O consagrado filme de Steven Spielberg, O Resgate do Soldado Ryan, é – sem dúvidas – uma homenagem ao heroísmo e à empatia em meio à barbárie da Segunda Guerra Mundial. Mas por trás do enredo hollywoodiano, que envolve uma missão arriscada para salvar um único combatente, há ecos reais de dramas familiares verdadeiros vividos longe das câmeras — inclusive, pouca gente sabe, no Brasil.
O que raros brasileiros têm conhecimento é que, no coração da história militar brasileira, existe um nome que encarna com ainda mais força o espírito de sacrifício e dor que permeia os conflitos armados: Rosa Maria Paulina da Fonseca, mãe de dez filhos, dos quais seis foram enviados para a Guerra do Paraguai.
Nascida em 1802, em localidade com nome antigo de Sitio Oiteiro, no povoado Riacho Velho, da antiga capital das Alagoas, atualmente Marechal Deodoro, Rosa da Fonseca foi casada com o major Manoel Mendes da Fonseca e criou sua numerosa prole com firmeza e valores patrióticos. Quando o Brasil foi arrastado para a Guerra da Tríplice Aliança, contra o ditador paraguaio Solano López, Rosa não hesitou em ver seus filhos partirem para o front. O que seguiu, lamentavelmente, foi uma tragédia de proporções inimagináveis para qualquer mãe.
Na batalha de Curuzu, em 1866, onde morreram 65 brasileiros, o filho mais novo de Rosa da Fonseca, Afonso Aurélio, de apenas 21 anos, foi morto em patrulha. Dias depois, seu filho Hyppólito tombou na sangrenta Curupaiti. Em 1868, na decisiva batalha de Itororó, mais um golpe: Eduardo Emiliano, major de Infantaria, foi morto, enquanto outros dois filhos retornaram gravemente feridos.
O massacre familiar
Diante do massacre familiar, Rosa da Fonseca não se quebrou. Sua resposta ao luto entrou para a história do Exército Brasileiro. Ao receber a notícia da morte de seus filhos, teria declarado:
“Sei o que houve. Talvez até Deodoro esteja morto, mas hoje é dia de gala pela vitória; amanhã, chorarei a morte deles.”
O “Deodoro” mencionado não era outro senão Deodoro da Fonseca, seu filho que sobreviveria à guerra e mais tarde proclamaria a República em 1889.
Mãe de militar, reconhecida como patrona
Se não é fácil para qualquer mãe ver o seu filho, jovem, deixar a rotina de casa para iniciar treinamentos no Exército, ou em uma academia militar, é possível imaginar a dor gigantesca sofrida por uma senhora que viu vários filhos falecerem no cumprimento do dever.

Mais de um século depois, o Exército Brasileiro reconheceu a grandeza dessa mulher. Por meio da Portaria nº 650, de 10 de junho de 2016, instituiu o Dia da Família Militar, celebrado em 18 de setembro — data de nascimento de Rosa da Fonseca, agora oficialmente entronizada como Patrona da Família Militar.
Se Spielberg imortalizou uma missão para preservar a esperança de uma mãe de militar norte-americana, a história brasileira oferece um testemunho ainda mais comovente: o de uma mulher que suportou perdas irreparáveis sem nunca negar a importância da vitória de seu país.
A vida de Rosa da brasileira Fonseca não foi roteiro de cinema, foi um drama real que revela algo terrível que poucos percebem em um cenário de guerra: a dor silenciosa das mães que enterram seus filhos, mas que se recusam a enterrar sua dignidade.