Em um dos momentos mais delicados da disputa territorial entre Guiana e Venezuela nos últimos anos, o governo guianense denunciou nesta quinta-feira, 15 de maio de 2025, três novos ataques armados contra suas tropas militares na fronteira oeste, na região de Essequibo.
Segundo a Força de Defesa da Guiana (GDF), homens fortemente armados abriram fogo contra soldados guianenses que realizavam patrulhamento nas imediações do rio Cuyuní, zona sensível entre os dois países e parte do território em disputa.
“Em cada ocasião, a Força de Defesa da Guiana executou uma resposta ponderada, e nenhum militar ficou ferido”, informou a GDF em comunicado oficial.
Segundo informações do portal Veja, a nota divulgada na manhã de quinta-feira (15/05) não identifica os autores dos disparos, mas sugere que se trata de forças pró-Venezuela ou milícias atuando sob influência de Caracas, já que os ataques ocorrem a poucos dias das eleições regionais convocadas pelo presidente Nicolás Maduro para o território em litígio.
Região estratégica vira foco de tensões militares e políticas
Essequibo é uma vasta área de cerca de 160 mil km² que representa quase 74% do território administrado pela Guiana desde sua independência do Reino Unido, em 1966.
No entanto, a Venezuela reivindica a soberania sobre a região desde o século XIX, baseando-se na tese de que a arbitragem feita em Paris em 1899 foi injusta.
A disputa, que há décadas era tratada por meios diplomáticos, ganhou novos contornos em 2023, quando Maduro promoveu um referendo nacional para incorporar oficialmente Essequibo ao mapa venezuelano.
Embora 95% dos votos tenham sido favoráveis à anexação, o processo foi duramente criticado por organismos internacionais por falta de legitimidade e baixa participação popular.
A Guiana levou a questão à Corte Internacional de Justiça (CIJ), solicitando que o tribunal ordenasse à Venezuela que se abstivesse de quaisquer ações no território disputado.
Mesmo assim, Maduro promulgou a Lei Orgânica para a Defesa de Essequibo, incorporando a região como um novo estado venezuelano, chamado “Guiana Essequiba”.
Maduro mantém ofensiva política apesar de rejeição internacional
O conflito geopolítico ganhou nova escalada quando Maduro anunciou eleições para governador e parlamento estadual em Essequibo, marcadas para 25 de maio de 2025.
A decisão, vista por analistas como uma tentativa de legitimar o controle sobre a área, aumentou a tensão entre os dois países.
De acordo com a nova legislação aprovada em Caracas, será proibido que simpatizantes do governo da Guiana ocupem cargos políticos ou disputem eleições na região.
Além disso, o artigo 25 da lei proíbe a circulação de mapas da Venezuela que não incluam Essequibo como território nacional.
Maduro afirmou que “a nova legislação será cumprida ao pé da letra” e declarou o fim da “dominação colonial” na região.
A resposta da comunidade internacional foi imediata e contundente.
Países como Estados Unidos, Brasil e Reino Unido expressaram preocupação com a estabilidade da América do Sul, enquanto o Conselho de Segurança da ONU agendou sessões emergenciais para tratar do caso.
Riquezas naturais impulsionam ambições territoriais
O interesse estratégico por Essequibo não se limita a motivações históricas.
A região é considerada uma das mais promissoras do mundo em termos de reservas fósseis.
Segundo estimativas da ExxonMobil e da Hess Corporation, que operam em parceria na área, existem ao menos 11 bilhões de barris de petróleo e gás natural em território guianense, a maior parte localizada em áreas offshore.
Esse potencial transformou a Guiana no país que mais cresce economicamente na América do Sul, com projeções de expansão acima de 20% ao ano.
A Venezuela, por outro lado, enfrenta uma grave crise econômica e política interna, com inflação descontrolada, sanções internacionais e dificuldades de abastecimento.
Essa diferença de cenários reforça a percepção de que Caracas tenta recuperar relevância regional ao desafiar frontalmente o governo de Georgetown.
Tensão preocupa o Brasil e acende alerta no Exército
Com a escalada do conflito entre Guiana e Venezuela, o Brasil observa com extrema cautela os desdobramentos da crise que se desenrola em sua fronteira norte.
O estado de Roraima, que faz divisa direta com os dois países envolvidos, pode ser afetado por eventuais fluxos migratórios descontrolados, tensões diplomáticas ou até incidentes militares acidentais.
Fontes já indicam que o Exército Brasileiro reforçou o monitoramento da região, especialmente nas proximidades da tríplice fronteira com Guiana e Venezuela, utilizando unidades do Comando Militar da Amazônia.
Embora o Brasil mantenha uma posição de neutralidade diplomática e defenda uma solução pacífica mediada por organismos internacionais, o aumento da instabilidade territorial acendeu o sinal de alerta nas Forças Armadas.
Além disso, há preocupações com o eventual uso do território brasileiro como rota para fuga de civis ou movimentação irregular de grupos armados, o que comprometeria a segurança nacional.
O Itamaraty, por sua vez, tem atuado de forma discreta, mas enfática, nos bastidores diplomáticos para evitar uma guerra às portas da Amazônia.