Desde 2016, a publicidade começou a refletir uma tendência crescente das marcas em adotar posturas políticas, abandonando a tradicional neutralidade. Esta mudança não apenas refletiu as divisões políticas ampliadas, mas também respondeu às expectativas de consumidores que esperavam que as marcas expressassem suas crenças.
A eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos catalisou um movimento onde marcas comerciais passaram a adotar posturas políticas explícitas. Em vez de se manterem neutras, muitas empresas começaram a se posicionar sobre questões como imigração, controle de armas, igualdade racial e direitos LGBTQ+. A Nike, por exemplo, apoiou o movimento Black Lives Matter. Posteriormente, outras marcas adotaram posturas “pró-woke”, ou no Brasil, pejorativamente, “pró-lacração”.
Com o tempo, especialmente após a era Trump, observou-se uma mudança nas posturas das marcas. Enquanto anteriormente muitas empresas usavam suas plataformas para promover justiça social e causas políticas, muitas agora optam por uma abordagem mais cautelosa. Esse recuo é impulsionado, em parte, pela reação negativa do público e pelo impacto financeiro de campanhas controversas.
Vender produtos acima de ativismo político
Marc Pritchard, diretor de marca da Procter & Gamble, observou em Cannes que atualmente, os consumidores se preocupam mais com o desempenho e valor das marcas do que com seu ativismo político.
Essa mudança de estratégia também pode ser vista na resposta a campanhas como a da Bud Light, que sofreu um boicote significativo após uma parceria com a influenciadora trans Dylan Mulvaney. O CEO da empresa recuou, afirmando que “nunca pretendemos fazer parte de uma discussão que divide as pessoas.” A confusão em torno da Bud Light demonstrou a incompatibilidade real entre as políticas percebidas das marcas e seu público-alvo.
Hoje, as marcas estão se afastando de posições políticas arrojadas e voltando a focar em questões mais práticas e menos controversas, como o custo de vida. A publicidade, em vez de liderar debates culturais, agora segue as preocupações do consumidor, refletindo uma reversão do ativismo que dominou a última década.
Outras empresas que estão abandonando o espírito de “lacração” incluem até mesmo grandes marcas, como a Victoria’s Secret.