Após 2 meses de estudos, o Estado-Maior do Exército deu início à reformulação dos kids pretos, conforme veiculado há meses pela imprensa. As informações são do colunista de política do Estadão, Marcelo Godoy, e foram divulgadas nesta segunda-feira, 3 de março.
Entre as medidas para desidratar as tropas, que estiveram no centro das operações militares clandestinas para impedir a posse do presidente Lula, estão a retirada do curso de Operações Psicológicas do Comando de Operações Especiais, em Goiânia (GO), e a transferência dele para o Centro de Estudos de Pessoal, no Rio de Janeiro (RJ).
De acordo com investigações da Polícia Federal, os conhecimentos do curso de Operações Psicológicas estavam sendo usados para encurralar generais que não queriam romper a legalidade.
O Exército ainda diminuiu de 70 para 48 o total de vagas do Curso de Ações de Comandos, obrigatório para quem pretende ser um kid preto.
Além disso, segundo apurou Godoy, um grupo de trabalho da Força Terrestre vai entregar neste mês de março um relatório para propor o enxugamento de suas organizações militares, preservando apenas o 1º Batalhão de Ações de Comando e o 1º Batalhão de Forças Especiais.
Para o Alto Comando do Exército, o Comando de Operações Especiais teria se tornado um “exército dentro do Exército”, com autossuficiência excessiva e desempenho de funções para além do programado. Por isso, agora tenta recuperar a disciplina e a hierarquia dentro da Força, evitando a atuação ilegal das tropas.
Os kids pretos presos por suposto envolvimento no plano de golpe de Estado são o general de brigada Mario Fernandes (na reserva), o tenente-coronel Helio Ferreira Lima e os majores Rodrigo Bezerra Azevedo e Rafael Martins de Oliveira.
Pesquisador do meio militar diz que Brasil tem mais oficiais do que o necessário nas Forças Especiais
“O Brasil tem hoje mais oficiais do que necessário nessas organizações, lhes faltando comando e direção”. A afirmação é do historiador e professor aposentado da UFF (Universidade Federal Fluminense), Manuel Domingos Neto.
O argumento do pesquisador do meio militar há mais de 50 anos foi publicado no dia 8 de janeiro pela Agência Pública em resposta ao que ele acha da ideia de dissolver o Comando de Operações do Exército, após a participação de diversos oficiais no suposto plano de golpe de Estado investigado pela Polícia Federal.
Manuel Domingos Neto se mostrou contra a medida.
“Não há a menor possibilidade de um exército moderno não possuir um contingente preciso, altamente treinado para missões extraordinárias. É inviável essa ideia, parece coisa de quem não estudou os militares, de quem não conhece o meio nem seu motivo de existir”.
Entretanto, o historiador formado pela Universidade de Paris disse em seguida que se deve repensar o tamanho, o emprego e a precisão das Forças Especiais.
“Acredito que deve haver, no máximo, 2 ou 3 companhias de Forças Especiais, para atender a situações de emergência, e o atual comando parece atento ao caso, como se viu na decisão do Estado-Maior do Exército de formar um grupo de trabalho para propor uma nova diretriz para o Comando de Operações Especiais” .
A criação do grupo citado por Manuel Domingos foi oficializada em 13 de dezembro de 2024 e publicada na edição 51/2024 do Boletim do Exército.