Revista Sociedade Militar, todos os direitos reservados.

Erdogan choca o mundo ao solicitar entrada da Turquia no BRICS: primeiro país da OTAN a romper com a ordem global dos EUA

por Sérvulo Pimentel Publicado em 04/09/2024
Erdogan choca o mundo ao solicitar entrada da Turquia no BRICS: primeiro país da OTAN a romper com a ordem global dos EUA

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, surpreendeu a comunidade internacional ao solicitar a adesão de seu país ao grupo BRICS, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, segundo informações do periódico turco Dayly Sabah. Essa decisão marca uma reviravolta na política externa turca, especialmente após uma série de ações recentes que indicaram uma guinada em direção ao Ocidente e um distanciamento das relações estreitas com a Rússia. Se aceita, a Turquia se tornará o primeiro membro da OTAN a integrar o BRICS, grupo que se posiciona como um contrapeso à ordem global liderada pelo Ocidente.

A mudança de rumos na política externa Turca

No ano passado, Erdogan tomou uma série de medidas que demonstram um alinhamento mais forte com o Ocidente, como informado pela Revista Sociedade Militar. Em julho de 2023, o presidente turco concordou em enviar o Protocolo de Adesão da Suécia à OTAN ao parlamento turco. Em troca, a Suécia se comprometeu a apoiar a entrada da Turquia na União Europeia. Esse movimento foi visto como um passo importante na reafirmação da Turquia como um aliado-chave no cenário ocidental, mas também trouxe consigo a necessidade de impor sanções mais duras à Rússia, o que inevitavelmente tensionou as relações entre Ancara e Moscou.

Além disso, Erdogan expressou publicamente seu apoio à adesão da Ucrânia à OTAN, destacando que o país merece ser membro da aliança após a guerra com a Rússia. Essa declaração, feita em 8 de julho de 2023, reforçou a percepção de que a Turquia estava se afastando de sua postura neutra anterior em relação ao conflito entre Rússia e Ucrânia, aproximando-se mais da posição adotada por outros membros da OTAN.

Ações de confronto com a Rússia

A ruptura de Erdogan com a Rússia foi ainda mais evidente quando o presidente turco decidiu libertar cinco comandantes ucranianos que haviam lutado na usina de Azovstal, violando um acordo previamente estabelecido com o presidente russo, Vladimir Putin. Esses comandantes, considerados heróis na Ucrânia, foram recebidos com grande celebração em seu país, e a ação de Erdogan foi amplamente elogiada pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. No entanto, esse gesto de solidariedade à Ucrânia representou uma grave quebra nos acordos diplomáticos entre Turquia e Rússia.

Outro movimento arriscado de Erdogan foi o anúncio de que a marinha turca escoltaria navios ucranianos no Mar Negro, mesmo diante da recusa da Rússia em prolongar o acordo de exportação de grãos. A decisão de Erdogan não só sublinhou o compromisso da Turquia com a segurança da Ucrânia, mas também indicou uma disposição para confrontar diretamente a Rússia em questões de segurança marítima e comercial, algo que inevitavelmente elevou as tensões na região.

Por fim, Erdogan também deu início à construção de uma fábrica de drones Bayraktar na Ucrânia. Esses drones, que têm desempenhado um papel crucial na defesa ucraniana contra as forças russas, serão produzidos em solo ucraniano com tecnologia turca e motores ucranianos. A construção da fábrica, além de fortalecer a cooperação militar entre Turquia e Ucrânia, foi vista como mais um sinal claro do afastamento de Erdogan das boas relações que ele havia cultivado com Putin nos últimos anos.

O pedido de adesão ao BRICS

Apesar dessas ações que evidenciam uma aproximação ao Ocidente, Erdogan agora busca fortalecer laços com o bloco BRICS, composto por alguns dos principais adversários geopolíticos da OTAN/Ocidente. O pedido oficial de adesão da Turquia ao BRICS é visto como uma estratégia de diversificação das alianças internacionais da Turquia, em um contexto de frustração com o lento progresso em sua tentativa de ingressar na União Europeia.

A entrada da Turquia no BRICS, se confirmada, representaria um  claro desafio para a ordem global liderada pelo Ocidente. O BRICS se apresenta como uma alternativa às instituições dominadas pelo Ocidente, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, e sua ampliação recente, que incluiu novos membros como Irã, Emirados Árabes Unidos e Egito, reflete a crescente influência desse bloco no cenário global.

Para Erdogan, essa manobra diplomática parece ser uma tentativa de equilibrar as relações da Turquia com o Oriente e o Ocidente, cumprindo suas obrigações como membro da OTAN enquanto busca novas oportunidades econômicas e políticas em um mundo cada vez mais multipolar.

Sérvulo Pimentel

Sérvulo Pimentel

Apaixonado pela língua portuguesa e pelo universo militar, Sérvulo é professor há dez anos e atua como redator há cinco, sendo um especialista na produção de notícias sobre Defesa Nacional e sociedade militar. Na Revista Sociedade Militar, dedica-se a levar informações confiáveis e bem apuradas ao público, sempre prezando pela responsabilidade jornalística e imparcialidade. Seu compromisso é contribuir para um debate informado e acessível sobre temas estratégicos e sociais, aproximando os leitores das principais questões que envolvem as Forças Armadas e a sociedade.