Segundo matéria do G1, A Escola de Samba Paraíso do Tuiuti vem para o carnaval de 2024 com a missão de contar a história do marinheiro João Candido, o Almirante Negro, líder da Revolta da Chibata, em 1910.
O objetivo do enredo, segundo o carnavalesco Jack Vasconcelos, é reforçar o nome do homenageado como um grande herói do povo brasileiro.
“O povo não esqueceu o João Candido, não esqueceu o Almirante Negro. É o povo usando o carnaval para falar ‘olha aqui o nosso herói’. Um herói da nossa pátria, que merece tá no livro heróis e heroínas da pátria do Brasil”, explicou Jack Vasconcelos.
Com o enredo “Glória ao Almirante Negro!”, a escola de São Cristóvão será a quinta a desfilar na segunda-feira (12) de carnaval.
A Revolta da Chibata foi um motim organizado pelos soldados da Marinha brasileira, de 22 a 27 de novembro de 1910. Os marujos estavam insatisfeitos com os castigos físicos que sofriam na época – quem violasse as regras da corporação tomava chibatadas.
O líder do motim foi João Cândido Felisberto, que junto com seus companheiros, exigiam o fim dos castigos. Candinho, o filho do herói, vai participar do desfile da Tuiuti.
“Meu pai foi um cidadão gaúcho. Com 14 anos ele entrou para a Marinha de Guerra do Brasil e ele foi o líder do movimento da Revolta da Chibata, em 1910. Ele é um herói do povo”, contou Candinho.
PASSADO E PRESENTE NA PONTA DA CHIBATA
Chicote, chibata, coleira de cachorro são materiais que, em diferentes épocas, foram usados para violentar pessoas negras – da escravidão entre os séculos XVI e XIX, passando pela revolta de marinheiros em 1910, até o caso do entregador agredido na zona sul do Rio.
Max Ângelo dos Santos, atacado com uma coleira de cachorro em 2023 por uma mulher branca, vai ter a oportunidade de apresentar a conexão histórica entre esses acontecimentos.
Ele vai desfilar no carnaval do Rio pela escola de samba Paraíso do Tuiuti representando o almirante negro João Cândido, líder da Revolta da Chibata.
Entrevistado pela Agência Brasil, Max declarou:
“Esse convite foi uma surpresa imensa. Eu nunca desfilei antes por escola nenhuma. Fui conhecer o barracão do Tuiuti e lá eles me contaram a história do João Cândido. E eu fiquei super feliz de saber que ia representar um herói nacional, que ainda não tem muito reconhecimento”.
“Só quem passa por esse tipo de violência sabe como é. Tem a dor física, mas a dor mental é muito pior. Acho que tem tudo a ver a história do João Cândido com outras histórias atuais e a minha. E o enredo fala muito disso”.
MARINHA NÃO SE DOBRA, E NEGA HEROÍSMO
Uma recente Nota da Marinha é irredutível em negar quaisquer homenagens ao “Almirante Negro”:
“Quaisquer que tenham sido as intenções do Sr. João Cândido Felisberto e dos demais que participaram da Revolta, fizeram-na sem esgotar outras formas de persuasão e convencimento.
“Tomaram os navios pela força e romperam as estruturas basilares de toda e qualquer instituição militar: a hierarquia e a disciplina. Essa é a razão pela qual a Marinha não reconhece o heroísmo das ações daquele movimento e o considera uma rebelião.
Por sua vez, com base na História Naval Brasileira, a Marinha não considera que os castigos físicos aplicados na época estavam corretos.
Entretanto, castigos corporais começaram a ser aplicados ainda no século quinze, ante faltas disciplinares a bordo de navios à vela.
As Marinhas da Grã-Bretanha, da Espanha, da França, dos Estados Unidos e da Alemanha os mantiveram até o século XIX e início do século XX.
No entanto, esse tipo de punição nunca esteve associado a questões raciais ou quaisquer outras, senão ao mau comportamento.”
“Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podendo mais suportar a escravidão na Marinha Brasileira, a falta de proteção que a Pátria nos dá e até então não nos chegou; rompemos o negro véu, que nos cobria aos olhos do patriótico e enganado povo”.
Um dos trechos do samba do Tuiuti reforça a ideia de liberdade incompleta para a população negra: “Lerê lerê, mais um preto lutando pelo irmão. Lerê lerê e dizer nunca mais escravidão”.
A seguir, o samba enredo “Glória ao Almirante Negro!”, da escola de São Cristóvão