Durante nove semanas intensas no sul da Itália, um grupo de militares do Exército Brasileiro participou de um curso que pode representar uma verdadeira virada de chave na modernização da força terrestre nacional.
O curso de Operação do Centauro II, realizado na Scuola di Cavalleria, em Lecce, foi mais do que uma capacitação técnica: foi uma ponte entre o Brasil e uma nova doutrina de guerra sobre rodas, consolidando a aproximação com o Exército Italiano e preparando terreno para a futura adoção do blindado Centauro II no Brasil.
Ao todo, 14 militares brasileiros mergulharam em um treinamento completo, que uniu teoria, prática, manutenções e táticas de emprego da viatura blindada de combate de cavalaria média sobre rodas 8×8 (VBC Cav MSR 8×8), também conhecida como Centauro II.
Trata-se de um dos blindados mais modernos em operação atualmente na Europa, projetado para combinar poder de fogo, mobilidade e proteção, com capacidade de operar de forma eficaz tanto em ambientes urbanos quanto em terrenos abertos.
Blindado Centauro II: tecnologia de ponta em solo europeu
O Centauro II é fabricado pela Iveco – Oto Melara Consortium (CIO), um consórcio italiano que reúne gigantes da indústria militar. A viatura é equipada com um canhão de 120 mm, sistemas eletrônicos de última geração e blindagem modular.
O modelo representa uma evolução direta do Centauro I, utilizado por diversos exércitos europeus, e foi concebido para enfrentar ameaças modernas com agilidade, robustez e flexibilidade.
Entre os diferenciais do Centauro II estão a capacidade de atingir velocidades superiores a 100 km/h, sensores de visão noturna, sistema de gerenciamento de batalha digital e integração com drones de reconhecimento.
Esse conjunto o torna um dos blindados mais completos da categoria, sendo ideal tanto para missões de patrulhamento em zonas de conflito quanto para combate convencional com força mecanizada.
Intercâmbio militar que fortalece a estratégia nacional
A participação brasileira no curso é parte de um esforço maior de modernização e internacionalização da doutrina de blindados do Exército Brasileiro.
Segundo informações do próprio Exército, o objetivo principal foi proporcionar aos militares o domínio pleno do sistema, permitindo sua utilização em toda a sua capacidade operacional no futuro.
Os conhecimentos adquiridos no exterior serão fundamentais para treinar outras tropas no Brasil e adaptar o material à realidade nacional.
Essa multiplicação de doutrinas se encaixa na lógica atual das Forças Armadas brasileiras: reduzir custos com treinamentos estrangeiros e, ao mesmo tempo, desenvolver uma doutrina nacional com base em padrões internacionais de excelência.
Além do ganho técnico, a missão também serviu para estreitar os laços diplomáticos e operacionais entre Brasil e Itália, abrindo caminho para futuras cooperações em treinamentos, intercâmbios e, possivelmente, compras de material bélico.
Viatura pode ser integrada à frota brasileira nos próximos anos
Embora ainda não tenha sido formalizada a aquisição do Centauro II pelo Brasil, a realização do curso pode indicar uma movimentação estratégica nesse sentido.
Nos bastidores do setor de defesa, especula-se que o Exército Brasileiro avalia seriamente a adoção do modelo como parte do seu programa de substituição de viaturas antigas, como os EE-9 Cascavel, que estão em uso desde a década de 1970.
O Centauro II poderia compor a espinha dorsal da cavalaria mecanizada nacional, oferecendo ao Brasil uma plataforma compatível com as exigências atuais de guerra moderna, interoperabilidade com forças aliadas e capacidade de dissuasão regional.
Essa possível compra também representa uma oportunidade de transferência de tecnologia e até mesmo de produção local, com envolvimento da indústria brasileira de defesa, especialmente a Iveco Defence Vehicles, que já atua no país.
Cooperação internacional é prioridade da Força Terrestre
A cerimônia de encerramento do curso, realizada em Lecce, foi marcada por discursos de agradecimento, reconhecimento e compromisso mútuo entre os dois países.
O Brasil destacou a excelência da formação oferecida pela Itália, enquanto os italianos reforçaram o valor da cooperação estratégica entre as nações.
Esse tipo de capacitação no exterior não é novidade, mas tem se intensificado nos últimos anos como parte da política de inserção internacional do Exército Brasileiro, que tem buscado aumentar sua presença em operações de paz, treinamentos multinacionais e eventos de defesa globais.
A formação dos militares em veículos como o Centauro II também está alinhada com a participação do Brasil em feiras como a LAAD Defence & Security e eventos da OTAN (como país parceiro), que ampliam a visibilidade do país no setor militar.
Um futuro sobre rodas para o Exército Brasileiro
A experiência dos militares na Itália sinaliza uma nova fase para a cavalaria brasileira, que caminha para deixar para trás os blindados com mais de 50 anos de uso e adotar tecnologias de padrão OTAN.
Com o domínio das doutrinas do Centauro II, o Exército poderá adaptar táticas de combate, logística e manutenção para aproveitar ao máximo as capacidades de um blindado de última geração.
Essa transformação pode levar ainda anos, mas os primeiros passos já foram dados.
E, no cenário atual de incertezas geopolíticas e conflitos híbridos, estar preparado com veículos modernos e tripulações bem treinadas pode fazer toda a diferença.