Alunos, professores e direção da Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) rejeitaram a possibilidade de transferência das atividades da faculdade para o Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (Cefan) da Marinha.
A medida foi pensada para contornar o problema do desabamento do muro da escola, ocorrido no início de maio, que levou à suspensão das aulas até a conclusão das obras de reparo.
Para evitar a perda do semestre, a reitoria decidiu que os alunos teriam aulas práticas no Cefan a partir de 13 de maio, mas a medida gerou discussões e polêmicas.
“Não podemos ir para um local onde não teríamos a liberdade de cátedra; onde regras internas nos impedem de reunir professores e estudantes para debater pautas importantes.
“Nossa comunidade LGBTQIAPN+ pode sofrer violência psicológica por conta do militarismo imposto”, disse a estudante Ana Clara Souza ao jornal O Globo.”
Segundo a aluna do 3º período de Educação Física da UFRJ, eles também não querem sair do espaço da faculdade.
“Ele está aqui para ser ocupado. Não podemos ir embora. Temos que ficar e resolver o problema, seja ele estrutural ou não”.
A diretoria da escola confirmou à publicação que o principal motivo da rejeição da transferência é o receio de que alunos LGBTQIAPN+ fiquem desconfortáveis no novo espaço.
Os alunos ainda relembram que, em junho de 2022, uma estudante trans da UFRJ foi impedida de dar continuidade a um concurso público da Marinha por ser considerada “inapta” para a vaga e precisou entrar na Justiça contra a instituição militar.
Em nota ao jornal O Globo, a Marinha reiterou “seu firme repúdio a condutas e atos que possuam caráter de discriminação de raça, gênero, orientação sexual, crença religiosa e origem social”.
A Força Naval também destacou que o Cefan tem como característica “a colaboração e integração permanente com instituições educacionais e esportivas, sem qualquer discriminação”.
Sobre o episódio da aluna trans, a Marinha confirmou que a militar foi incorporada em 2022 em cumprimento a uma decisão judicial.
Apesar de ser o principal desconforto, a pauta de diversidade não é a única que faz os alunos não quererem ir pro Cefan. Também estão sendo discutidas questões como logística de transporte, alimentação e possibilidade de aulas remotas.
Importância do Cefan
Na revista de 50 anos do Cefan, publicada em 2023, o contra-almirante Reinaldo Reis de Medeiros, então comandante do Centro, afirmou que atualmente o Cefan “é considerado referência não só como local de treinamento para esportes de alto rendimento nas modalidades militares, olímpicas e paralímpicas, mas também como exemplo da inclusão social por meio do esporte e como centro esportivo com capacidade para realizar grandes eventos do desporto e com excelência na área de ensino da Educação Física”.
O militar ainda diz no texto que “o Cefan se destaca pela característica multidisciplinar, com competência em planejamento e execução de pesquisas científicas sobre desempenho físico, práticas desportivas e todas as áreas relativas às ciências do exercício e do esporte”.