Revelado o soldado brasileiro que foi amigo do ‘Homens de Honra’, o primeiro mergulhador negro da Marinha dos EUA, que inspirou o filme de Hollywood
O brasileiro esquecido que ajudou o primeiro mergulhador negro da Marinha dos EUA: a verdadeira história por trás de Homens de Honra

O improvável amigo brasileiro do primeiro mergulhador negro da marinha dos EUA: a verdadeira história por trás de Homens de Honra! Imagine atravessar uma das épocas mais sombrias da segregação racial nos Estados Unidos, em um ambiente onde a cor da pele podia determinar seu futuro ou seu fracasso, dentro do exército mais poderoso do mundo. Agora, imagine um soldado brasileiro de origem simples, vindo de Natal, que não só testemunhou essa história como participou dela ativamente. Seu nome era Alberto José do Nascimento, e ele foi o improvável aliado de Carl Brashear, o primeiro mergulhador negro da Marinha dos EUA, cuja história inspirou o filme Homens de Honra.
Poucos conhecem essa conexão brasileira com um dos maiores símbolos de superação do cinema. Prepare-se para descobrir como esse soldado de honra ajudou a reescrever uma parte esquecida dessa saga.
O contexto histórico de Homens de Honra: muito mais que Hollywood
Lançado em 2000, o filme Homens de Honra (Men of Honor) trouxe ao grande público a vida real de Carl Brashear, um homem que desafiou o racismo institucionalizado da Marinha americana nos anos 1950. Nascido em uma época em que as leis de segregação racial ainda vigoravam nos EUA, Brashear enfrentou humilhações, injustiças e obstáculos para se tornar o primeiro negro a alcançar o posto de mergulhador de resgate do exército naval americano.
Uma das cenas mais marcantes retrata um dos testes finais do curso, onde Brashear deveria montar uma peça com ferramentas no fundo do mar. Enquanto os demais candidatos brancos recebiam suas ferramentas em bolsas lacradas, a dele foi rasgada de propósito, obrigando-o a caçar cada peça no escuro e no frio das profundezas. Ele passou mais de nove horas submerso, mas voltou à superfície com a montagem completa, um verdadeiro homem de honra.
Mas o que o filme não mostra é que, ao lado de Carl Brashear, havia um brasileiro, e seu papel foi muito mais importante do que Hollywood contou.
O brasileiro que Hollywood esqueceu
Em entrevista ao jornal A Tribuna, em 2004, Alberto José do Nascimento revelou sua versão da história. Ex-soldado da Marinha brasileira, ele ingressou no temido curso de mergulhadores da Marinha dos EUA em 1956, uma formação considerada uma das mais exigentes do mundo.
Alberto se recorda claramente: “Fui o único amigo do Carl Brashear. Enquanto os americanos o hostilizavam, eu o ajudei. Aquele personagem branco que fica no alojamento no começo do filme? Na vida real, aquele soldado era eu”, afirmou.
Segundo ele, no alojamento, todos os outros militares se recusavam a dividir espaço com Brashear. Apenas Alberto permaneceu. “Fui eu quem ficou no alojamento. Aquele personagem do filme não existiu, foi inspirado em mim. O resto é fantasia. Um homem como aquele não entraria em um curso de elite como aquele. Só os melhores entravam”, completou o ex-soldado de honra brasileiro.
Um resgate real, mas sem reconhecimento para Carl
Outro episódio pouco conhecido envolve uma missão de resgate real. Durante um treinamento, um colega de curso ficou preso em um navio naufragado no fundo do mar. Alberto e Brashear realizaram juntos a operação de salvamento e conseguiram trazer o colega de volta com vida.
Porém, como era comum na época, Carl Brashear não recebeu qualquer reconhecimento oficial. As medalhas e louvores foram entregues apenas a Alberto, pelo simples fato de ele ser branco. “O salvamento aconteceu, mas não como no filme. Não houve medalha para Carl. E quem participou fui eu, não um americano, como foi mostrado na história”, explicou.
Esse episódio exemplifica bem a brutal realidade do racismo que Brashear enfrentava mesmo entre os próprios colegas de exército.
O duelo que nunca aconteceu
Uma das cenas mais dramáticas de Homens de Honra mostra Brashear enfrentando seu comandante, personagem vivido por Robert De Niro, em um confronto público diante de outros aspirantes. Segundo Alberto, isso provavelmente jamais ocorreu.
“Acho difícil ter acontecido daquela forma. No filme, isso se dá em um bar com todos juntos. Na época, os americanos não dividiam espaços com Carl, nem conversavam com ele. A segregação era muito forte. Nos ônibus, os negros só podiam sentar atrás”, relembra.
Esse detalhe reforça como a ficção cinematográfica precisou adaptar certos momentos para criar maior impacto emocional no público.
O teste final: realidade pura
Se por um lado o filme tomou certas liberdades artísticas, em outros momentos foi fiel. Alberto esteve presente quando Brashear enfrentou o famoso teste das ferramentas jogadas no fundo do mar.
“Aconteceu exatamente como no filme. Carl ficou mais de nove horas debaixo d’água. Quase congelou. Mas só saiu com a peça montada. Foi incrível”, conta Alberto.
Esse momento resume como um homem de honra foi capaz de superar limites físicos e emocionais para conquistar um feito histórico.
A trajetória de Alberto José do Nascimento: um pioneiro no Brasil
Natural de Natal, Alberto José do Nascimento iniciou sua carreira na Marinha brasileira e mais tarde buscou qualificação internacional. Em 1954, integrou a turma de mergulhadores da US Navy ao lado de Luiz Oliveira e, após concluir o curso com um rendimento superior a 75%, retornou ao Brasil. Aqui, se tornou um verdadeiro pioneiro no desenvolvimento do mergulho militar. Sua experiência foi fundamental para a evolução das técnicas e equipamentos utilizados no país.
Morreu em novembro de 2018, aos 91 anos, deixando um legado marcante não apenas como instrutor e técnico, mas também como testemunha de uma amizade incomum em tempos de segregação. Mesmo mantendo um perfil discreto, seu testemunho ajuda a preservar a memória dessa incrível história de amizade e resistência.
Um exemplo de amizade e respeito no meio da segregação
A história de Carl Brashear não seria completa sem reconhecer a presença de Alberto José do Nascimento. Num ambiente marcado por hostilidade e preconceito, a amizade entre um soldado brasileiro e o futuro homem de honra da Marinha americana é um símbolo de que, mesmo nos momentos mais sombrios, a empatia e o respeito podem vencer barreiras.
E vale lembrar: embora Hollywood tenha dado luz a essa saga, histórias como a de Alberto merecem ser contadas e celebradas com ainda mais destaque. Se você gostou aproveita e compartilhe com seus amigos!