Os Estados Unidos reconheceram oficialmente que os submarinos chineses da classe Jin (Tipo 094) representam a primeira força de dissuasão nuclear naval credível da China. Segundo o Comando Estratégico norte-americano, a Marinha do Exército de Libertação Popular (PLAN) opera atualmente seis submarinos nucleares lançadores de mísseis balísticos (SSBN), cada um equipado com até 12 mísseis SLBM (Submarine-Launched Ballistic Missiles).
Essa nova capacidade garante à China um potencial real de segundo ataque nuclear a partir do mar, consolidando sua estratégia de dissuasão e refletindo os esforços do governo Xi Jinping para modernizar e expandir suas forças estratégicas — com um possível foco na questão de Taiwan até 2027.
Expansão acelerada do arsenal nuclear
De acordo com os dados mais recentes do Comando Estratégico dos EUA, a China ultrapassou as 600 ogivas nucleares operacionais, e as projeções indicam que esse número pode ultrapassar 1.000 até 2030. Em 2019, estimava-se que o país tinha 290 ogivas, e em 2024, o número já chegava a 500. Além do crescimento numérico, há mudanças doutrinárias: Pequim estaria agora considerando manter um pequeno número de ogivas acopladas a mísseis mesmo em tempos de paz — um desvio importante de sua política anterior de armazená-las separadamente.
Avanços tecnológicos na dissuasão marítima
A modernização naval chinesa tem como foco principal o fortalecimento da sua força de dissuasão estratégica no mar. Os submarinos da classe Jin começaram equipados com os mísseis JL-2, com alcance estimado de 7.200 km, mas as versões mais recentes já contam com os mísseis JL-3, capazes de atingir até 10.000 km. Essa nova geração de armamento permite que a China realize ataques a alvos nos Estados Unidos sem precisar se afastar tanto de suas águas territoriais.
Imagens de satélite datadas de março de 2025 revelaram novas movimentações no estaleiro de Huludao, especializado em submarinos nucleares. Um dos destaques foi um submarino do tipo 093B com escotilhas abertas de seu sistema de lançamento vertical (VLS), expondo 12 compartimentos distintos — uma clara demonstração da evolução tecnológica da marinha chinesa.

Produção em ritmo acelerado
Analistas calculam que entre sete e oito submarinos Tipo 093B foram construídos nos últimos três anos, superando todo o número de submarinos de ataque nuclear que a China produziu nas três décadas anteriores. Quando incluídos os submarinos de propulsão convencional, como o Tipo 039C, estima-se que mais de 15 novas embarcações tenham sido lançadas nesse mesmo período.
Essa aceleração pode representar uma fase de transição para a próxima geração: o submarino Tipo 095, que deve integrar tecnologias furtivas mais avançadas e maior capacidade de ataque.
Limitada, mas em rápida evolução
Apesar dos avanços, a frota de submarinos chineses ainda é menor e menos sofisticada tecnicamente do que as frotas equivalentes de EUA, Rússia, França e Reino Unido. A classe Jin é considerada um marco inicial, mas ainda possui limitações acústicas — ou seja, é mais barulhenta e, portanto, mais fácil de detectar. As versões mais recentes, como o Tipo 094A, trouxeram melhorias nesse aspecto, mas ainda estão aquém dos padrões ocidentais.
Está em desenvolvimento um novo modelo, o Tipo 096, que deve carregar entre 16 e 24 mísseis SLBM e incorporar tecnologias russas de propulsão a jato, inspiradas nos submarinos Borei. Este projeto pode representar um salto tecnológico significativo na capacidade furtiva e ofensiva da marinha chinesa.
Comparativo com outras potências nucleares
Estados Unidos: Operam 14 submarinos da classe Ohio, com até 24 mísseis Trident II D5 cada. Cada míssil pode carregar até oito ogivas múltiplas (MIRV), o que confere aos EUA uma capacidade teórica de mais de 1900 ogivas submarinas. A nova geração, os submarinos da classe Columbia, entrará em serviço na década de 2030 e terá propulsão elétrica para maior furtividade.
Rússia: Mantém de 10 a 11 SSBN ativos, principalmente das classes Delta IV e Borei-A. Cada submarino pode carregar até 16 mísseis SLBM com ogivas múltiplas, com alcance acima de 8.000 km. A Rússia também está desenvolvendo sistemas estratégicos como o drone submarino Poseidon.
França: Possui quatro submarinos classe Triomphant, com capacidade para 16 mísseis balísticos M51.2 ou M51.3, cada um com até seis MIRV. A capacidade total francesa é de cerca de 96 ogivas por submarino. Uma nova geração, a SNLE 3G, deve entrar em operação na década de 2030.
Reino Unido: Opera quatro submarinos classe Vanguard, cada um com mísseis Trident II D5. O Reino Unido mantém cerca de 40 ogivas por submarino, praticando uma política de dissuasão contínua. Os novos submarinos da classe Dreadnought devem substituir os Vanguard até o final da década de 2020.
Equilíbrio estratégico e riscos emergentes
Embora a China mantenha oficialmente uma política de “não ser o primeiro a usar armas nucleares”, o ritmo acelerado de modernização de suas forças — especialmente no setor marítimo — aponta para uma maior flexibilidade operacional.
Essa evolução pode reforçar a estabilidade estratégica ao garantir a capacidade de resposta a um primeiro ataque. No entanto, o aumento das patrulhas submarinas chinesas pode resultar em maior tensão e vigilância por parte dos EUA e aliados, aumentando os riscos de confrontos acidentais.
Países vizinhos e rivais estratégicos estão atentos. A Índia está investindo em novos submarinos nucleares, enquanto Japão e Coreia do Sul reconsideram suas políticas de defesa diante da crescente presença naval chinesa.