No site do Clube Militar, o general Marco Aurélio Vieira publicou, no dia 2, um artigo inflamado em defesa de generais presos sob acusação de tentativa de golpe de Estado. O militar criticou desde o presidente da República, o Congresso Nacional e o STF até a OAB, a CNBB e a sociedade brasileira. Em tom duro, denunciou “a omissão da sociedade e a falta de entendimento da responsabilidade dos agentes públicos”, além do que chamou de “indesculpável tendenciosidade da imprensa”.
A metáfora de Pilatos
No texto intitulado “Lavando as mãos”, Vieira evoca o episódio bíblico de Pôncio Pilatos lavando as mãos diante da crucificação de Jesus Cristo para criticar a postura dos atores públicos e instituições brasileiras. Segundo ele, todos optaram por se eximir de responsabilidade frente ao que classificou como “abusos” e “perversidades” cometidos em nome da democracia.
“A metafórica lavagem das mãos é válida para o Presidente da República, o Congresso, o Superior Tribunal Militar, as Forças Armadas, a OAB, os operadores do Direito, a CNBB, a sociedade brasileira dos homens de bem: todos escolheram ‘lavar as mãos’ para os últimos absurdos jurídicos acontecidos no País”, escreveu o general.

Críticas à ‘juristocracia’
Vieira não poupou o Supremo Tribunal Federal (STF), que acusou de promover uma “indisfarçável perseguição política” contra os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em sua análise, inquéritos e condenações recentes se basearam em “cogitações de crimes” e evidenciaram o que chamou de “prestidigitação jurídica disfarçada de justiça”.
“Inquéritos sem transparência ou fim; condenações sem crimes prescritos; prisões baseadas em presunções; penas desproporcionais aos crimes cometidos; distinção de tratamento por viés ideológico… Todas essas barbaridades têm sido cometidas com a cumplicidade surda e muda não só dos demais integrantes da Corte, mas também da imprensa, da Academia e de toda a classe intelectual”, denunciou.
A prisão dos generais
O estopim da manifestação de Vieira foi a prisão de oficiais do Exército, incluindo dois generais, acusados de tentativa de golpe de Estado. Para o militar, as acusações são infundadas e carecem de provas concretas após dois anos de investigação. Ele argumenta que os fatos apresentados não configuram sequer os elementos mínimos de um golpe.
“Inacreditavelmente, prevalece a fábula de um golpe que teria sido desencadeado em um fim de semana, sem liderança, tropa ou armamentos capazes de garantir a violência organizada mínima necessária à ‘tomada do poder’”, ironizou.
Alerta à democracia
Vieira encerrou o texto com um alerta sobre os rumos da democracia no Brasil. Ele acusa as instituições de desrespeitarem o devido processo legal e de serem coniventes com injustiças sob o pretexto de defenderem o regime democrático.
“Decisões judiciais não são escolhas; necessitam de critérios. E não há governo – ou justiça – se a lei não é obedecida”, escreveu. E concluiu com uma crítica severa: “Estamos lavando as mãos para a morte da nossa democracia”.