A frota militar russa no Mediterrâneo enfrenta uma crise sem precedentes, diretamente ligada ao colapso do regime de Bashar al-Assad na Síria. A saída do submarino “Novorossiysk” de Gibraltar, sem substituto previsto, marca um ponto crítico para Moscou, que desde 2013 mantém submarinos da classe “Kilo” como peça-chave para monitorar e pressionar a região. Silenciosos e equipados com mísseis de longo alcance, os “Kilo” representam uma ameaça constante para a OTAN e um fator estratégico na área.
A base operacional desses submarinos estava em Tartus, na costa síria de Latakia, um reduto do regime Assad. A infraestrutura foi ampliada com investimentos massivos há mais de uma década, mas o fim da ditadura coloca em xeque o futuro dessas operações. Com a troca de poder em Damasco, o governo local – alvo de ataques russos por anos – não demonstra interesse em manter a parceria com Moscou.
Frota russa ameaça abandonar a Síria e migra para alternativas
A fragilidade da presença russa é evidenciada pela situação do mercante “Sparta”, que aguarda autorização para atracar no porto de Tartus desde o último domingo. A embarcação é parte de um esforço maior para retirar equipamentos militares e sistemas defensivos. Fragatas russas, como a “Grigorivich” e a “Gorshkov”, posicionam-se estrategicamente para garantir segurança às operações de retirada.
Além disso, três navios anfíbios e outros dois cargueiros estão a caminho para resgatar as brigadas estacionadas na Síria. Já a embarcação de espionagem “Yantar”, conhecida por sua capacidade de operar submarinos não tripulados e mapear cabos submarinos, foi deslocada para o Mar Egeu, sendo monitorada de perto pela OTAN.
Impasse russo no Mediterrâneo coloca pressão em novos aliados
Com o futuro incerto em Tartus, Vladimir Putin enfrenta o desafio de manter a relevância estratégica da Rússia no Mediterrâneo. Uma alternativa considerada é reforçar a presença na Líbia, em particular na região da Cirenaica, controlada pelo marechal Khalifa Haftar. Moscou já opera dois aeroportos no local e negocia a criação de uma base marítima em Tobruk.
No entanto, essa movimentação pode aumentar as tensões com a Turquia, que apoia o governo rival em Trípoli, e com a OTAN, devido à proximidade dos portos líbios com a base de Sigonella, na Sicília, e outros pontos estratégicos do sul da Europa.
Submarinos nucleares ou apoio argelino podem ser soluções
Para manter sua frota de submarinos no Mediterrâneo, a Rússia pode recorrer à Argélia, país que opera embarcações da classe “Kilo”, para assistência temporária. Outra possibilidade é o envio de submarinos nucleares, capazes de operar por meses sem precisar emergir. Em 2022, Moscou já utilizou essa estratégia em um momento de tensão nuclear com o Ocidente.
O dilema russo reflete as dificuldades de adaptação frente a mudanças políticas no Oriente Médio. O destino de sua frota no Mediterrâneo permanece incerto, mas qualquer decisão trará impactos significativos para a segurança regional e a geopolítica global.
Com informações de: repubblica