“Vocês estão ascendendo ao último círculo hierárquico no momento em que a humanidade experimenta mudanças no cenário geopolítico difíceis de imaginar há apenas poucos meses.” Em um discurso marcado por mistura de esperança e desesperança, o General de Exército Richard Fernandez Nunes, Chefe do Estado-Maior do Exército, deu as boas-vindas aos novos generais de brigada promovidos ao que chamou de “último círculo hierárquico”.
Mas, em vez de só comemorar, o alto oficial fez um balanço crítico da situação das Forças Armadas, citando duas vezes a falta de recursos e os desafios que virão. “Os recursos alocados estão muito aquém dos necessários”, alertou.
“Recursos muito aquém do necessário”
Logo no início, o general Richard foi direto: “os recursos alocados estão muito aquém dos necessários”. E reforçou mais adiante: “a escassez de recursos e os altos custos de construção e manutenção imobiliária […] apontam para uma mudança de comportamento”, afirmando em seguida que “tijolos e cimento não produzem os mesmos efeitos que mísseis, foguetes e granadas”.

As frases ecoam o cenário de cortes orçamentários e a reforma da previdência militar em debate no Congresso, que pode reduzir benefícios históricos das Forças Armadas.
Exército em crise de popularidade e orçamento
O tom do discurso reflete o momento delicado do Exército. Além da queda de popularidade após as polêmicas do governo Bolsonaro, a instituição enfrenta cortes de verbas e questionamentos sobre “penduricalhos”, como auxílios-moradia e adicionais polêmicos.
Richard não citou esses temas diretamente, mas a fala foi um reconhecimento tácito: o Exército está em um cenário de incertezas. Ao invés de um discurso triunfalista, preferiu alertar os novos generais sobre a necessidade de “racionalização e criatividade” diante da falta de dinheiro.
Tecnologia como saída, mas com ressalvas
Uma das saídas apresentadas foi o investimento em inteligência artificial e simuladores para compensar a falta de verba. Mas o general fez questão de lembrar: “assegurem-se de que os homens e as mulheres que as utilizam estejam sempre prontos”.
Ou seja: mesmo com inovações, o fator humano ainda é “absolutamente preponderante”, nas palavras dele.
A mensagem foi clara: o Exército precisa fazer mais com menos. Um recado difícil para quem acaba de chegar ao topo da carreira.
Hierarquia acima de tudo, mas com pressão por mudanças
Apesar dos problemas, o general manteve a tradicional defesa da hierarquia militar, pedindo que os novos generais sejam “inflexíveis com os pilares da disciplina”.
Mas, ao mesmo tempo, cobrou “correções de rumo” e “novas ideias”, sinalizando que até o Exército sabe que precisa se adaptar.
Um Exército em transição
O discurso do general Richard Fernandez Nunes foi um retrato fiel do Exército hoje: orgulhoso de sua tradição, mas consciente de seus problemas.
Se, por um lado, há a certeza da missão (“Fé na missão!”, como encerrou), por outro, há a clara admissão de que os recursos não chegam e os desafios só aumentam.
Para os novos generais, a mensagem foi clara: o cargo é uma honra, mas o trabalho será duro. E, pelo visto, sem muito dinheiro no caminho.
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