“Corações de Ferro”, produzido pela SONY, reproduzido hoje no Brasil pela Netflix, é um filme de guerra bastante cativante e que inegavelmente deixou uma marca. O filme se desenrola em 1945 na Alemanha, próximo a Berlim, retratando de forma muito autêntica o período final da Segunda Guerra Mundial. A produção acertadamente focou na precisão histórica, oferecendo ao espectador uniformes militares e blindados fieis aos originais da época, assim como a dura realidade da população civil em busca de refúgio e o trágico uso de crianças em combates pelos militares alemães.
O protagonista, Brad Pitt, ator renomado, entrega uma atuação impressionante como graduado comandante de um carro de combate M4 Sherman, conhecido como “Fury”. O retrato de Pitt de um comandante que é durão, mas de bom coração, é convincente e bem equilibrado, proporcionando uma percepção multifacetada do ser humano, do soldado, na guerra. O filme se destaca por não ceder à tentação do clichê, entregando um final realmente inesperado.

Entretanto, a familiaridade do enredo e dos personagens também é uma das fraquezas do filme. Às vezes, parece que já vimos o filme antes. O diretor, David Ayer, pareceu não conseguir transpor completamente sua experiência anterior com filmes de crime urbano para o cenário de guerra.
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Os personagens secundários, apesar de bem interpretados, são em grande parte estereotipados e não desenvolvem muito além das impressões iniciais. O novato (Logan Lerman) tem uma evolução particularmente abrupta, passando de se recusar a matar um nazista a atirar em dezenas deles em uma cena seguinte. A moral da narrativa não é desafiada de maneira significativa, apresentando uma visão preto no branco dos heróis americanos e vilões nazistas.
Ayer, no entanto, brilha em seu trabalho com cenas de ação. A utilização dos tanques de guerra, em particular, é um destaque no que diz respeito a fidelidade de uma batalha da época da segunda guerra, proporcionando uma sequência de roer as unhas, tensa na medida certa e com um final surpreendente. O filme ganha seu ritmo nas cenas de ação mostrando o poder dos blindados na segunda guerra, deixando os espectadores na expectativa do próximo acontecimento.
Curiosamente, o tanque M4 Sherman, protagonista do filme, tem um lugar também na história militar brasileira. As primeiras unidades chegaram no Brasil durante a Segunda Guerra, em 1943, e o país recebeu em torno de 80 exemplares do tanque em suas diversas versões, que equiparam as unidades blindadas do Exército Brasileiro até o final da década de 1960.
O M4 Sherman possuía algumas falhas, segundo analise do Exército Brasileiro, possuía uma silhueta alta e de fácil visibilidade e o canhão era com cano curto e baixa capacidade de perfuração na blindagem de tanques inimigos, além de possuir facilidade para pegar fogo após ser atingido, devido a sua blindagem considerada deficiente, algumas cenas no filme mostram bem isso.
Bons observadores certamente perceberam que na lateral do blindados exibidos no filme estão alguns troncos amarrados. Quem é militar certamente saber que se trata de uma proteção contra armas antitanque, os temidos Panzerschreck de 88 milímetros, que lançavam um projétil metálico em velocidade muito grande, que perfurava as blindagens dos tanques.
A colocação da madeira era uma proteção extra, que acabava alterando a trajetória do projetil, diminuindo bastante a sua eficácia. Alguns especialistas em blindados contestam a eficácia dos troncos e outros alegam que serviam para “desatolar” a viatura ou facilitar a passagem por terrenos pantanosos.

Entretanto, apesar disso tudo, o equipamento era conhecido por sua confiabilidade e agilidade em combate, características que se refletem de maneira dramática no filme em análise. Foram construídas em torno de 50 mil unidades desse blindado.
Concluindo, “Corações de Ferro” oferece uma visão envolvente e realista da Segunda Guerra Mundial, apoiado por performances sólidas, em particular a de Brad Pitt. Embora às vezes se apoie demais em estereótipos e evite dilemas morais mais complexos, a força do filme reside em suas sequências de ação empolgantes e em sua abordagem autêntica da guerra. #sociedademilitar
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar