““Acho que há um esforço para pegar um pouco de todos os modelos repressivos […], assim como fez Hitler.””
Artigo publicado em revista militar norte-americana sob supervisão do Departamento de Estado compara Nicarágua com Cina e Venezuela.
A Nicarágua vive um momento de intensa repressão política e violação dos direitos humanos. Segundo um artigo recente publicado pela revista Diálogo Américas, de propriedade das Forças Armadas dos Estados Unidos, o regime Ortega-Murillo intensificou as perseguições a opositores, defensores de direitos humanos, jornalistas, e outros grupos no país.
Em maio, pelo menos “60 opositores do regime da Nicarágua foram detidos pela polícia de Ortega-Murillo em todo o país. Depois de serem condenados em poucas horas em julgamentos sumários e sem defesa legal por ‘conspiração para minar a integridade nacional e propagar notícias falsas’, os prisioneiros foram libertados em liberdade condicional e devem ir diariamente às delegacias de polícia para se registrar”, de acordo com o artigo.
Essa repressão vem na esteira do quinto aniversário da explosão social que ocorreu em abril de 2018. Como destacado por Gonzalo Carrión, membro fundador da ONG Coletivo de Direitos Humanos Nicaragua Nunca Más, “Já são mais de cinco anos de perseguição sistemática com graves violações de direitos humanos e crimes contra a humanidade”.
Os esforços malignos do regime Ortega-Murillo não se limitam apenas aos opositores políticos. Segundo a publicação, “26 advogados e tabeliães críticos ao regime” foram proibidos de exercer a advocacia em maio. Além disso, “Em 9 de fevereiro, 25 advogados foram destituídos de sua nacionalidade, juntamente com outras 292 pessoas. O regime confiscou seus bens e propriedades”. Yonarqui Martínez, uma advogada que trabalhou na defesa de vários presos políticos nicaraguenses, ressaltou que “a nova modalidade desses processos é irregular e viola o devido processo legal e os direitos humanos”.
A repressão não se restringe a ações legais. O regime Ortega-Murillo também tem implementado um programa de visitas de casa em casa, liderado pela polícia e pelo Ministério do Interior, alegadamente para “garantir a paz”. Contudo, segundo Carrión, estas “visitas” são, na verdade, uma maneira de manter o controle social e intimidar a população.
A repressão também se estende à liberdade de expressão, com ameaças de prisão a opositores que criticam o regime nas redes sociais, reagem com sarcasmo aos projetos governamentais ou descrevem a crise sociopolítica que a Nicarágua vive desde 2018.
“Carrión acredita que as práticas repressivas de Ortega-Murillo são uma cópia das práticas usadas por seus aliados autoritários China, Cuba, Irã, Rússia e Venezuela. “Acho que há um esforço para pegar um pouco de todos os modelos repressivos […], assim como fez Hitler.”
Carrión conclui, “Faço um apelo aos Estados democráticos para que sejam mais enérgicos, como foram quando caiu a ditadura de Somoza. O povo da Nicarágua precisa urgentemente de um acompanhamento mais enérgico e coerente de toda a comunidade internacional, para pôr fim a essa dolorosa violação dos direitos humanos e aos crimes contra a humanidade contra seus cidadãos.”