Em meio ao aumento da frequência de enchentes e deslizamentos no Sul do Brasil, o Exército Brasileiro reforça sua preparação para atuar em situações de calamidade. Entre os dias 28 e 30 de abril de 2025, o 23º Batalhão de Infantaria (23º BI), sediado em Blumenau (SC), promoveu o Estágio de Ajuda Humanitária, um exercício intensivo voltado à capacitação de militares para operar em cenários extremos. A ação ocorre em um momento crítico: só no mês de abril, mais de 20 cidades catarinenses decretaram situação de emergência devido às chuvas.
Preparação interinstitucional: forças unificadas em prol da população
O estágio reuniu cerca de 150 militares e contou com a participação ativa de órgãos essenciais como a Defesa Civil de Santa Catarina, o Corpo de Bombeiros Militar, a Polícia Militar, a Polícia Penal e equipes da Secretaria Municipal de Defesa Civil de Blumenau. O destaque ficou por conta da presença da aeronave Arcanjo, equipada com guincho e suporte para evacuação aeromédica, frequentemente empregada em operações críticas em regiões montanhosas ou de difícil acesso.
Essa integração interinstitucional é apontada como fundamental para garantir respostas rápidas e eficientes em situações de catástrofe, como explicou o tenente-coronel Carlos Roberto da Silva, comandante do 23º BI:
“Nosso objetivo é treinar não apenas técnicas individuais, mas principalmente a coordenação entre instituições. É essa sinergia que salva vidas nos primeiros momentos de um desastre.”
Simulações realistas e capacitação prática em ambiente urbano
Durante os três dias de estágio, os participantes foram submetidos a simulações de evacuação de vítimas, atendimento pré-hospitalar em área alagada, resgate vertical e montagem de abrigos provisórios em ginásios e escolas. Houve ainda treinamento noturno e em condições simuladas de chuva, com o uso de rádios táticos e equipamentos de visão noturna.
Além disso, os militares receberam instruções específicas sobre organização de centros de triagem, distribuição de suprimentos, controle de fluxo de pessoas e logística emergencial. Técnicas de resgate com botes infláveis, utilização de drones para reconhecimento de áreas isoladas e instalação de tendas climatizadas também fizeram parte da formação.
Blumenau: laboratório de gestão de crises
A escolha de Blumenau como sede do exercício está longe de ser aleatória. A cidade é uma das mais preparadas do Brasil no enfrentamento de desastres naturais. O município abriga o sistema AlertaBlu, uma plataforma inteligente que emite alertas em tempo real por SMS e redes sociais, além de monitorar índices pluviométricos e o nível do rio Itajaí-Açu com sensores espalhados por toda a cidade.
Blumenau conta ainda com 60 abrigos mapeados e estruturados no Plano Municipal de Contingência, prontos para serem ativados em caso de inundações ou escorregamentos. E a educação preventiva começa cedo: projetos como o “Defesa Civil na Escola” e o “Agente Mirim de Defesa Civil” já alcançaram mais de 4 mil estudantes do ensino fundamental, promovendo uma cultura de autoproteção e conscientização desde a infância.
Histórico de atuação: quando o Exército é chamado a agir
O 23º Batalhão de Infantaria tem tradição em apoio à população civil em momentos de crise. Em 2023, a unidade participou da operação de resposta às enchentes no município de Taquari, no Rio Grande do Sul, ajudando a evacuar mais de 800 pessoas e a distribuir mais de 40 toneladas de suprimentos.
Outras unidades do Exército também vêm ampliando sua atuação humanitária. No Acre, batalhões de engenharia foram mobilizados para restabelecer estradas interrompidas por alagamentos. Em Minas Gerais, a atuação conjunta com bombeiros e voluntários foi fundamental para atender vítimas dos deslizamentos que atingiram cidades da Zona da Mata.
Essas missões reforçam a evolução doutrinária das Forças Armadas brasileiras, que hoje atuam não apenas em defesa da soberania, mas também como agentes de apoio logístico e humano em tragédias ambientais.
Desastres cada vez mais frequentes: o novo normal?
De acordo com dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), o Brasil registrou, entre janeiro e abril de 2025, mais de 300 eventos extremos, como enchentes, deslizamentos e enxurradas. Só em Santa Catarina, mais de 55 mil pessoas foram afetadas diretamente, e estima-se que os prejuízos superem R$ 220 milhões em infraestrutura urbana e rural.
Especialistas apontam que o aquecimento global, o desmatamento e a urbanização desordenada agravam o impacto desses eventos. Por isso, a preparação das Forças Armadas para lidar com desastres não é apenas desejável, é imprescindível.