No último discurso na Organização das Nações Unidas, que pode ser visto em matéria publicada pela Revista Sociedade Militar, o presidente Lula mencionou (como a maioria dos chefes de Estados) a questão climática, e também citou os gastos crescentes com a indústria de armamentos e, ato contínuo, criticou a proliferação dos conflitos mundiais.
A ONU não conta com uma estrutura militarizada, não tem uma Força Armada. Já a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), é a maior instituição político-militar do mundo.
A OTAN empenha-se na resolução pacífica de litígios. Caso os esforços diplomáticos falhem, a Organização conta com poder militar para realizar operações de gestão de crises.
Com essa expertise muito particular, a OTAN gerou um relatório detalhado sobre as mudanças climáticas e suas correlações com operações militares.
Mostramos neste artigo estudos de órgãos internacionais – além da OTAN, a Cruz Vermelha também está focada nesses mesmos assuntos – que abordam os dois temas, a relação entre eles e sua convergência.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E NÍVEIS DE CONFLITO
Em julho deste ano, a OTAN analisou pela primeira vez as mudanças climáticas sob a perspectiva da segurança de seus aliados.
Conforme o estudo “Mudanças Climáticas e Segurança”, as alterações climáticas resultaram em 29 mobilizações militares internacionais em 2023 para responder a emergências em 14 países.
O relatório destaca, por exemplo:
- ações como o combate a incêndios florestais no Canadá, que envolveu milhares de militares durante mais de 4 meses em 2023.
- apoio oferecido pelos aliados para controlar incêndios florestais na Grécia, o que causou a maior evacuação da história do país.
- utilização de helicópteros e pontes flutuantes militares para gerenciar as consequências de uma grande inundação na Eslovênia.
Segundo o documento, as mudanças climáticas podem aumentar os níveis de conflitos, instabilidade e violência devido a grandes migrações populacionais e ao colapso da produtividade agrícola em algumas regiões.
A avaliação sugere que isso pode “alimentar uma rápida escalada de instabilidade e deslocamento em áreas já sob estresse climático.”
RANKING DA RESILIÊNCIA CLIMA/CONFLITO
Publicação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) informou que dos 20 países mais vulneráveis à mudança climática, a maioria está em guerra.
Esses dados vieram do ND-Gain Index (Índice de Adaptação Global da Universidade de Notre Dame), que analisa a vulnerabilidade de um país à mudança climática e a outros desafios globais, contrastando-a com sua capacidade de melhorar a resiliência.
O Índice ND-Gain visa ajudar governos, empresas e comunidades a priorizar melhor os investimentos para uma resposta mais eficiente aos desafios globais imediatos que estão por vir.
Iêmen, Mali, Afeganistão, República Democrática do Congo e Somália, todos eles lugares de conflitos, figuram entre os últimos do ranking. O Brasil está no praticamente no ponto médio da classificação.
Isto não quer dizer que haja uma correlação direta entre mudança climática e conflito armado.
O índice sugere que países que enfrentam conflitos são menos capazes de lidar com a mudança climática, justamente porque sua capacidade de adaptação é enfraquecida pelas hostilidades.
As pessoas que vivem em zonas de conflito, portanto, estão entre as mais vulneráveis à crise climática e as mais negligenciadas pelos efeitos da ação climática.