Por décadas, o Exército acreditou que apenas 202 brasileiros haviam recebido treinamento de guerrilha em Cuba entre 1965 e 1971. Mas documentos secretos recém-desclassificados dos Arquivos JFK, liberados por ordem de Donald Trump, mudam completamente essa narrativa histórica.
Conforme artigo publicado na Revista Sociedade Militar, um relatório confidencial da CIA, datado de 1963, afirma que cerca de 400 brasileiros viajaram legalmente para Cuba em 1962, bem antes do golpe de 1964, para receber treinamento em guerrilha. A informação desmente a versão que o próprio Exército brasileiro divulgou em um documento de 1972, revelado pela Folha de São Paulo.
Treinamento antes da ditadura
De acordo com os arquivos, os militantes brasileiros não estavam foragidos,, como se costuma pensar, ou em fuga do regime militar, mas saíram do país de maneira regular. “Aproximadamente 400 cidadãos brasileiros viajaram legalmente para Cuba em 1962, e outros 24 nos dois primeiros meses de 1963”, revela o memorando da CIA.

Segundo revelado, militantes que viajaram à Cuba “participaram de um programa estruturado que incluía um curso de 11 meses em política geral e depois três meses específicos para o Brasil”. O dado derruba a tese de que a radicalização armada só teria ocorrido após o endurecimento do regime militar.
Rede de guerrilha no Brasil
O relatório americano revela ainda algo mais grave: os treinados tinham como missão estruturar campos de guerrilha no Brasil antes mesmo do golpe. “Pelo menos seis desses campos foram estabelecidos, cada um com 30 homens e um líder treinado em Cuba”, aponta o documento da CIA.
Essa operação, segundo os Arquivos JFK, foi conduzida sob liderança de membros das Ligas Camponesas e do Partido Comunista Brasileiro. Nomes como Clodomir dos Santos Morais, “número dois das Ligas Camponesas”, e Florentino Alcantara de Moraes, líder do PCB em Pernambuco, foram identificados.

Exército subestimou os números
Enquanto isso, um álbum confidencial do Exército de 1972, revelado pela Folha de São Paulo, afirmava que Cuba treinou 202 brasileiros entre 1965 e 1971, após o golpe militar. O documento, distribuído aos órgãos de repressão, listava nove turmas de militantes, incluindo nomes como José Dirceu, Fernando Gabeira e Carlos Minc.
O material descrevia cursos que iam de guerrilha rural a explosivos, mas agora sabe-se que o número de brasileiros treinados era pelo menos o dobro e começou bem antes de 1964.
Operação continental revelada
Os documentos liberados por ordem do presidente Trump em março de 2025 revelam ainda uma operação continental coordenada por Cuba, não limitada ao Brasil.
A rede abrangia Argentina, Colômbia, República Dominicana, Chile e diversos outros países latino-americanos, evidenciando o alcance da influência cubana durante a Guerra Fria.
As informações agora disponíveis nos Arquivos Nacionais dos EUA podem alterar significativamente a compreensão das motivações e circunstâncias que levaram à deposição do presidente João Goulart.