Durante a Guerra Fria, em plena corrida armamentista entre Estados Unidos e União Soviética, os soviéticos revelaram ao mundo um dos projetos navais mais ousados e avançados da história: o submarino nuclear da classe Alfa, construído com casco de titânio e equipado com um reator de resfriamento por metal líquido, capaz de operar em velocidades e profundidades nunca antes vistas. Lançado em 1971, o projeto 705 Lira, como era conhecido oficialmente, foi concebido com o objetivo estratégico de superar as capacidades dos submarinos da OTAN e garantir vantagem tecnológica na guerra submarina.
O Alfa-Class, como ficou conhecido no Ocidente, foi projetado para atingir mais de 40 nós de velocidade submersa e operar a profundidades regulares de 350 metros, com capacidade de resistir a pressões de até 1.300 metros de profundidade. O seu casco duplo, com estrutura interna resistente à pressão e cobertura externa com design hidrodinâmico, foi construído em liga de titânio, material altamente resistente à corrosão marítima, leve e extremamente forte — características que contribuíram para sua fama de “caçador” submarino quase inatingível.
Com tripulação mínima e dotado de armas como torpedos, mísseis de cruzeiro e minas, o submarino soviético Alfa-Class foi projetado para ser um interceptador de elite. Ele poderia permanecer em patrulhas estratégicas e, quando necessário, avançar em altíssima velocidade para interceptar embarcações inimigas. Sua função primordial era garantir que nenhum navio ou submarino da OTAN navegasse sem ser detectado ou perseguido.
Avanço tecnológico extremo foi resposta direta à corrida armamentista da Guerra Fria
O desenvolvimento da classe Alfa teve início ainda em 1957, quando os soviéticos buscaram criar um submarino que pudesse superar qualquer embarcação inimiga em velocidade, furtividade e profundidade operacional. Na época, a disputa entre EUA e URSS se manifestava não só na corrida espacial, mas também no desenvolvimento de tecnologias militares, como mísseis, caças, tanques e submarinos nucleares.
A seleção do titânio como material principal do casco foi um marco na engenharia naval. Com baixa densidade, alta resistência e propriedades anticorrosivas, o metal prometia vantagens claras para a construção de submarinos mais leves, rápidos e resistentes. Contudo, os primeiros testes com o casco revelaram desafios complexos, como rachaduras estruturais. O primeiro protótipo precisou ser desativado. Apenas após avanços na soldagem e na metalurgia, o problema foi solucionado, permitindo que as demais unidades operassem com sucesso.
O sistema de propulsão também foi inovador. Os soviéticos utilizaram um reator nuclear resfriado com uma liga metálica de chumbo e bismuto, moderado por berílio. Essa configuração permitia que o reator fosse mais compacto, leve e eficiente do que os reatores convencionais com água pressurizada. Além disso, o reator não precisava de reabastecimento ao longo da vida útil do submarino, reduzindo riscos e custos operacionais.
Velocidade superior a 40 nós e profundidade operacional extrema tornaram Alfa praticamente indetectável
Com 81 metros de comprimento, 9,5 metros de boca e 7,6 metros de calado, o submarino deslocava cerca de 2.300 toneladas na superfície e até 3.200 toneladas submerso. Seu desempenho impressionante incluía velocidades superiores a 40 nós — marca só superada por outro submarino soviético, o K-222. Esses números eram suficientes para deixar qualquer embarcação da OTAN em desvantagem.
A profundidade de operação também era um diferencial. O Alfa-Class podia operar com segurança a 350 metros abaixo da superfície, mas sua estrutura permitia resistir a pressões equivalentes a mais de 1.300 metros de profundidade. Isso o tornava uma ameaça praticamente invisível aos radares e sonares da época, dificultando qualquer tentativa de localização ou perseguição por parte das forças ocidentais.
Apesar das vantagens técnicas, o submarino também apresentava limitações. A complexidade de manutenção do reator de metal líquido, o alto custo da liga de titânio e a dificuldade de fabricação limitaram sua produção. No total, apenas sete unidades foram construídas, sendo que a última foi descomissionada em 1996.
Submarino foi símbolo da engenharia soviética, mas sua produção foi interrompida por alto custo e desafios operacionais
O Alfa-Class foi considerado por muitos especialistas como uma vitrine tecnológica da engenharia soviética. Representava a tentativa do país de criar o submarino perfeito, combinando velocidade, resistência, armamento e tecnologia de ponta. No entanto, essa perfeição teórica esbarrou em dificuldades práticas. O custo exorbitante para trabalhar com titânio, aliado à complexidade de operar um reator nuclear de metal líquido, tornava sua operação pouco viável em larga escala.
Outro fator que pesou foi o colapso da União Soviética nos anos 1990, que reduziu drasticamente os investimentos em defesa. As sete unidades construídas tiveram vida útil limitada, com a maioria sendo retirada de serviço entre o fim dos anos 1980 e início dos anos 1990. Apenas uma permaneceu ativa até 1996.
Ainda assim, o legado da classe Alfa permanece vivo. Ela serviu de base conceitual e tecnológica para projetos posteriores, e influenciou inclusive o desenvolvimento de submarinos em países ocidentais. Sua construção em titânio e uso de reator de metal líquido ainda são considerados feitos de engenharia de altíssimo nível.
Referência até hoje, Alfa-Class influenciou projetos futuros e mantém status de lenda na engenharia naval
Hoje, mais de cinco décadas após seu lançamento, o submarino Alfa-Class continua a ser citado como exemplo de inovação extrema na indústria bélica naval. Seu desempenho e capacidades superaram, em muitos aspectos, tudo o que existia na época. Ele ainda é lembrado como um dos submarinos militares mais avançados já construídos, apesar do número limitado de unidades.
A sua história mostra como, em tempos de tensão geopolítica, nações podem avançar tecnologicamente de maneira exponencial. O projeto 705 Lira não apenas representou uma vitória temporária para a engenharia soviética na Guerra Fria, como também ajudou a definir novos parâmetros para o que é possível em termos de design submarino.
A informação foi divulgada por Harrison Kass, em artigo publicado no site The National Interest, onde ele detalha as características e o contexto histórico do submarino Alfa-Class, baseado em fontes públicas e imagens de uso livre.