Com ameaças globais cada vez mais evidentes e a ascensão de uma nova era geopolítica, surge uma pergunta inevitável: o Brasil teria condições reais de se defender em caso de guerra?
Diante de um mundo cada vez mais instável, onde alianças políticas se desmancham e potências militares ressurgem com força total, a segurança nacional tornou-se um tema urgente.
Enquanto os olhos do mundo se voltam para os conflitos internacionais, como o da Ucrânia, o Brasil precisa encarar um fato preocupante: estamos muito atrás na corrida pela modernização militar.
A ameaça invisível e a nova lógica da guerra
Donald Trump voltou ao centro das atenções globais com declarações provocativas sobre o Panamá e a Groenlândia, reacendendo alertas em todo o hemisfério.
Especialistas alertam que essas falas não são apenas retórica diplomática ou blefes estratégicos, mas sim parte de uma nova doutrina global baseada na chamada “lei da selva”, expressão popularizada por Ian Bremmer para descrever o colapso da ordem internacional liberal e a ascensão de uma era onde os mais fortes impõem suas vontades enquanto os mais fracos se adaptam ou perecem.
Nesse novo cenário, o Brasil precisa se perguntar: temos condições de defender nossos próprios interesses?
O exemplo ucraniano e a lição ignorada
A resposta parece se desenhar com clareza quando observamos o caso da Ucrânia.
Mesmo diante da força esmagadora da Rússia, os ucranianos conseguiram resistir e infligir perdas significativas ao inimigo.
Mas isso não foi fruto apenas do armamento estrangeiro, como o apoio dos Estados Unidos e do Reino Unido. A verdadeira virada de jogo veio com uma profunda transformação nas estruturas de comando e doutrina militar.
A Ucrânia abandonou a mentalidade de forças isoladas e investiu em um projeto unificado de defesa.
A peça-chave dessa revolução militar foi a criação de um Estado-Maior Conjunto (EMC) com poderes reais, capaz de reorganizar estratégias, adaptar doutrinas e integrar tecnologias como drones aquáticos — que, surpreendentemente, permitiram à Ucrânia, mesmo sem uma Marinha significativa, afundar quase metade da frota russa no Mar Negro.
O verdadeiro campo de batalha é invisível
As grandes vitórias da Ucrânia não se limitaram aos confrontos armados. Elas aconteceram, sobretudo, nos bastidores da guerra: nos centros de comando, nas salas de inteligência e nas operações de controle logístico.
Essa combinação é conhecida como “consciência situacional”: a capacidade de interpretar o ambiente, prever movimentos inimigos e tomar decisões certeiras em tempo real.
Trata-se de uma competência vital, construída sobre sistemas de informação, análise climática, perfis das forças oponentes e — principalmente — inteligência militar de alto nível.
Quando os Estados Unidos interromperam esse fluxo de dados à Ucrânia, Kiev se viu obrigada a aceitar negociações com Moscou.
Esse episódio escancara o peso da inteligência no campo de batalha moderno.
E o Brasil? A dura realidade que ninguém quer admitir
Infelizmente, o Brasil está longe de possuir essa capacidade.
De acordo com análises de especialistas em defesa, as Forças Armadas brasileiras não estão preparadas para enfrentar uma guerra moderna.
O diagnóstico é alarmante: falta ação conjunta, capacidade de comando unificado e, sobretudo, uma base industrial de defesa autônoma.
O Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), criado para integrar os três ramos — Exército, Marinha e Aeronáutica — não possui a mesma autoridade de suas versões em países como Estados Unidos, Reino Unido ou França.
Na prática, cada força atua com relativa independência, o que compromete a capacidade de resposta unificada em um cenário de conflito real.
Além disso, o Brasil é altamente dependente de equipamentos importados, especialmente dos Estados Unidos e da Europa, o que compromete sua autonomia em situações críticas.
E sem consciência situacional própria, nossas Forças sequer teriam clareza sobre o que atacar, onde ou como reagir.
Uma escolha urgente: modernizar ou pagar o preço
Diante desse cenário, resta apenas uma saída: reformar urgentemente a estrutura de defesa nacional.
A transformação das Forças Armadas não é uma escolha ideológica, mas uma necessidade estratégica.
Segundo especialistas, países democráticos e desenvolvidos só alcançaram eficiência militar depois de passarem por reformas estruturais profundas.
Se essa mudança não for feita agora — com planejamento e debate político —, o risco é que ela venha após uma derrota militar, o que custaria muito mais caro.
Além das vidas humanas, estaria em jogo a soberania nacional, a integridade territorial e o futuro do país.
E, como costuma ocorrer em tragédias anunciadas, só depois que a porta é arrombada é que se pensa em colocar a tranca.