A militarização da inteligência artificial (IA) já é uma realidade para as principais potências mundiais e deve provocar uma revolução profunda nas doutrinas e capacidades militares ao redor do globo. De acordo com análise publicada pelo Centre for International Governance Innovation (CIGI), os gastos mundiais com IA aplicada à defesa devem crescer quase 1000x em apenas seis anos, passando de US$ 4 bilhões em 2022 para US$ 38,8 bilhões até 2028.
O uso da IA no ambiente militar vai muito além de simples automações: envolve desde sistemas de comando e controle assistidos por algoritmos, veículos autônomos terrestres, aéreos e navais, até o uso de IA generativa em guerra cibernética, reconhecimento automatizado de alvos e simulação de combate em realidade virtual.
Entre os países que lideram essa transformação estão Estados Unidos, China e Rússia, considerados hoje potências de “nível um” no campo da IA militar. Os Estados Unidos alocam cerca de US$ 2 bilhões anuais exclusivamente em IA, além de outros US$ 3,5 bilhões em sistemas autônomos, como drones e plataformas não tripuladas.
Já a China lançou um plano de US$ 1,4 trilhão em 6 anos com foco em substituir os EUA como principal potência em inovação, com a IA no centro dessa estratégia. Estima-se que Pequim esteja à frente globalmente em 57 das 64 tecnologias críticas, com forte ênfase em aplicações militares e civis da inteligência artificial.
Além das três grandes potências, países como Alemanha, Reino Unido, França, Índia e Coreia do Sul também intensificaram seus investimentos em IA voltada à defesa, apoiando-se em startups, centros de pesquisa e universidades, o que vem remodelando seus complexos militares-industriais.
A aplicação da IA nas forças armadas abrange pelo menos oito grandes áreas operacionais, incluindo:
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Comando e controle estratégico
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Inteligência, vigilância e reconhecimento (ISR)
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Simulação e treinamento com realidade virtual
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Reconhecimento automatizado de alvos
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Veículos e sistemas autônomos
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Guerra cibernética e operações de informação
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Manutenção preditiva de equipamentos
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Monitoramento médico em tempo real de tropas
A publicação do CIGI destaca também o avanço da OTAN, que atualizou sua estratégia de IA em 2024, e o esforço recente do Canadá, que lançou uma estratégia nacional e inaugurou um centro de IA para defesa no ano passado.
Esses movimentos demonstram uma clara resposta ocidental ao avanço acelerado da China no domínio da IA militar e sua aposta em “guerra inteligente” como arma estratégica para conflitos futuros, incluindo a possível reunificação forçada de Taiwan.
Como resposta, alianças como AUKUS (Austrália, Reino Unido e EUA) e colaborações entre países da OTAN estão sendo fortalecidas para desenvolver padrões comuns, compartilhamento de dados e interoperabilidade de sistemas com IA, em uma tentativa de conter a vantagem assimétrica da China.
O relatório alerta ainda que, além das questões tecnológicas, a rápida inserção da IA no cenário militar traz desafios éticos, jurídicos e operacionais. Especialistas apontam que decisões autônomas em campo de batalha, vigilância algorítmica e manipulação cognitiva com IA generativa podem inaugurar uma nova era de conflitos invisíveis e altamente complexos.
A informação foi divulgada pelo Centre for International Governance Innovation (CIGI). Para mais detalhes, acesse o artigo original: “Militarizing AI: How to Catch the Digital Dragon”.