Brasil evita desastre na indústria militar: BNDES impede venda da Avibras e salva gigante da defesa da falência
Em meio a disputas geopolíticas e interesses estrangeiros crescentes sobre a Base Industrial de Defesa do Brasil, uma das maiores potências do setor no país conseguiu evitar a perda de soberania nacional.
A Avibras Aeroespacial, fabricante do sistema de artilharia de saturação ASTROS 2020, será mantida sob controle brasileiro graças a uma operação financeira liderada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A ação foi revelada pelo jornalista Luis Nassif e representa uma das movimentações mais importantes dos últimos anos para assegurar a autonomia tecnológica militar do Brasil.
Segundo Nassif, a medida envolve a criação de um fundo de investimento com capital misto — público e privado — aprovado pelos acionistas da Avibras.
O fundo aguarda agora o aval da Justiça para efetivar a troca de comando da empresa e consolidar garantias jurídicas que garantam sua continuidade estratégica no território nacional.
Fundo nacional evitará que Avibras vá parar nas mãos de investidores estrangeiros
A empresa, sediada em São José dos Campos (SP), entrou em recuperação judicial em 2022, apresentando uma dívida de R$ 1,5 bilhão e passivos fiscais acumulados com o governo federal na ordem de R$ 200 milhões.
Diante da crise financeira, executivos da Avibras buscaram investidores no exterior, e abriram negociações com grandes nomes da indústria de defesa global.
Entre os grupos interessados estavam a australiana DefendTex, a saudita Black Storm Military Industries, e principalmente a estatal chinesa Norinco, considerada uma gigante do setor militar internacional.
A entrada desses grupos em uma empresa estratégica como a Avibras gerou reações contrárias dentro e fora do governo, especialmente em setores ligados ao Ministério da Defesa, à Presidência da República e ao Congresso Nacional.
Soberania tecnológica e sensibilidade geopolítica impediram venda para a China e Arábia Saudita
A pressão geopolítica foi um fator determinante para barrar o avanço dessas negociações.
Países aliados do Brasil dentro do Ocidente, como os Estados Unidos e membros da OTAN, teriam demonstrado preocupação com a transferência de tecnologias militares brasileiras para empresas estatais chinesas.
A sensibilidade se justifica: o sistema ASTROS 2020 — Artilharia de Saturação por Foguetes — é um dos mais avançados do mundo em sua categoria, sendo capaz de lançar diferentes calibres de mísseis com alto grau de precisão, alcance e mobilidade.
O sistema está em uso não apenas pelo Exército Brasileiro, mas também por forças armadas de países aliados, como Malásia, Indonésia, Arábia Saudita, Qatar e Angola.
A transferência da Avibras para um grupo estrangeiro colocaria em risco não apenas o sigilo dessas tecnologias, mas também os contratos de exportação já firmados com governos parceiros.
Nova gestão técnica retomará legado do fundador e consolidará auditoria interna
Com a chegada do novo fundo, a empresa será comandada por um CEO com perfil técnico e alinhado à escola do fundador da Avibras, João Verdi — engenheiro visionário que transformou a empresa em referência global em tecnologia de defesa entre os anos 1980 e 2010.
A primeira medida da nova gestão será a realização de uma auditoria detalhada para analisar a situação financeira da empresa, redefinir prioridades operacionais e reativar as linhas de produção paralisadas.
O foco principal será reestabelecer a credibilidade da empresa junto ao governo federal, às Forças Armadas e aos parceiros internacionais, garantindo que a Avibras continue sendo um dos principais vetores da soberania militar brasileira.
Avibras e o futuro da base industrial de defesa brasileira
O movimento do BNDES e dos investidores privados para salvar a Avibras se insere em um contexto maior: a reestruturação da Base Industrial de Defesa (BID), tema que ganhou fôlego com o novo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC Defesa), lançado pelo governo Lula em 2024.
Segundo especialistas, manter a Avibras sob controle nacional é essencial para consolidar a autonomia do Brasil em áreas como mísseis balísticos, foguetes táticos e plataformas móveis de lançamento.
A Avibras também é apontada como peça-chave no futuro programa de mísseis de cruzeiro de longo alcance que está sendo estudado pelas Forças Armadas, além de projetos conjuntos com a Embraer e com o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE).
A recuperação da empresa permitirá ao Brasil não depender de importações em setores sensíveis da defesa e abrirá espaço para o desenvolvimento de novas tecnologias com alto valor agregado.