O Exército do Sudão anunciou nesta sexta-feira (21) que retomou o controle total do palácio presidencial em Cartum, capital do país. A conquista representa uma vitória simbólica de grande importância na guerra civil contra o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), conflito que já dura dois anos e mergulha o país em uma grave crise humanitária.
Segundo comunicado do Exército, a operação marcou um avanço significativo após meses de dificuldades nas frentes de batalha. O local foi retomado com combates intensos, e imagens divulgadas mostram soldados comemorando no interior do palácio, que teve vidraças estilhaçadas e suas paredes marcadas por tiros. A estrutura externa do edifício também foi danificada por explosões.
Mesmo com a declaração do Exército, a RSF afirmou que ainda mantém presença nos arredores do palácio e que teria lançado um ataque matando dezenas de soldados e três jornalistas estatais. Fontes militares informaram que os combatentes paramilitares estariam a cerca de 400 metros da sede presidencial e usaram drones no contra-ataque.
Conflito se intensifica com avanço militar e resistência dos paramilitares
Desde o início da guerra em abril de 2023, quando as RSF tomaram Cartum, o controle da capital tem sido um dos principais focos da disputa. A RSF, liderada por Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemedti, tenta estabelecer um governo paralelo nas regiões do oeste do país, embora sem reconhecimento internacional. No entanto, especialistas afirmam que o domínio da RSF na capital está mais frágil do que nunca.
Moradores locais celebraram a retomada do palácio pelas forças armadas. “A libertação do palácio é a melhor notícia que ouvi desde o início da guerra”, disse Mohamed Ibrahim, de 55 anos, morador da cidade. “Queremos voltar a viver sem medo nem fome”, completou. Ainda assim, combates foram registrados em outros pontos da capital durante a sexta-feira.
Em paralelo, a RSF informou na quinta-feira (20) que havia capturado uma base militar estratégica no estado de Darfur do Norte, região onde o grupo mantém forte influência. Os combates acirrados entre as duas forças armadas têm aprofundado o sofrimento da população sudanesa, já afetada por fome, doenças e deslocamento forçado.
Crise humanitária se agrava e país caminha para possível partição
A informação foi divulgada por Reuters, que acompanha os desdobramentos da guerra e destaca que o conflito já causou a maior crise humanitária do mundo, segundo a Organização das Nações Unidas. Estima-se que mais de 50 milhões de pessoas estejam impactadas diretamente pelos efeitos da guerra.
O conflito teve início após divergências sobre a integração das forças paramilitares ao Exército nacional. Ambos os grupos haviam atuado juntos na queda do ex-presidente Omar al-Bashir em 2019, mas disputas de poder levaram ao confronto atual, ameaçando dividir o Sudão em dois territórios de fato distintos.