Segundo a grande imprensa brasileira, acusada de comunista por uma metade do eleitorado e de fascista pela outra metade, o terrível golpe contra a sólida democracia pátria já foi configurado e tem o seu abominável cabeça: Jair M. Bolsonaro.
Uma matéria da época pré-golpe publicada pela Revista Sociedade Militar mostra um deputado do Partido Liberal, mesmo partido de Bolsonaro, em efusivo discurso para manifestantes bolsonaristas (autodenominados “patriotas”) acampados em frente a um quartel do Exército.
Em discurso truncado e usando uma linguagem semicifrada, bem ao gosto do público conspiracionista que o ouvia atento, o deputado Eliezer Girão sobrepôs uma suposta intervenção militar (a barrar a posse de Lula) com meias na janela para esperar Papai Noel.
Eliezer Girão é general de brigada do Exército brasileiro.
Mais do que conhecido é o episódio em que outro general, Eduardo Villas-Bôas, na época comandante do Exército, mais alta patente das Forças Armadas, pressionou o Supremo Tribunal Federal na questão do habeas corpus de Lula em 2018.
Em abril de 2018, às vésperas do julgamento no STF, que definiria se Lula permaneceria preso, o então comandante do Exército Brasileiro, general Eduardo Villas-Bôas, escreveu no Twitter:
“Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais.”
O tuíte lacônico, mas controverso – porque antiético, já que contrariava vedação legal de que militares comentem assuntos políticos – é impossível negar, teve peso considerável na eleição do capitão Jair Bolsonaro.
Em agosto de 2021, o então ministro da Defesa, durante uma sessão na Câmara dos Deputados, em que prestava esclarecimentos sobre uma nota em tom ameaçador, assinada por ele e pelos comandantes das Forças Armadas, disse que não houve ditadura militar entre 1964 e 1985 no Brasil.
A ditadura brasileira não é fruto de viés ideológico, é resultado de pesquisa histórica. A Comissão Nacional da Verdade listou 434 pessoas mortas e desaparecidas por ação direta da ditadura e apontou 377 nomes de pessoas que violaram os Direitos Humanos durante o período, recomendando a responsabilização criminal, civil e administrativa de 196 dessa lista que permanecem vivos.
“Se houvesse ditadura, talvez muitas pessoas não estariam aqui. Ditadura, como foi dito por outro deputado, é em outros países”, Walter Braga Netto também – mais um – é general do Exército brasileiro.
Com tantos militares, muitos outros nomes de outras patentes poderiam ser relembrados, é de impressionar que a mídia de massa nacional não atine que – é sempre bom não esquecer que ele também veio da mesma AMAN – o capitão Bolsonaro pode ser apenas uma humilde cabeça, entre tantas outras que ornam essa medusa que há séculos insiste em tutelar a nossa claudicante democracia
Texto de JB.Reis – Revista Sociedade Militrar