Uma análise recente das oitivas provenientes da Comissão Parlamentar de Inquérito do Movimento dos Trabalhadores sem Terra, relatada pelo deputado Ricardo Salles, revela que as invasões de terras fomentam um clima de terror em diversas regiões. Há indícios de crimes, como ameaças contra proprietários que tiveram terras invadidas, que variam amplamente, desde extorsões até pressões diretas a familiares que residem em outras cidades.
Um relatório assinado em 29 de maio por Ricardo Salles revela que propriedades invadidas eram altamente produtivas, gerando soja e milho. Após as invasões, surgiram interessados em adquirir tais terras, mesmo com a situação instável causada pela invasão. Alguns proprietários receberam propostas de acordos que implicavam na doação de uma parcela de suas terras ao MST e o pagamento de uma espécie de “resgate” pela terra na forma de uma quantia substancial de dinheiro.
Informações adicionais destacam que, em alguns casos, indivíduos envolvidos foram vítimas de extorsões e retenção de maquinários, levando-os a pagar grandes somas para que os invasores deixassem as propriedades. Tais relatos corroboram a tensão crescente e o medo que envolvem as comunidades rurais afetadas.
A investigação também incluiu diligências em campo. Em uma propriedade invadida, notou-se a presença de energia elétrica e a instalação de um centro de doutrinação em um antigo armazém de máquinas agrícolas. O prédio, adornado com cartazes e faixas, refletia um cenário de abandono e degradação. Outros vestígios da ocupação incluíam uma pequena loja que vendia mercadorias relacionadas ao MST.
A ocupação das terras aparentemente não resultou em atividades agrícolas significativas. O espaço antes ocupado por pastagens foi abandonado e as poucas culturas restantes pareciam insuficientes para sustentar sequer uma família. Foi constatado que muitas das tendas erguidas pelos invasores estavam vazias, levando a especulações sobre a verdadeira escala da ocupação e se não estariam ali apenas para marcar lugar ou aparentar que os invasores são muitos.
A falta de pertences pessoais básicos nos barracos desocupados reforça a dúvida sobre a alegação de que seus ocupantes estavam trabalhando em plantações.
“Em todas as invasões, há grande quantidade de barracos desocupados, dando a impressão que estão dispostos apenas como marcos. A desculpa dada era que os invasores dos barracos encontrados vazios estavam trabalhando na roça, porem a ausência de pertences, desde os mais elementares não sustenta tais afirmações. Foram observados inúmeros carros de invasores que, pelo seu padrão, não pertenciam a pessoas despossuídas. Muitos carros de outros municípios do estado de São Paulo e de outros estados, especialmente do Paraná e de Mato Grosso do Sul.”, diz o relatório.
O relatório ressalta ainda as condições de vida degradantes de alguns invasores, comparáveis às de trabalhadores em situações análogas à escravidão. Além disso, enfatiza que muitos dos veículos encontrados no local, devido ao seu alto padrão, pareciam pertencer a indivíduos de outras regiões, o que sugere uma dinâmica mais complexa por trás das ocupações.
Várias pessoas afirmaram terem sido atraídas para as invasões com a promessa de receber um lote de terra, o que não correspondeu à realidade verificada pelos investigadores. Além disso, a postura dos invasores variou de amigável a confrontante, com alguns se recusando a se identificar ou identificar líderes, insistindo que todos ali eram líderes.
As invasões geralmente ocorrem em terras bem localizadas, às margens de rodovias, em solo fértil, embora as culturas encontradas sejam inexpressivas. A abordagem e a estrutura das invasões parecem semelhantes em diferentes localidades, sugerindo um padrão consistente de atuação.