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Rússia revive tradição soviética e constrói memoriais de guerra em massa para inflamar patriotismo e legitimar guerra; estátuas armadas e símbolos de agressão surgem até em áreas indígenas

por Sérvulo Pimentel Publicado em 12/09/2024
Rússia revive tradição soviética e constrói memoriais de guerra em massa para inflamar patriotismo e legitimar guerra; estátuas armadas e símbolos de agressão surgem até em áreas indígenas

Segundo o site The Barents Observer, a Rússia está intensificando a produção de memoriais de guerra em homenagem aos soldados mortos na guerra contra a Ucrânia. Sob o pretexto de inspirar patriotismo e honrar os mortos, a Rússia está utilizando os monumentos militares como uma ferramenta de propaganda para justificar a guerra na Ucrânia e fortalecer o apoio popular ao regime até mesmo em áreas indígenas e remotas, como Lovozero, na Península de Kola, lar do povo Sami.

Símbolos da guerra e propaganda estatal

Esses memoriais incluem estátuas de soldados com armas e símbolos da agressão russa, como as letras Z, V e O, amplamente usadas pela propaganda do governo para justificar a invasão da Ucrânia.

O novo memorial de guerra em Lovozero. (Foto: página local VK Lovozero51)

Expansão para áreas remotas

A construção de monumentos de guerra não se limita às grandes cidades. Em pequenas vilas e regiões afastadas, como Taymyr e Yamal-Nenets, no Ártico, novas estátuas têm surgido. O prefeito de Taz, em Taymyr, inaugurou um memorial em dezembro de 2023 dedicado aos “protetores da Rússia”, destacando a coragem e a bravura dos soldados. Em Yamal, o governador Dmitry Artyukhov participou da inauguração de vários monumentos em cidades como Novy Urengoy e Salekhard, sublinhando a importância de manter viva a memória dos heróis de guerra.

Empresas de monumentos em alta demanda

A demanda por esses memoriais cresceu significativamente, e empresas especializadas estão na linha de frente dessa produção. A Lit Art, de Moscou, é uma das mais tradicionais no ramo. Ao longo de décadas, a empresa foi responsável por criar monumentos de estilo patriótico encomendados pelas autoridades russas, como o memorial dedicado aos militares do FSB na sede do Serviço de Segurança em Moscou. Agora, a Lit Art também está envolvida na produção dos novos monumentos, como o que foi erguido em Luostary, na Península de Kola.

Esculturas da empresa Lit Art. Uma delas está hoje erguida em Luostari, Península de Kola. (Fotos: litart.ru)

Outra empresa, a Pilon Stone, oferece lápides personalizadas para famílias que perderam entes queridos na guerra. Com valores a partir de 146.800 rublos (cerca de € 1.570), as lápides incluem imagens de soldados armados e outros símbolos militares. A crescente demanda por essas lápides levou o governo russo a criar programas de suporte financeiro para as famílias, que podem receber até 50.000 rublos (€ 524) para cobrir parte dos custos. No entanto, monumentos mais elaborados, com acessórios e fotos, podem custar mais de 400.000 rublos (€ 4.200).

Monumentos como propaganda

Além de homenagear os mortos, esses monumentos servem como uma ferramenta de propaganda. Ao glorificar os soldados e as batalhas travadas pela Rússia, os memoriais ajudam a reforçar a narrativa do governo, que busca justificar as pesadas perdas humanas no conflito com a Ucrânia. Especialistas apontam que, ao contrário de monumentos tradicionais que exaltam a paz e a reconciliação após os conflitos, os novos memoriais russos destacam o militarismo e a continuidade da guerra, alimentando um sentimento de preparação para novos confrontos.

O novo memorial em Salekhard. (Foto: página VK do governador Dmitry Artyukhov)

Essa proliferação de monumentos militares impulsionada por Moscou serve como uma ferramenta de propaganda do governo russo. Ao glorificar a guerra e os soldados, o governo busca fortalecer o apoio popular à invasão da Ucrânia, mesmo nas regiões mais distantes e isoladas do país, e criar um clima de patriotismo exacerbado.

Sérvulo Pimentel

Sérvulo Pimentel

Apaixonado pela língua portuguesa e pelo universo militar, Sérvulo é professor há dez anos e atua como redator há cinco, sendo um especialista na produção de notícias sobre Defesa Nacional e sociedade militar. Na Revista Sociedade Militar, dedica-se a levar informações confiáveis e bem apuradas ao público, sempre prezando pela responsabilidade jornalística e imparcialidade. Seu compromisso é contribuir para um debate informado e acessível sobre temas estratégicos e sociais, aproximando os leitores das principais questões que envolvem as Forças Armadas e a sociedade.