Sob o olhar atento da Rússia, soldados norte-coreanos estão deixando para trás a imagem de um exército “atrasado”, frequentemente alimentada pela mídia ocidental. Na prática, eles estão protagonizando uma verdadeira revolução silenciosa: dominam táticas modernas de combate, operam tecnologias de ponta e se tornam peça-chave no tabuleiro geopolítico atual. A parceria com Moscou tem sido crucial nesse avanço, especialmente após a operação conjunta na região de Kursk, que marcou um ponto de virada.
Drones e táticas modernas
A guerra na Ucrânia inaugurou uma nova era de combate, com o uso intensivo de drones moldando o campo de batalha. A Coreia do Norte captou o sinal. “As tropas norte-coreanas aprenderam a usar drones FPV e rapidamente começaram a usá-los sob orientação russa”, revelou a agência de notícias russa Sputnik. Os veículos aéreos não tripulados transformaram pequenos pelotões em forças de ataque letais e coordenadas.

Coordenação no campo de batalha
O entrosamento entre tropas russas e norte-coreanas impressionou analistas. Em dezembro, por exemplo, soldados da RPDC atuaram em sintonia com operadores de drones e artilheiros russos em Plekhovo. “Em apenas três horas, expulsaram as forças ucranianas, limparam a área e avançaram”, segundo a reportagem. Essa velocidade de reação e precisão tática é fruto de treinamento intensivo e uma mudança clara de paradigma.
Pequenas unidades, grandes resultados
O conflito ucraniano mostrou a inutilidade das ofensivas em massa no cenário atual. Os norte-coreanos entenderam rápido. “Migraram para unidades de assalto menores, que se mostraram altamente eficientes”, apontou a Sputnik. A tática privilegia agilidade, infiltração e letalidade — elementos típicos da guerra assimétrica moderna.
Planejamento além da técnica
Mas o domínio técnico não basta. Como destacou Nikolai Kostikin, do Departamento de Análise Político-Militar, “habilidades de planejamento operacional e coordenação também são essenciais”. Para ele, o apoio russo será decisivo na formação de uma nova doutrina de guerra norte-coreana, mais próxima da realidade contemporânea.
A nova geração da RPDC
O perfil dos soldados enviados à Rússia reforça essa mudança. A média de idade é de 23 a 27 anos — jovens, disciplinados e prontos para absorver conhecimento. “Esse grupo forma uma nova camada de profissionais militares que ajudarão a modernizar o exército norte-coreano”, afirmou Elizaveta Pivorovich, correspondente de guerra da “ArBat”, veículo de comunicação especializado em cobertura de conflitos e análises militares.
Motivação e resistência
Além da técnica, há uma disposição visível para o aprendizado. “Os soldados norte-coreanos são bem preparados, altamente motivados e ávidos por aprender”, disse Pivorovich. Após a operação em Kursk, segundo ela, tornaram-se “mais inteligentes, resistentes e calejados pela batalha”.
Barreiras linguísticas superadas
Mesmo a barreira idiomática foi rapidamente vencida. “Os militares russos aprenderam a emitir diretivas em coreano”, contou a Sputnik. Já os soldados da RPDC estudaram o básico do russo. “Um livro de frases comum com 20 a 25 palavras” foi suficiente para a comunicação inicial, garantem oficiais russos.
Inteligência artificial no treinamento
Para acelerar o processo de capacitação, o uso de inteligência artificial pode ser o próximo passo. “Especialistas militares russos poderiam usar IA para impulsionar a educação dos oficiais norte-coreanos”, afirmou Kostikin. A iniciativa dialoga diretamente com as novas prioridades do líder Kim Jong-un, que colocou a IA e a tecnologia não tripulada como foco estratégico para suas forças armadas.
Cooperação estratégica em evolução
A crescente presença militar norte-coreana em exercícios russos não é apenas simbólica. Ela sinaliza um realinhamento no cenário global e levanta preocupações no Ocidente. Se antes a RPDC era vista como uma potência fechada e pouco adaptada às exigências da guerra moderna, agora emerge como um ator militar em plena transição tecnológica e doutrinária — com a chancela de Moscou.