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Forças Armadas contratam 12 mil aposentados por R$ 800 mi em meio à debandada na ativa. Modelo PTTC amplia contratações na reserva enquanto oficiais de carreira deixam a farda

por Sérvulo Pimentel Publicado em 26/11/2024
Forças Armadas contratam 12 mil aposentados por R$ 800 mi em meio à debandada na ativa. Modelo PTTC amplia contratações na reserva enquanto oficiais de carreira deixam a farda

A evasão de oficiais de carreira das Forças Armadas, incluindo engenheiros, pilotos e médicos, tem ganhado os holofotes. Segundo publicado pela Revista Sociedade Militar, um número crescente de militares de alto status tem pedido demissão, citando baixos salários, rotina extenuante e perspectiva de aumento no tempo de serviço. Enquanto isso, a Folha de São Paulo revela um dado intrigante: 12.681 militares inativos foram contratados para funções administrativas e de assessoria, em um modelo que gera R$ 800 milhões em gastos anuais.

Contratações e custos elevados

O levantamento da Folha, com base na Lei de Acesso à Informação, mostra que 7% dos militares da reserva ou reformados foram contratados como PTTCs (prestadores de tarefa por tempo certo). Eles recebem um adicional de 30% nos salários, elevando a remuneração média para R$ 22.694 e, em alguns casos, alcançando até R$ 47 mil. O modelo é amplamente utilizado pelo Exército, com 6.190 contratações, seguido pela Marinha (3.598) e Força Aérea (2.893).

O custo desses contratos é menor que o de manter militares da ativa, segundo as Forças, que justificam o modelo como forma de mitigar o déficit de pessoal e aproveitar a experiência acumulada dos inativos. “A medida assegura presença de profissionais experientes para o cumprimento de atribuições estratégicas”, destacou a Marinha em nota.

Oficiais da ativa enfrentam desafios, enquanto inativos desfrutam de bônus, cargos administrativos e contratos de até 10 anos. (Foto: Exército Brasileiro)

Oficialidade versus reserva

A disparidade chama atenção. Os oficiais de carreira, formados em cursos como a AMAN e a Escola Naval, cuja formação demanda anos e altos investimentos públicos, enfrentam condições de trabalho desestimulantes, segundo informou a Revista Sociedade Militar. Já os militares inativos, contratados sem processos seletivos, desfrutam de benefícios como salários robustos e contratos renováveis por até 10 anos.

Embora as Forças Armadas neguem a divulgação detalhada das funções desempenhadas pelos PTTCs por questões de segurança, a Folha apurou que parte dos contratados ocupa cargos em áreas de ensino, saúde e assessoramento, incluindo órgãos como o STM e o Ministério da Defesa.

Contexto político

Entre os contratados, figuram nomes de destaque, como o general Otávio Rêgo Barros, ex-porta-voz de Jair Bolsonaro, e o almirante Carlos Alfredo Vicente Leitão. Esses vínculos levantam questionamentos sobre a transparência e critérios na escolha de inativos.

Enquanto o governo Lula promove ajustes em benefícios militares para conter despesas, a contratação de PTTCs permanece intocada. O contraste entre a saída de oficiais de carreira e a ampliação do quadro de inativos contratados reflete um cenário complexo, onde as prioridades das Forças Armadas parecem dividir opiniões e recursos.

Sérvulo Pimentel

Sérvulo Pimentel

Apaixonado pela língua portuguesa e pelo universo militar, Sérvulo é professor há dez anos e atua como redator há cinco, sendo um especialista na produção de notícias sobre Defesa Nacional e sociedade militar. Na Revista Sociedade Militar, dedica-se a levar informações confiáveis e bem apuradas ao público, sempre prezando pela responsabilidade jornalística e imparcialidade. Seu compromisso é contribuir para um debate informado e acessível sobre temas estratégicos e sociais, aproximando os leitores das principais questões que envolvem as Forças Armadas e a sociedade.