As Forças Armadas brasileiras enfrentam uma crise sem precedentes: a evasão de profissionais. Em apenas uma década, mais de 5 mil militares deixaram as fileiras, um número alarmante que coloca em risco a segurança nacional e a capacidade de resposta do país. A principal causa desse êxodo em massa é a insatisfação com as condições de trabalho e a remuneração, segundo levantamento exclusivo da CNN Brasil.
Motivos do êxodo
Jornadas exaustivas, perda de benefícios após a reforma da Previdência de 2019, salários defasados em comparação com outras carreiras e a perspectiva de novas reduções nos direitos trabalhistas estão empurrando os militares para a porta de saída. “A evasão tem sido verificada especialmente nos quadros de Médicos, Engenheiros e Fuzileiros Navais, que têm migrado para outras carreiras que oferecem salários mais atrativos”, admite a Marinha em nota.
O Exército, por sua vez, reconhece a gravidade do problema e alerta para a necessidade de tornar a carreira mais atrativa. “É importante que a carreira seja atrativa, em relação ao salário e à Proteção Social, a fim de que sejam conquistados e mantidos talentos do mais alto nível”, afirma a instituição em comunicado. No entanto, a Força Aérea Brasileira (FAB) se recusou a comentar os dados sobre a evasão.

Fontes internas, porém, confirmam que os problemas também impactam a Aeronáutica. Imagens de ex-pilotos da FAB contratados pela Latam circularam em grupos militares, evidenciando a crise.
Relatos de decepção
Os relatos de militares que deixaram as Forças Armadas corroboram a tese de que as condições de trabalho são insustentáveis.
É o caso de Vitória Carvalho, ex-controladora de voo, que descreve um cenário de “burnout” e “cargas muito pesadas”. “Perder a minha saúde, perder a minha liberdade, não vale a pena. Hoje, muitas pessoas estão se desvinculando das Forças Armadas justamente por encontrar muito mais atrativos fora da caserna”, afirma.
Outro exemplo é Acássia Diniz (ex-piloto), que trocou 11 anos de carreira na FAB pela faculdade de Medicina. “O regime militar exige muitas renúncias. Talvez, se não tivesse a reforma de 2019, eu tivesse aguardado mais para sair”, declarou.
Debate em curso
O Ministério da Fazenda planeja novas medidas para reduzir custos com aposentadorias e a manutenção da tropa. Apesar das vantagens, como aposentadoria integral e auxílio-saúde, os militares argumentam que faltam direitos trabalhistas básicos, como FGTS e adicionais por periculosidade ou insalubridade.
Enquanto isso, o êxodo de profissionais qualificados levanta questões sobre a sustentabilidade das Forças Armadas. “É um alerta. Precisamos de condições mais justas para manter nossos talentos”, conclui a Marinha.