A geopolítica do Oriente Médio é caracterizada por conflitos intra e interestatais nos quais a presença de atores estatais e não estatais se faz notória e atuante, conferindo assim um elevado número de elementos para a análise conjuntural. Ao observar-se o retorno e a presença do Estado Islâmico (ISIS, no acrônimo em inglês) na localidade, esse cenário se torna cada vez mais verídico e fundamentado. No que se refere à ingerência de atores extra-regionais, no início de janeiro, diante deste panorama de expansão e crescimento do grupo, os Estados Unidos confirmaram o envio de 1.500 militares para o Iraque e a Síria, tendo como objetivo auxiliar no combate ao ISIS.
Isto posto, quais são as implicações do reaparecimento desse ente para o tabuleiro geopolítico regional? Apesar de contido após o período de auge, entre 2014 e 2017, quando comandou e controlou significativas porções territoriais no Oriente Médio com base em terror, coerção e amedrontamento, o ISIS nunca deixou de existir, realizando ações de insurgência e baixa intensidade local em pequenas e tímidas porções territoriais, especialmente na Síria e no Iraque. Contudo, nas últimas semanas o grupo reivindicou atos de grande escala, sendo os mais notórios os ataques durante as homenagens pelos quatro anos do falecimento do general iraniano Qasem Soleimani, a morte de soldados iraquianos e o ataque a uma igreja na Turquia.
Vale ressaltar que Soleimani foi comandante das tropas iranianas que enfrentaram e derrotaram militarmente o grupo terrorista na década passada, e esta ação de bombardeios também apresenta um alto valor simbólico, retratando que o grupo anseia retornar o papel que já teve. Neste âmbito de se reerguer e restaurar sua atuação, o ISIS conduz alterações geopolíticas, especialmente na área de Segurança e Defesa, pois suas principais receitas advêm de saques, contrabando e venda de obras de arte e relíquias arqueológicas no mercado ilegal, além de sequestros e tráfico de drogas (Boletim 2).
Ademais, outro aspecto da ordem geopolítica é que o Estado Islâmico, almejando restabelecer sua influência, torna-se mais uma variável com capacidade de atuação regional entre atores de peso, como Irã e Arábia Saudita — principalmente no contexto atual do conflito entre Israel e o Hamas, ator paramilitar com quem o ISIS possui hostilidades e diferenças.
Sendo assim, as implicações do retorno desse grupo se centram na capacidade não apenas de afetar e envolver vários atores, mas de alterar o curso geopolítico local em uma região tão instável.
Amanda Marini – Núcleo de Avaliação da Conjuntura (NAC) – Superintendência de Pesquisa e Pós-Graduação (SPP) da Escola de Guerra Naval (EGN)