Em sua edição de 15 de maio, a revista Diálogo Américas — publicação oficial do Comando Sul dos Estados Unidos — destacou o Brasil como o principal aliado preferencial extra-OTAN nas Américas, reforçando o status de Major Non-NATO Ally (MNNA), concedido ao país desde 2019. A matéria, publicada sem a assinatura de um jornalista específico, sugere tratar-se de um artigo editorial ou institucional, possivelmente encomendado com o objetivo de reforçar os laços entre as Forças Armadas dos dois países em um momento de crescente cooperação técnica e estratégica.
A publicação ressalta a estabilidade e continuidade da parceria entre os militares do Brasil e dos Estados Unidos, independentemente de mudanças nos governos civis. A relação, que vem sendo intensificada desde o fim da década passada, manteve seu curso tanto sob a presidência de Donald Trump quanto sob o atual governo Lula, evidenciando que a cooperação em defesa segue uma lógica institucional própria, guiada por interesses militar – estratégicos e operacionais duradouros.
A designação de Aliado Preferencial de nível 22USC §2321K só foi concedida para 19 países no planeta e proporciona algumas oportunidades e vantagens ligadas a questões militares, entre elas:
- Oportunidade de receber empréstimos de materiais, suprimentos ou equipamentos para fins de pesquisa cooperativa, desenvolvimento, testes ou avaliação.
- Elegível como local para que Estoques de Reserva de Guerra de propriedade dos EUA sejam colocados em seu território fora das instalações militares dos EUA.
- Têm oportunidade de celebrar acordos com os EUA para o fornecimento de treinamento em bases bilaterais ou multilaterais, se os acordos financeiros forem recíprocos e preverem o reembolso de todos os custos diretos dos EUA.
- Elegível, na medida máxima possível, para entrega prioritária de Artigos de Defesa Excedentes transferidos sob a seção 516 da Lei de Assistência Estrangeira (se localizado no flanco sul ou sudeste da OTAN).
- Elegível para consideração de compra de munição de urânio empobrecido.
Cooperação técnica e fortalecimento institucional de quem é aliado preferencial
No início de abril, o Distrito Federal sediou um Subject Matter Expert Exchange (SMEE) em defesa cibernética, reunindo militares e especialistas dos dois países. A Força Aérea Brasileira, organizadora do evento, ressaltou que a atividade é uma oportunidade para “capacitação, atualização técnica e fortalecimento dos laços entre as instituições militares”.
Esse tipo de intercâmbio tem sido constante e cobre diversas áreas de interesse comum, como segurança marítima, combate ao tráfico de drogas e de pessoas, preservação ambiental, defesa espacial e promoção dos direitos humanos. Segundo o Departamento de Defesa dos EUA, a relação com o Brasil se baseia em “confiança mútua e alinhamento de valores democráticos”.
CORE e Operações Combinadas
Desde 2021, os exercícios CORE (Combined Operation and Rotation Exercise) têm aprofundado a interoperabilidade entre as forças armadas dos dois países. Em 2023, o treinamento ocorreu na Amazônia brasileira com cerca de 1.500 militares. No ano seguinte, a operação foi realizada em Fort Johnson, na Louisiana, com foco em doutrina conjunta e integração de tropas.
Outro marco importante foi a Operação Southern Seas 2024, em que a Marinha do Brasil e a dos EUA, junto à Guarda Costeira americana, realizaram exercícios no litoral fluminense. O evento, que marcou os 200 anos das relações diplomáticas Brasil-EUA, incluiu a visita do porta-aviões USS George Washington ao porto do Rio de Janeiro.
Inteligência contra o crime organizado
No campo da segurança pública, um Memorando de Entendimento foi firmado em abril entre a Polícia Federal e o Departamento de Investigações de Segurança Interna dos EUA, para o compartilhamento de informações sobre grupos criminosos e terroristas. “Apenas neste ano, nossa cooperação levou à prisão de dezenas de criminosos”, afirmou Gabriel Escobar, encarregado de negócios da embaixada americana.
Presença brasileira nos EUA e diálogo estratégico permanente
Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que os EUA são o principal destino de missões e capacitação militar brasileira. Entre 2020 e 2023, o país recebeu 12 adidos de defesa brasileiros e formou 134 militares. O levantamento mostra ainda que, quanto mais elevada a patente, maior a chance de o militar realizar formação nos Estados Unidos.
O relacionamento também se aprofunda no campo político-estratégico. Em agosto de 2024, foi realizada em Washington a 7ª Reunião de Conversações Estratégicas de Defesa EUA-Brasil, com foco em temas como defesa cibernética, espacial e operações especiais. Também avançaram as negociações do Acordo de Aquisição Recíproca de Defesa, que permitirá maior integração logística e industrial entre os dois países.
Uma parceria que transcende governos
A continuidade da cooperação — evidenciada em várias atividades operacionais, acordos institucionais e intercâmbios técnicos — segundo o artigo na Diálogos América, mostra que a relação entre as Forças Armadas do Brasil e dos EUA segue uma linha estratégica própria, que transcende variações políticas ou ideológicas dos governos civis. Mesmo com perfis políticos distintos, as administrações Trump e Lula mantiveram o curso da colaboração bilateral em defesa, com foco na estabilidade hemisférica e no fortalecimento das capacidades conjuntas.
Revista Sociedade Militar
Fonte: https://dialogo-americas.com/pt-br/articles/eua-e-brasil-fortalecem-cooperacao-em-seguranca-e-defesa/
e https://www.state.gov/major-non-nato-ally-status/