A Marinha do Brasil (MB) esteve no centro de um esforço internacional inédito entre 24 e 28 de março. Através de uma iniciativa do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), o Brasil sediou o primeiro workshop destinado a criar o manual de artilharia para a Organização das Nações Unidas (ONU). O encontro reuniu representantes militares de nove outros países nas instalações do Centro de Operações de Paz e Humanitárias de Caráter Naval (COpPazNav), localizado na Ilha do Governador, Rio de Janeiro.
Os trabalhos visam ao desenvolvimento de um guia lógico, completo e prático para apoiar unidades de artilharia e militares em missões de paz, além de garantir a devida diligência da ONU no uso de fogo indireto em suas operações, incluindo o apoio de fogo naval.
O manual não deverá apenas apontar as necessidades operacionais, mas também os valores de cooperação e paz que orientam as missões da Organização.
Cooperação internacional: um grupo de trabalho multinacional
O grupo de trabalho é formado por dezoito especialistas, sendo três civis da ONU, três militares da MB, um do Exército Brasileiro e mais 12 de outros países, como Bangladesh, Gana, Holanda, Marrocos, Nigéria, Paquistão, Uruguai, Zâmbia e Zimbábue.
O coordenador do grupo, brigadeiro Raymond Utsaha, do Exército da Nigéria, apresentou as ideias gerais que serão discutidas.
“Pretendemos abordar sobre o emprego da artilharia, as necessidades logísticas e de organização, os princípios que vão conduzir as operações e o pessoal em missões de paz, principalmente no nível tático.”
Expertise brasileira e a força da diversidade no Projeto
Com mais de 20 anos na área de artilharia, o subcoordenador das atividades, capitão de mar e guerra (fuzileiro naval) Rodrigo Rodrigues Fonseca, revelou que já contribuiu para construção de outros manuais da ONU e atuou em missões de paz no Haiti e no Líbano.
Ele ainda destacou a importância da diversidade de perspectivas para a confecção de um manual robusto.
“A junção do conhecimento de especialistas de diferentes países é fundamental para que este manual da ONU funcione. É necessário padronizar os procedimentos e requisitos para que as tropas sejam empregadas”, afirmou.
Como o Manual de Artilharia da ONU está sendo criado
Com esses objetivos em tela, os debates identificaram os ambientes operacionais contemporâneos e futuros das operações de paz da ONU, o que permitiu definir os efeitos desejados, os limites e as liberdades táticas, nos diversos campos de atuação, além dos aspectos técnicos, legais e políticos.
A minuta redigida pelo grupo, que inclui alguns tópicos como Conceito de Emprego, Organização, Capacidade e Tarefas, Logística, Treinamento e Avaliação para o emprego será encaminhada para o Departamento de Operações de Paz da ONU para análise.
O documento concebido no Brasil passará por outras etapas até a aprovação final e publicação, prevista para o final deste ano.
Ao sediar esse processo, a Marinha reforça sua posição relevante no cenário internacional, com ênfase nas missões de paz e humanitárias. O próximo workshop sobre o assunto acontecerá, em julho, na Nigéria.
Impacto global e o papel do Brasil nas Operações de Paz
Criado em 2008, o COpPazNav prepara militares da Marinha, do Exército, da Forças Aérea e das Forças Auxiliares, bem como militares de nações amigas e servidores civis, para atuarem em missões de paz e humanitárias.
De acordo com divulgação institucional da Marinha, o Centro é responsável por disseminar conhecimentos e experiências adquiridos nessas áreas, contribuindo, ainda, para a formulação de doutrinas para tais operações.
Nos anos de 2020 e 2021, respectivamente, o COpPazNav recebeu as certificações do Curso de Operações de Paz de Caráter Naval (United Nations Maritime Task Force Course) e do Curso Internacional de Operações de Paz Ribeirinhas (United Nations Military Riverine Unit Course), assinadas pelo subsecretário-geral das Nações Unidas para Operações de Paz, Jean Pierre Lacroix.
Essas certificações consolidaram o Centro como referência no treinamento para as missões de paz da ONU, especialmente em ambiente marítimo e ribeirinho, sendo o único no mundo a obter a qualificação nas duas áreas propostas.