentas Computacionais de Apoio à Tomada de Decisões’. O objetivo dessa linha de pesquisa é desenvolver softwares online, de fácil utilização… Com isso, qualquer pessoa, de qualquer ramo profissional pode lançar mão desses modelos de tomada de decisão, podendo ser militares, médicos, advogados, nutricionistas ou de qualquer outra área. Nesse sentido, no IME, já desenvolvemos dezenas de Sistemas de Apoio à Decisão (SAD) que estão disponíveis online para utilização de toda a sociedade. Alguns já tem milhares de acessos.”
Hoje perto do final da carreira regular como oficial da Marinha, mas não como cientista, Marcos dos Santos é bastante focado em desenvolver sistemas, que embora não sejam tão midiáticos como uma mão robótica ou um novo tipo de combustível, são indispensáveis para auxiliar instituições, governos e diversos profissionais a tomar as decisões ideais, economizando tempo e recursos públicos e com isso toda a sociedade lucra.
Ao final da entrevista o oficial da Marinha explicou que embora esse tipo de ferramenta seja utilizada já há bastante tempo em outros países, mesmo com potencial para se economizar milhões de dólares em recursos públicos, no Brasil há oportunidades de melhoria e muito espaço para utilização desses métodos.
E como vc mesmo pontuou, é uma área ainda pouco explorada no Brasil e que tem o potencial enorme de melhorar a vida do nosso povo… O que eu tenho me dedicado há anos, é justamente na popularização desses métodos não só nas FA, mas na sociedade de maneira geral. Por isso, atuo em três frentes: – Como professor ensinando passo a passo esses métodos.- como pesquisador, publicando e aplicando métodos já consagrados na literatura e criando novos métodos.- por último como desenvolvedor de software, desenvolvendo novas ferramentas, simples e intuitivas, que permitam que qualquer pessoa leiga utilize essas ferramentas.
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar