A suspensão do X, antigo Twitter, no Brasil, tem gerado intensos debates, tanto no campo econômico quanto no jurídico.
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), por meio do ministro Alexandre de Moraes, de bloquear o acesso à rede social após o descumprimento de uma ordem judicial pelo empresário Elon Musk, despertou preocupações que vão sobretudo além do universo das redes sociais. O problema acaba atingindo áreas como a insegurança jurídica, e até mesmo possíveis prejuízos econômicos de longo prazo.
De acordo com cálculos apresentados pelo economista Paulo Rabello de Castro, o impacto econômico da suspensão do X no Brasil pode alcançar cifras bilionárias. Em uma audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Rabello estimou que, nos próximos cinco anos, o bloqueio da rede social poderá custar até R$ 17,9 bilhões à economia brasileira. Para o próximo ano, a projeção já é de R$ 10 bilhões, um valor que, segundo ele, é conservador e pode ser ainda maior.
O economista utilizou uma metodologia que considera o tempo médio gasto pelos brasileiros no X e o valor do salário médio mensal. Rabello calculou que cada usuário da rede social contribui com um impacto diário de R$ 8, tendo em vista os 32 minutos em média que passam no X. Com uma base de 14 milhões de usuários, Rabello aplicou seu modelo a apenas 25% desse total para evitar exageros nas estimativas.
Além do impacto financeiro direto, o economista argumentou que a suspensão afeta “não apenas a fofoca em mídia social”, mas também a circulação de informações científicas e industriais, importantes para o desenvolvimento de setores cruciais da economia.
Críticas e comparações com outros desastres
A decisão de suspender o X gerou críticas não apenas no campo econômico, mas também no jurídico e social. Paulo Rabello de Castro comparou o impacto econômico da suspensão com desastres naturais recentes. O economista sugeriu que o banimento do X pode superar em perdas econômicas até mesmo as enchentes no Rio Grande do Sul, cujo impacto financeiro estimado foi de R$ 11 bilhões.
Rabello destacou que a decisão de Moraes resultou em um prejuízo “superior ao de uma única canetada”, reforçando o argumento de que o bloqueio do X pode ter consequências desproporcionais sobretudo em relação à medida judicial.
Além disso, a suspensão gerou um debate mais amplo sobre a circulação de informações em redes sociais. Rabello argumentou que a rede social serve principalmente como um importante meio de comunicação para além do entretenimento. O economista citou sua relevância para a disseminação de dados científicos, informações sobre o clima e notícias do setor industrial. A suspensão, portanto, pode ter implicações que vão muito além das redes sociais, impactando a maneira como o conhecimento é compartilhado.
Insegurança jurídica e fuga de capital estrangeiro
O bloqueio do X também trouxe à tona questões sobre a segurança jurídica no Brasil, especialmente para investidores internacionais. O analista Matheus Spiess, da Empiricus Research, destacou que o embate entre Musk e Moraes transmite uma imagem de insegurança jurídica para o mercado externo, o que pode ser sobretudo extremamente prejudicial para o Brasil.
De acordo com Spiees, “para investidores internacionais, isso transmite uma sensação de insegurança jurídica, o que é extremamente prejudicial”. A preocupação é que o Brasil possa afastar o capital estrangeiro da mesma maneira que ocorreu na China. Por lá, medidas governamentais severas resultaram principalmente na fuga em massa de investidores.
Essa visão foi corroborada pelo investidor americano Bill Ackman, que alertou para a possibilidade de o Brasil se tornar um “país não investível”. Ackman comparou a situação com as ações tomadas pela China. Ao impor restrições similares, o país afastou capitais estrangeiros e gerou um colapso nas avaliações de diversas empresas. De acordo com o investidor, “o mesmo acontecerá com o Brasil, a menos que eles recuem rapidamente desses atos ilegais”.
Consequências econômicas e sociais a longo prazo
Embora o impacto total da suspensão do X no Brasil ainda seja incerto, a combinação de fatores econômicos, jurídicos e sociais indica que o bloqueio terá repercussões significativas. A fuga de investidores estrangeiros, somada à perda de um canal importante de disseminação de informações, pode ter efeitos sobretudo duradouros, tanto no setor privado quanto no público. No entanto, os próximos meses serão cruciais para determinar se os fatores positivos, como a queda dos juros nos Estados Unidos e a estabilidade da economia brasileira, serão suficientes para contrabalançar os efeitos negativos da suspensão.
Em meio a esse cenário, a tensão entre Musk e Moraes segue crescendo. As implicações vão além das fronteiras digitais e atingem diretamente a economia e a imagem internacional do Brasil. O país, portanto, precisa encontrar um equilíbrio entre a aplicação da lei e a manutenção de um ambiente favorável para o investimento estrangeiro e a liberdade de informação.