Apesar dos esforços diplomáticos, analistas do CEPA (Centro de Análise de Política Europeia) afirmam que um cessar-fogo na Ucrânia ainda está fora de alcance. A Rússia mantém operações ofensivas intensas e, segundo imagens de satélite e relatórios de inteligência, reforça suas tropas em preparação para uma nova campanha militar entre o verão e o outono.
Atualmente, a Rússia perde entre 800 e 1.000 soldados por dia, segundo o pesquisador Nico Lange. Mesmo assim, Moscou considera a situação sob controle, indicando que não há intenção de recuar ou abrir espaço para uma trégua real. As movimentações no campo de batalha contradizem qualquer expectativa de paz no curto prazo.
Delegação russa chega despreparada às negociações
Durante as últimas rodadas de negociação, a delegação da Rússia demonstrou desorganização e ausência de metas claras. De acordo com Hanna Shelest, também membro sênior do CEPA, os representantes russos apresentaram propostas divergentes entre si. O único ponto de convergência era a exigência pelo fim das sanções.
Esse comportamento fragilizou a credibilidade das tratativas e levantou suspeitas entre os mediadores. Ao mesmo tempo, ataques aéreos continuam sendo registrados em cidades como Kharkiv e Kiev, mesmo durante momentos de diálogo. Isso compromete a confiança em qualquer proposta de cessar-fogo na Ucrânia apresentada por Moscou.
Rússia tenta deslegitimar a Ucrânia e isolar aliados
A estratégia diplomática russa, segundo o Dr. Evgeny Roshchin, é minar a legitimidade da Ucrânia nas negociações. Moscou acusa Kiev de violar acordos informais, enquanto tenta atrair os Estados Unidos para conversas bilaterais, marginalizando os ucranianos e criando divisões na aliança transatlântica.
Analistas também alertam que, caso Washington mude sua postura — principalmente sob nova liderança política — pode haver uma reaproximação com Moscou em detrimento da causa ucraniana. A Rússia aposta no tempo como ferramenta estratégica, aguardando a fragmentação do apoio ocidental.
Europa prepara arquitetura de segurança pós-cessar-fogo
Mesmo sem sinais imediatos de trégua, países como Reino Unido e França iniciam o desenho de uma nova arquitetura de segurança europeia. Uma reunião da “Coalizão dos Dispostos”, marcada para ocorrer em Bruxelas, discute a presença militar contínua na Ucrânia, com defesa aérea, forças navais e apoio logístico direto às Forças Armadas ucranianas.
A proposta não prevê tropas de paz tradicionais, mas sim uma aliança operacional. Contudo, especialistas alertam que qualquer ação desse tipo dependerá de garantias de segurança dos Estados Unidos — especialmente em termos de proteção nuclear e apoio logístico de longo prazo.
Ucrânia amplia produção e busca parcerias bilaterais
Enquanto o cessar-fogo na Ucrânia não se concretiza, o país investe em produção nacional de drones e munições de longo alcance. Kiev também busca acordos de segurança bilaterais com países europeus, abandonando a antiga postura de dependência total de aliados ocidentais.
Esse reposicionamento transforma a Ucrânia em parceira estratégica regional no campo militar e da inteligência. Mas, segundo Shelest, qualquer avanço diplomático hoje seria apenas simbólico: “Não estamos mais perto de um cessar-fogo. O que vemos são acordos de relações públicas, sem substância real.”