Durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto as nações combatiam o nazifascismo, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) cruzava o Atlântico para lutar na Itália, levando não apenas armamentos, mas também um exemplo poderoso de integração racial.
A Força Expedicionária Brasileira (FEB) ajudou a pavimentar o caminho para a abolição do racismo institucional nas Forças Armadas dos Estados Unidos.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a composição multiétnica da tropa brasileira (composta de “brasileiros de todas as origens, oriundos de todo o Brasil”) impressionou a imprensa afro-americana, chegando a ser descrita pelo The Pittsburgh Courier como um exemplo de “total inconsciência e desconhecimento de quaisquer diferenças raciais”.
Essa realidade contrastava fortemente com o sistema segregacionista do Exército dos EUA e contribuiu para a luta por igualdade racial.

O contraste entre Brasil e EUA na Segunda Guerra Mundial
Enquanto os Estados Unidos segregavam suas tropas, com unidades exclusivas para negros e descendentes de japoneses sob comando de oficiais brancos, a FEB operava de forma integrada.
“A tropa brasileira era formada por descendentes de brancos, negros, indígenas, asiáticos, árabes, judeus e mestiços de todos os tons de pele imagináveis“, escreveu Dennison de Oliveira no HOJE PR, com base em um estudo publicado na Revista Esboços por Uri Rosenheck, professora de História da Coastal Carolina University.
Nos Estados Unidos, soldados afro-americanos eram relegados a unidades segregadas, como a 92ª Divisão de Infantaria, os Buffalo Soldiers. Na FEB, não havia distinção racial no acesso a cargos e funções. Esse modelo, sem precedentes entre os Aliados, chamou atenção da imprensa afro-americana, que o usou como argumento para pressionar o governo dos EUA pelo fim da segregação militar.
A FEB e o impacto na imprensa afro-americana
Jornais como People’s Voice, The Afro-American e New York Amsterdam News passaram a cobrir a FEB como exemplo de “democracia racial”. O People’s Voice destacou, em julho de 1944, que os desfiles da FEB antes do embarque para a Itália mostravam uma unidade multiétnica operando sem conflitos raciais. O New York Amsterdam News publicou uma foto de soldados brasileiros e questionou: “Por que negros e brancos lutam juntos pelo Brasil, mas não pelos EUA?”.
O impacto foi tão grande que, ainda durante a guerra, o Congresso dos EUA enviou uma comissão para estudar a FEB. “A tropa brasileira passou a ser usada como modelo para a futura abolição do racismo institucional nas Forças Armadas dos EUA”, destacou Oliveira no HOJE PR.
A ordem executiva de Harry Truman
A pressão política e midiática gerada pelo exemplo da FEB ajudou a impulsionar mudanças significativas.
Em 26 de julho de 1948, o presidente Harry S. Truman assinou a Ordem Executiva 9981, que proibiu a segregação racial nas Forças Armadas dos EUA. “Foi uma conquista de décadas de luta dos ativistas pelos direitos civis, mas o modelo da FEB foi um dos argumentos mais fortes utilizados”, ressaltou Oliveira.
Buffalo Soldiers: da história à música de Bob Marley
A história dos Buffalo Soldiers, combatentes afro-americanos segregados pelo Exército dos EUA, ficou imortalizada na canção Buffalo Soldier, de Bob Marley. A música traça um paralelo entre a luta desses soldados e a resistência da diáspora africana.
“Fighting on arrival, fighting for survival” (“Lutando ao chegar, lutando pela sobrevivência”) ecoa a dupla batalha desses soldados: contra o inimigo externo e o racismo interno. A FEB, ao contrário, representava uma rara exceção nessa história. Enquanto a FEB mostrava ao mundo um exemplo de convivência multiétnica, os Buffalo Soldiers continuavam marginalizados em seu próprio país.
O legado da FEB
A história da FEB é um capítulo essencial na luta global contra o racismo. Ao demonstrar na prática que a igualdade racial era possível, a tropa brasileira influenciou decisões que ajudaram a desmantelar a segregação racial no Exército dos EUA. “A FEB foi uma das peças que ajudaram a mudar o jogo da luta antirracista nas instituições militares”, concluiu Oliveira.
Fonte e Referência
Baseado no artigo de Uri Rosenheck, “Verde-oliva em preto e branco: a Força Expedicionária Brasileira, o exército dos EUA, e identidade nacional racial”, publicado na Revista Esboços, e na coluna de Dennison de Oliveira no jornal Hoje PR.