Revista Sociedade Militar, todos os direitos reservados.

A supremacia chinesa nos carros elétricos: Entenda por que a indústria de VEs do Ocidente está tão atrás da China

por Sérvulo Pimentel Publicado em 09/09/2024 — Atualizado em 10/09/2024
A supremacia chinesa nos carros elétricos: Entenda por que a indústria de VEs do Ocidente está tão atrás da China

A corrida global pela eletrificação dos transportes está deixando a indústria ocidental para trás. A China, com sua visão de longo prazo e investimentos massivos, já domina o mercado de veículos elétricos (VE), enquanto o Ocidente enfrenta dificuldades para acompanhar o avanço do gigante asiático.

A China lidera o mercado global graças a investimentos substanciais, forte apoio governamental e uma cadeia de suprimentos robusta e bem estruturada. Enquanto isso, países como os Estados Unidos e a Alemanha lutam para diminuir essa diferença. A seguir, explicamos os motivos desse atraso, de acordo com informações da revista norte-americana Foreign Policy.

Liderança chinesa em números

A China decidiu, há alguns anos, que a eletrificação dos transportes era crucial para combater a poluição e garantir seu futuro energético.

Para isso, o governo chinês criou políticas e incentivos muito fortes para as empresas que investissem nesse setor.

  • Subsídios generosos: O governo chinês oferece grandes subsídios para quem compra um carro elétrico, tornando-os muito mais baratos para o consumidor.
  • Infraestrutura: A China investiu pesado em estações de carregamento, garantindo que os donos de carros elétricos tenham onde recarregar seus veículos.
  • Indústria forte: As empresas chinesas, como a BYD, se tornaram líderes mundiais na produção de baterias e carros elétricos, com preços competitivos e tecnologia avançada.

A China domina a produção de veículos elétricos com quase 60% do mercado global em 2023. Empresas como BYD e Nio se destacam, competindo de igual para igual com a americana Tesla.

Além disso, a China controla aproximadamente 70% da produção mundial de baterias de lítio, componente crucial para os carros elétricos.

O governo chinês também investiu mais de US$ 100 bilhões em subsídios nos últimos anos, fomentando o crescimento acelerado do setor.

O atraso do Ocidente

Enquanto isso, no Ocidente, a transição para os carros elétricos tem sido mais lenta.

  • Dependência do petróleo: Muitas economias ocidentais dependem da indústria do petróleo, o que cria resistências à mudança para os carros elétricos.
  • Falta de incentivos: Embora alguns países ofereçam incentivos para a compra de carros elétricos, eles são geralmente menores do que os da China.
  • Infraestrutura insuficiente: A infraestrutura de carregamento de carros elétricos ainda é limitada em muitos países do Ocidente.

Nos Estados Unidos e na Europa, as montadoras ocidentais ainda estão se ajustando ao novo cenário. Embora empresas como a Tesla e a Volkswagen tenham feito progressos, a produção de baterias, peça fundamental para a expansão dos elétricos, ainda depende fortemente da China.

Em 2023, por exemplo, os EUA produziam apenas 10% das baterias globais, enquanto a Europa, liderada pela Alemanha, ficava com 7%.

Políticas governamentais

Outro fator importante é o apoio governamental. Nos EUA, o governo Biden anunciou um pacote de US$ 369 bilhões em incentivos para a produção de veículos elétricos e energia limpa. Na Europa, iniciativas como o “Green Deal” prometem acelerar a transição, mas o impacto ainda não é visível.

Já o governo chinês implementou políticas públicas robustas para incentivar a produção e a venda de veículos elétricos. Além dos subsídios, foram estabelecidas cotas obrigatórias para a produção de veículos elétricos pelas montadoras e restrições à circulação de veículos a combustão em algumas cidades.

Empresas em foco

A Tesla, vale destacar, continua sendo a principal montadora ocidental de carros elétricos, com mais de 1 milhão de veículos vendidos em 2023. No entanto, sua dependência da cadeia de suprimentos chinesa é notável. A Volkswagen também tem investido pesadamente no setor, mas ainda enfrenta desafios para competir em escala global.

No caso das baterias, empresas como a CATL e BYD dominam, deixando suas concorrentes ocidentais muito atrás.

Uma estratégia de longo prazo

A China não começou hoje, seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento de veículos elétricos se iniciaram há mais de uma década, muito antes de outros países perceberem o potencial desse mercado.

O governo chinês à época estabeleceu metas ambiciosas para a eletrificação do transporte e ofereceu incentivos generosos para fabricantes e consumidores, como subsídios, isenções fiscais e infraestrutura de carregamento.

Essa estratégia de longo prazo permitiu que a China desenvolvesse uma cadeia de suprimentos robusta e competitiva, dominando a produção de baterias, motores elétricos e outros componentes essenciais para os EVs.

Escala e economia de produção

A enorme escala da produção de veículos na China, aliada aos investimentos em tecnologia, permitiu que as empresas chinesas reduzissem significativamente os custos de produção. Isso se traduz em preços mais competitivos para os consumidores, impulsionando as vendas e aumentando a participação de mercado.

Empresas como a BYD, a maior fabricante de veículos elétricos do mundo, conseguiram oferecer carros elétricos com preços bastante atrativos, tornando essa tecnologia mais acessível para um público mais amplo.

Infraestrutura de carregamento

A China, como já mencionado, também investiu pesadamente na construção de uma rede de carregadores para veículos elétricos, o que é fundamental para a adoção em massa dessa tecnologia. A disponibilidade de pontos de carregamento dá aos consumidores mais confiança para adquirir um carro elétrico, sabendo que poderão recarregar suas baterias com facilidade.

Incentivos governamentais e políticas públicas

O governo chinês implementou políticas públicas robustas para incentivar a produção e a venda de veículos elétricos. Assim, além dos subsídios, foram estabelecidas cotas obrigatórias para a produção de veículos elétricos pelas montadoras e restrições à circulação de veículos a combustão em algumas cidades.

O que o Ocidente está fazendo?

Os Estados Unidos e a Europa, por sua vez, estão tentando recuperar o tempo perdido, investindo bilhões de dólares em incentivos fiscais, pesquisa e desenvolvimento, e infraestrutura de carregamento. No entanto, a China já possui uma grande vantagem e será difícil para o Ocidente ultrapassá-la a curto prazo.

Para a Foreign Policy, os desafios para o Ocidente são o seguinte:

  • Custos de produção: As empresas ocidentais ainda enfrentam desafios para reduzir os custos de produção de seus veículos elétricos, o que dificulta a concorrência com os preços mais baixos dos modelos chineses.
  • Cadeia de suprimentos: A dependência de componentes chineses, como baterias, pode limitar a capacidade das empresas ocidentais de produzir veículos elétricos de forma autônoma.
  • Infraestrutura: A infraestrutura de carregamento em muitos países ocidentais ainda é insuficiente, o que desestimula a adoção de veículos elétricos.
Sérvulo Pimentel

Sérvulo Pimentel

Apaixonado pela língua portuguesa e pelo universo militar, Sérvulo é professor há dez anos e atua como redator há cinco, sendo um especialista na produção de notícias sobre Defesa Nacional e sociedade militar. Na Revista Sociedade Militar, dedica-se a levar informações confiáveis e bem apuradas ao público, sempre prezando pela responsabilidade jornalística e imparcialidade. Seu compromisso é contribuir para um debate informado e acessível sobre temas estratégicos e sociais, aproximando os leitores das principais questões que envolvem as Forças Armadas e a sociedade.