Em um dos momentos mais decisivos para o setor de defesa brasileiro na última década, a Força Aérea Brasileira está prestes a definir qual será seu segundo caça de combate para operar ao lado do Gripen.
A decisão, longe de ser apenas técnica, envolve interesses geopolíticos, parcerias estratégicas e bilhões de reais em investimentos industriais.
Segundo informações do canal ”Radar Militar”, a disputa atraiu sete candidatos de diferentes continentes, cada um com promessas únicas de transferência de tecnologia, cooperação industrial e, claro, poder de fogo.
França aposta no Rafale para fortalecer laços
O Rafale, da Dassault Aviation, é um velho conhecido da FAB e já foi oferecido diversas vezes, inclusive em eventos como a AAD Defense and Security no Rio.
A proposta francesa é robusta: envolve transferência de tecnologia, montagem parcial da aeronave no Brasil e forte parceria industrial.
O Rafale é um caça multifunção de quarta geração avançada.
Realiza missões ar-ar, ar-terra e reconhecimento com precisão.
Tem radar AESA RBE2, suíte de guerra eletrônica Spectra e autonomia superior à maioria dos caças da mesma classe.
Seu desempenho foi testado em conflitos reais no Afeganistão, Líbia, Síria e no Sahel africano.
O histórico de exportações bem-sucedidas, como para Índia, Grécia e Egito, pesa a favor da proposta francesa.
Índia oferece o Tejas com foco em custo e parceria estratégica
A Índia apresentou o Tejas, um caça leve fabricado pela HAL (Hindustan Aeronautics Limited), durante a LAAD 2023.
O país propõe um pacote de cooperação que inclui montagem local, treinamento e manutenção.
O Tejas é um monomotor de quarta geração com célula compacta, radar multimodo e sistema fly-by-wire digital.
É voltado para missões de policiamento aéreo, interdição e ataque leve.
Apesar de menor poder de fogo que o Rafale, tem baixo custo operacional e alta taxa de disponibilidade.
A aliança estratégica com a Índia também pode fortalecer a posição do Brasil nos BRICS e fóruns multilaterais.
Itália aposta no M-346 FA como solução econômica
A Itália entrou na disputa com o M-346 FA, variante armada do treinador M-346 Master, fabricado pela Leonardo.
A proposta foi reforçada durante visitas de delegações italianas em 2024.
O modelo visa oferecer uma aeronave de baixo custo para missões de ataque leve e reconhecimento.
O M-346 FA vem com radar Grifo, pode carregar até 2 toneladas de armamento e tem manutenção simplificada.
Seu custo por hora de voo é inferior ao de caças pesados, tornando-o ideal para missões secundárias ou em cenários de baixa intensidade.
Na FAB, ele poderia substituir parte dos AMX e dos Super Tucano em missões mais exigentes.
Estados Unidos oferecem o confiável F-16
A proposta americana envolve o F-16 nas versões Block 70 e 72.
O caça já é operado por mais de 25 países e possui uma rede logística global estabelecida.
O F-16 traz radar AESA AN/APG-83, cockpit digital, estrutura reforçada e modernos sistemas de guerra eletrônica.
É ágil, versátil e apresenta boa relação custo-benefício.
No entanto, não representa um avanço tecnológico significativo em relação ao Gripen.
Ainda assim, a proposta é bem-vista por setores da FAB interessados em estreitar laços com os EUA e a OTAN.
China busca espaço com o moderno J-10
O J-10, produzido pela Chengdu Aircraft Corporation, foi apresentado de forma indireta por meio de canais diplomáticos.
A China demonstra interesse em ampliar sua presença na América do Sul e aposta no J-10 como porta de entrada.
O caça possui radar AESA, versões com vetoração de empuxo e integração com mísseis PL-15.
Embora tenha tecnologia avançada, a escolha de um caça chinês poderia causar ruídos nas relações com EUA e Europa, impactando acordos estratégicos.
Tecnicamente, o J-10 é comparável ao F-16, com melhorias em alcance e sensoriamento.
Paquistão surpreende com o JF-17 Thunder
Durante a LAAD 2025, o Paquistão apresentou oficialmente o JF-17 Thunder, desenvolvido em parceria com a China.
A proposta chama atenção pelo baixo custo e pela viabilidade operacional comprovada.
O JF-17 possui radar AESA, cockpit digital e é capaz de carregar mísseis ar-ar, ar-terra e armamentos guiados.
Já está em uso por países como Nigéria, Mianmar e Argélia.
Embora tecnicamente inferior a modelos como o Rafale ou F-16, pode atender a missões táticas e de policiamento aéreo com eficiência.
Turquia apresenta o furtivo Kaan
O mais novo concorrente é o Kaan, caça de quinta geração da Turkish Aerospace Industries, ainda em desenvolvimento.
A proposta turca é ousada: convida o Brasil a participar como parceiro no projeto ou como comprador inicial.
O Kaan terá radar AESA, fusão de sensores, compartimentos internos de armas e vetoração de empuxo.
Suas capacidades são comparadas ao F-35.
O risco está na falta de maturidade do projeto e nos possíveis entraves diplomáticos entre Turquia, OTAN e EUA.
Se confirmado, pode representar um salto tecnológico para a FAB.
Decisão técnica ou geopolítica?
A escolha do novo caça da FAB vai muito além da análise técnica.
Cada proposta traz consigo alianças, riscos e oportunidades.
França, Índia, Itália, Estados Unidos, China, Paquistão ou Turquia: cada país oferece mais que um avião.
Oferecem parcerias, acesso a tecnologias, influência internacional e novos rumos para a defesa aérea brasileira.
A decisão pode moldar o futuro militar, diplomático e industrial do Brasil nas próximas décadas.