Nesta terça-feira, 25 de fevereiro, o ex-presidente Donald Trump e o líder ucraniano Volodymyr Zelensky anunciaram um acordo polêmico que envolve a exploração dos recursos minerais da Ucrânia. O pacto prevê que parte da receita gerada pela extração de minérios estratégicos será destinada aos Estados Unidos, em troca de investimentos americanos na Ucrânia. No entanto, o acordo não inclui garantias explícitas de apoio militar contínuo, levantando sérias dúvidas sobre o impacto dessa decisão no esforço defensivo ucraniano.
Interesses estratégicos dos EUA nos recursos minerais da Ucrânia
Os Estados Unidos têm grande interesse nos minerais ucranianos devido à sua importância para setores como defesa, tecnologia e energia renovável. Minérios como titânio, lítio e terras raras são essenciais para a fabricação de armamentos, baterias avançadas e semicondutores. Atualmente, a China domina a cadeia global de fornecimento e processamento desses materiais, o que levou Washington a buscar novas fontes para reduzir sua dependência de Pequim.
A Ucrânia possui reservas significativas de pelo menos 20 dos 50 minerais considerados críticos pelos EUA. No entanto, cerca de 30% dessas jazidas estão em territórios ocupados pela Rússia, tornando sua exploração incerta. Além disso, muitos desses depósitos nunca foram explorados comercialmente, o que demandaria bilhões de dólares em investimentos para viabilizar sua extração.
Um acordo com poucas garantias para Kiev
Embora o pacto seja visto como uma grande oportunidade econômica por Trump, a Ucrânia enfrenta dificuldades para garantir benefícios imediatos. Inicialmente, Washington propôs que Kiev compensasse os EUA com direitos sobre US$ 500 bilhões em minerais, proposta rejeitada por Zelensky, que classificou a medida como uma venda do país.
Diante da resistência ucraniana, Trump endureceu sua posição, evitando classificar a Rússia como agressora e chamando Zelensky de “ditador”. Pressionado, o governo ucraniano aceitou uma versão revisada do acordo, onde os EUA manterão um fundo de investimentos sob seu controle, com parte dos lucros oriundos da exploração mineral ucraniana.
Contudo, o maior ponto de atrito nas negociações foi a falta de garantias de apoio militar. Zelensky esperava que a concessão dos minerais viesse acompanhada de um compromisso formal dos EUA para continuar fornecendo armamentos e assistência bélica, algo que Trump se recusou a garantir. A Casa Branca argumenta que os investimentos americanos por si só já funcionariam como um fator de dissuasão contra novas agressões russas.
Impacto no esforço de guerra da Ucrânia
Desde o início da guerra, os Estados Unidos já destinaram cerca de US$ 100 bilhões em auxílio à Ucrânia, sendo aproximadamente US$ 70 bilhões em equipamentos militares. Porém, Trump tem sinalizado uma redução drástica desse apoio, o que pode enfraquecer significativamente a capacidade defensiva de Kiev.
Analistas apontam que, sem novas remessas de armamentos, a Ucrânia pode enfrentar sérias dificuldades a partir do segundo semestre deste ano. O ex-presidente americano tem se aproximado das narrativas do Kremlin, chegando a afirmar que Zelensky seria um ditador e que a Ucrânia teria sido responsável pelo início da guerra. Além disso, Washington já iniciou conversas diretas com Moscou sobre um possível cessar-fogo, sem envolver Kiev ou a Europa.
A Ucrânia está em desvantagem em comparação com os EUA?
O acordo coloca a Ucrânia em uma posição delicada. Enquanto os Estados Unidos garantem acesso a minerais estratégicos, Kiev não recebe garantias de segurança. Além disso, os lucros da exploração mineral só devem começar a ser sentidos no país dentro de cinco ou seis anos, tempo que a Ucrânia pode não ter caso o apoio militar americano seja cortado.
Outro fator preocupante é a possibilidade de Trump negociar não apenas com Kiev, mas também diretamente com Putin, explorando minérios em territórios ucranianos ocupados pela Rússia. Essa manobra poderia enfraquecer ainda mais a posição da Ucrânia, deixando o país sem alternativas para garantir sua soberania.
Diante desse cenário, os aliados europeus já discutem maneiras de preencher a lacuna deixada pelos EUA. No entanto, sem o mesmo nível de recursos e influência de Washington, a Europa pode ter dificuldades para manter o mesmo fluxo de assistência militar que a Ucrânia precisa para resistir à ofensiva russa.