O Comandante do Exército Brasileiro, General de Exército Tomás Miguel Miné, atento às mudanças no ambiente geopolítico global e às novas demandas estratégicas, determinou oficialmente, por meio de portaria do comando do Exército, o início da montagem da Força 40, um marco essencial no processo de transformação da Força Terrestre para o período de 2024 a 2039.
A decisão reflete diretamente a necessidade de modernização para que o Exército Brasileiro (EB) se mantenha preparado para enfrentar os desafios do futuro.
A criação da Força 40 responde ao acirramento das disputas geopolíticas entre as principais potências globais e ao surgimento de ameaças complexas e tecnologias disruptivas que podem desafiar os interesses vitais dos Estados-nações. Diante desse cenário, a Força Terrestre precisa evoluir para enfrentar os novos desafios, adaptando-se continuamente ao caráter mutável da guerra.
A diplomacia militar e o importante entorno estratégico
Em trecho do documento, o general Tomás Miné menciona a chamada diplomacia militar como essencial para moldar a segurança do entorno estratégico do Brasil: “Essa perspectiva impõe ao EB a necessidade da permanente moldagem dos ambientes de segurança e do entorno estratégico brasileiro. A ação integrada da Diplomacia Militar Terrestre e da Comunicação Estratégica ganham ênfase nessa fase.”
O processo de transformação do EB, coordenado pelo Estado-Maior do Exército (EME), será desenvolvido em duas fases principais: Implementação e Consolidação. A primeira fase, que se estenderá de 2024 a 2035, será marcada pela execução de ciclos estratégicos, que visam implementar as Diretrizes Estratégicas de Transformação (DET) e resolver as lacunas identificadas nos Problemas Militares Operacionais (PMO). Durante esse período, novas capacidades serão incorporadas, e a doutrina militar evoluirá, preparando a Força para as Operações de Convergência 2040 (Op Cnvg).
Consolidação das estruturas do conceito operacional
Na segunda fase, prevista para 2036 a 2039, o foco será a consolidação das estruturas e capacidades necessárias para atuar de acordo com as premissas estabelecidas no Conceito Operacional do Exército Brasileiro (COEB). A Força 40 deverá estar plenamente capacitada para operar em ambientes urbanos, com ênfase na resiliência contra ameaças difusas, especialmente em contextos de conflitos na “zona cinza”.
A montagem da Força 40 inclui a integração e a coordenação de diversas áreas, como o Sistema Logístico Militar Terrestre (SLMT), a Engenharia do Exército, a Defesa Cibernética e outras. Também é prevista a otimização da estrutura da Força, considerando restrições orçamentárias e a racionalização dos meios e processos, com o objetivo de contar com unidades completas e altamente capacitadas.
Presença em todos os estados da federação, incluindo a região amazônica
Prioridades estratégicas incluem a preservação do caráter nacional do EB, com presença em todos os estados da federação, e a ênfase na região amazônica, reconhecida como área de importância crítica para a defesa nacional. Além disso, princípios éticos e valores militares serão – segundo aponta o documento – continuamente cultivados, assegurando que a Força 40 seja não apenas eficaz, mas também alinhada aos mais altos padrões esperados para a conduta militar.
A Força 40, segundo indica a portaria assinada em 21 de agosto de 2024 representa um passo decisivo na preparação do Exército Brasileiro para os desafios de 2040, integrando novas capacidades tecnológicas e doutrinárias, e assegurando a defesa da soberania nacional em um mundo cada vez mais complexo e competitivo.

Em trecho contundente do documento, o oficial-general, logo após mencionar a necessidade de diplomacia militar e moldagem de um “entorno de segurança”, deixa clara a possibilidade de conflito armado e a necessidade de “esforço total” e “mobilização nacional” em caso de um conflito de maior duração.
“b) ação imediata — em princípio, é proporcionada pelas forças militares localizadas na região ou próxima do local da crise, de forma a garantir a inviolabilidade territorial. Essas deverão ser empregadas com o máximo poder de combate, visando garantir a resposta imediata, fundamental para a solução de crises em curto prazo. Dependendo da análise da situação, determinados módulos das F Esp Emp Estrt poderão ser adjudicados ao maior escalão em presença; c) atuação ampliada — é proporcionada pelo deslocamento de forças militares para a região onde ocorre a crise. Tais forças deverão ser dotadas de elevada mobilidade e flexibilidade. Normalmente, a atuação ampliada ocorrerá quando uma ação de reforço se fizer necessária; d) esforço total — relaciona-se ao estado de conflito armado. Caso a situação indique que a crise possa evoluir para um conflito de maior duração, será necessário buscar a mobilização nacional e a máxima superioridade decisiva sobre o oponente, de forma a antecipar as ações, como o deslocamento e a concentração estratégica das forças militares necessárias para solucionar o conflito de forma decisiva.”
Veja o documento completo sobre o projeto Força 40 a que a Revista Sociedade Militar teve acesso.