Em meio ao isolamento global e à rigidez do regime norte-coreano, um problema incomum tem sido cada vez mais frequente: soldados do exército da Coreia do Norte estão vendendo seus equipamentos militares para obter dinheiro e comprar comida.
Esta situação inédita não só reflete a escassez de recursos nas forças armadas, mas também revela o impacto devastador da crise alimentar que atinge a população e as forças de segurança do país.
A fome tem afetado a rotina dos militares e a venda de itens essenciais, como barracas e cantis, se tornou uma medida de sobrevivência.
Soldados famintos recorrem ao mercado paralelo
Em uma prática chocante, soldados norte-coreanos estão se desfazendo de itens militares valiosos em um mercado paralelo, buscando dinheiro para comprar alimentos.
Segundo fontes locais e relatos da Radio Free Asia (RFA), os itens mais vendidos são aqueles usados com menor frequência nos treinamentos diários, como barracas, lancheiras, cantis e recipientes impermeáveis.
Embora o regime de Kim Jong-un tenha um controle rigoroso sobre a população, o governo tem se mostrado impotente diante dessa crise interna, que já afeta até mesmo as forças militares.
Esses equipamentos militares, que são de melhor qualidade do que os produtos disponíveis para a população civil, passaram a ser vistos como um recurso valioso para a troca no mercado negro.
A disparidade entre os suprimentos civis e militares torna os itens do exército muito mais desejáveis no mercado paralelo.
Além disso, muitos soldados acreditam que a ausência desses itens não será notada nas inspeções diárias, pois eles não são frequentemente utilizados nas atividades de treinamento.
Isso contribui para a proliferação dessa prática, que tem sido observada em diversas províncias do país, como Hamgyong do Norte e Pyongan do Norte.
O impacto da escassez alimentar nas Forças Armadas
O fenômeno da fome entre os militares da Coreia do Norte não é algo novo.
Relatos de moradores indicam que, ao longo de décadas, os soldados enfrentam uma crise alimentar profunda, com racionamento de comida e baixos salários.
Muitos têm recorrido ao mercado negro ou pedido ajuda às suas famílias para garantir o mínimo para sua sobrevivência.
O governo norte-coreano, que mantém um rígido controle sobre a distribuição de alimentos, não tem conseguido atender às necessidades básicas de seus cidadãos, o que também reflete diretamente no bem-estar dos militares.
Inspeções intensificadas e punições rigorosas
Diante dessa crise, as autoridades norte-coreanas começaram a intensificar as inspeções nas unidades militares para identificar e punir aqueles que estão se desfazendo de seus equipamentos.
Essas inspeções tornaram-se regulares nas últimas semanas, conforme relatado por um morador da província de Hamgyong do Norte.
Durante essas verificações, muitos soldados foram flagrados sem os itens obrigatórios, como recipientes de arroz e tendas pessoais, que são essenciais para a rotina militar.
De acordo com o mesmo morador, os soldados que forem pegos sem os equipamentos podem enfrentar punições severas.
Entre as possíveis punbições, estão a devolução dos itens vendidos ou o pagamento por eles.
Em alguns casos, os militares podem ser questionados sobre como se desfizeram dos materiais e serão forçados a dar explicações detalhadas sobre o ocorrido.
Essas medidas visam coibir a venda de equipamentos, mas, como afirmam especialistas, a falta de alimentos e recursos básicos é um problema muito mais profundo e difícil de resolver.
A crise alimentar como parte de um problema estrutural
A situação das Forças Armadas da Coreia do Norte é apenas um reflexo de uma crise alimentar muito mais ampla.
A fome é uma constante para grande parte da população norte-coreana, e a escassez de alimentos está no centro dessa questão.
Especialistas apontam que a Coreia do Norte enfrenta um colapso no setor agrícola, o que dificulta a produção de alimentos e leva à escassez generalizada.
Enquanto o regime tenta ocultar a realidade por trás de um forte controle de informações, os relatos de fome e miséria são uma constante em diversas partes do país.
Essa crise não afeta apenas os soldados, mas também a população civil, que sofre com a falta de alimentos básicos.
Muitos norte-coreanos têm que viver com porções mínimas de arroz e outros alimentos, enquanto o mercado paralelo, abastecido principalmente por itens militares, cresce como uma alternativa de sobrevivência.
A situação é cada vez mais crítica, e o regime parece estar sem alternativas para resolver a crise.
Relação com a guerra na Ucrânia: os soldados norte-coreanos no campo de batalha
Além da grave crise interna, a Coreia do Norte tem se envolvido no cenário internacional de maneira controversa.
Relatórios de inteligência da Coreia do Sul indicam que soldados norte-coreanos estão lutando ao lado das forças russas na guerra da Ucrânia.
Embora tanto o governo russo quanto o regime de Kim Jong-un neguem essas alegações, documentos de inteligência ucranianos mostram que cerca de 12.000 soldados da Coreia do Norte foram enviados para a região de Kursk, onde o exército russo enfrenta dificuldades para avançar devido à resistência ucraniana.
A presença desses soldados no conflito também tem gerado uma série de problemas.
Estima-se que as baixas entre os soldados norte-coreanos são extremamente altas, o que só agrava ainda mais a difícil situação interna do regime.
Além disso, a participação da Coreia do Norte na guerra levanta questões sobre os custos dessa aliança com a Rússia e como isso pode afetar a já debilitada economia do país.