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Dia do MARINHEIRO – 13 de dezembro / Ordem do DIA

por Sociedade Militar Publicado em 13/12/2018
Dia do MARINHEIRO – 13 de dezembro / Ordem do DIA

ORDEM DO DIA do COMANDANTE DA MARINHA DO BRASIL

A história pontua certas personalidades cujo caráter, iniciativa, determinação ou virtudes outras se sobressaem perante a coletividade. São homens e mulheres que, ao executarem atos excepcionais, com coragem e bravura, adquirem notoriedade que transcende suas gerações. Há de se destacar, ainda, os princípios morais e éticos de seus comportamentos, bem como a finalidade altruísta de suas ações. Falo dos heróis: seres humanos que nos inspiram, nos encorajam e fazem com que nos entreguemos de corpo e alma a uma nobre causa, tornando-se protagonistas indispensáveis na formação de uma nação.

A Marinha do Brasil, Instituição que se fez presente nos principais acontecimentos do passado e que busca contribuir, com relevância, para o presente e futuro do País, teve a felicidade de contar com um grande líder em suas fileiras, cujos egrégios feitos o alçaram ao patamar de Patrono da Marinha e Herói da Pátria: Joaquim Marques Lisboa, o Marquês de Tamandaré.

Nascido em 13 de dezembro de 1807, seu pendor natural para o mar surgiu ainda na infância, quando acompanhava seu pai, prático em Rio Grande, nas manobras dos navios. Ingressou na Marinha aos 15 anos, como voluntário, na Esquadra que se apresentava para lutar contra forças portuguesas estacionadas na Bahia, logo após a Independência. Ao longo de sua carreira, com 66 anos e 10 meses de efetivo serviço, teve atuação memorável nas ações militares que sufocaram movimentos de resistência ao processo de libertação do País e de sublevação ao Império recém-criado, como a Balaiada e a Sabinada. Participou de forma marcante nas Guerras da Cisplatina e da Tríplice Aliança. Demonstrou astúcia e perspicácia em diversos episódios a bordo dos navios em que serviu ou comandou, ora executando manobras vitoriosas em combates navais, ora resgatando náufragos vitimados por acidentes de navegação. Ajudou a manter coeso este gigantesco território e, juntamente com outros expoentes da nacionalidade, emprestou qualidades basilares que moldaram a espinha dorsal da sociedade brasileira.

Transformou-se em uma das maiores lideranças do período Imperial, legando exemplos de patriotismo, lealdade e honestidade de propósito. Pautou sua conduta nas virtudes, sem qualquer relaxação. Dizia ele que a honra está acima da vida e de tudo quanto antes existe no mundo, porque a vida se acaba na sepultura, os bens são transitórios, enquanto que a honra a tudo sobrevive. Ser honrado era algo absoluto, inconteste. Em hipótese alguma poderia existir qualquer desvio capaz de manchar seu nome.

E nesta mesma linha de retidão de caráter, seu testamento foi redigido dentro de uma lucidez invejável, no auge de seus 85 anos de vida e sabedoria. Transportá-lo para os dias de hoje não só é pertinente, mas necessário. Heróis formaram a Nação e devemos ouvi-los em qualquer tempo.

Assim ele o inicia: “Não quero, pois, que por minha morte que me prestem honras militares…”. “Que meu corpo seja conduzido em carrocinha de última classe, enterrado em sepultura rasa até poder ser exumado…”. Fica evidente a simplicidade e o desprendimento, ausência de vaidade ou interesse outro que não o de servir ao Brasil, sem esperar algo em troca. Ser um homem honrado era a recompensa eterna por seus feitos.

Continuando disse, “Exijo que não se façam anúncios e nem convites para o enterro de meus restos mortais, que desejo sejam conduzidos de casa ao carro e deste à cova por meus irmãos em Jesus Cristo que hajam obtido o foro de cidadãos pela lei de 13 de maio”. Patente é o sentimento de humanidade que Tamandaré cultivou, reconhecendo o sofrimento daqueles que viveram a época da escravidão e foram libertos pela Lei Áurea. Somos todos brasileiros, iguais em direitos e deveres, partícipes da construção da alma da Nação.

Finalizando pediu, em homenagem à Marinha, sua dileta carreira, que sobre a pedra de sua sepultura se escrevesse: Aqui jaz o Velho Marinheiro. E o tempo se encarregou de realizar o desejo de Tamandaré, fazendo com que repouse, na nossa história, como o maior dos marinheiros brasileiros.

Na data em que o País presta uma justa homenagem ao Velho Marinheiro e aos seus sucessores em tradições, costumes e princípios, cabe ao Comandante da Marinha reconhecer o trabalho honrado e patriótico dos homens e mulheres que labutam, ombro a ombro, nas organizações operativas e de apoio espalhadas pelos mais distantes rincões do território, águas jurisdicionais e missões no exterior.

A sociedade de hoje clama por valores, clama por voltar a crer no futuro. Bons exemplos muitas vezes parecem escassos ou encobertos por um nevoeiro de desilusão, desunião e individualismo. Mas cada um deve buscar fazer a sua parte e dar a sua contribuição, perseguindo um caminho de dignidade que leve a Pátria Amada ao seu lugar de direito.

O caminho passa por reaprendermos com os heróis do passado. Os traços únicos desta Nação nos reportam aos distintos antepassados, que abdicaram de uma vida comum para contribuir na formação de nossa brasilidade e tradições, talvez esquecidas nos dias de hoje. Recorramos a eles para reajustar a proa no rumo traçado no embrião do Brasil, concebido pela busca de uma sociedade livre, próspera e alicerçada no respeito ao próximo.

Voltemos a lembrar Tamandaré, compreendendo que uma alma honrada persiste para sempre. Procuremos proporcionar aos nossos filhos e netos o prazer de poderem contar belas passagens sobre esta geração. O passado bem sedimentado nos trouxe até aqui mas, se errarmos na condução do presente, a história será implacável ao descrever as próximas décadas. Acredito, piamente, que a Marinha, através do exemplo de cada um dos seus 80.000 militares e civis, por meio das nobres tarefas cumpridas por todo País, pode ajudar o Brasil a prosperar. Sejamos atores de peso nesse processo.

Aos agraciados com a Medalha Mérito Tamandaré transmito o reconhecimento da Marinha, desejando que honrem a comenda, usem-na com orgulho e mantenham uma perene admiração pelas coisas do mar. Jamais se esqueçam de que nossas águas foram palco de importantes feitos históricos, cujos desdobramentos vitoriosos nos trouxeram ao pujante Brasil que temos hoje.

Marinheiros, de farda e de coração, sejam felizes!
Viva a Marinha! Tudo pela Pátria!
EDUARDO BACELLAR LEAL FERREIRA
Almirante de Esquadra
Comandante da Marinha
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Em 4 de setembro de 1925, o Ministro da Marinha, Almirante Alexandrino Faria de Alencar instituiu 13 de dezembro como o Dia do Marinheiro, homenageando o Almirante Joaquim Marques Lisboa – Marquês de Tamandaré – em sua data natalícia (13/12/1807).

Tamandaré está entre o seleto grupo de brasileiros que contribuiu para resguardar o Brasil da desagregação e para a concórdia e paz do extremo norte ao extremo sul do Brasil.

Além da Guerra de Independência, onde esteve embarcado na Fragata Niterói, participando da perseguição à frota portuguesa que deixava a Bahia, destacou-se na Guerra Cisplatina onde recebeu o seu primeiro comando de navio com 18 anos de idade e, depois, se tornou um herói, participando de vários episódios importantes dessa guerra. No período Regencial, tomou parte ativa na pacificação de várias insurreições. Viveu, portanto, em um período muito importante da consolidação do Estado nacional.

Como Capitão de Mar e Guerra, foi o primeiro Comandante da Fragata a vapor D. Afonso, primeiro navio de guerra de grande porte com propulsão a vapor incorporado pela Marinha do Brasil. Em uma das provas de mar ao largo da cidade inglesa de Liverpool, salvou membros da tripulação e passageiros do navio Ocean Monarch, que levava emigrantes para os Estados Unidos da América. Já no Rio de Janeiro, ainda comandante da D. Afonso, conseguiu rebocar e trazer para dentro da Baía de Guanabara a Nau da Marinha de Portugal Vasco da Gama, que se achava desarvorada fora da barra, em meio a uma tempestade.

Como Almirante, comandou a Força Naval brasileira no Rio da Prata entre os anos de 1864 a 1866. No conflito contra o Paraguai, organizou toda a logística necessária para a manutenção dessa Força, e conduziu o início do bloqueio, estratégia que selou o destino do Paraguai.

Faleceu no Rio de Janeiro, então capital federal da República, em 20 de março de 1897, após uma longa vida dedicada à Marinha do Brasil.

As muitas qualidades e, sobretudo, o caráter do Almirante Tamandaré, comprovado por suas ações, são exemplos, não somente para os bons marinheiros, mas para os brasileiros de todos os tempos; relembrá-las é um exercício de patriotismo e inspiração.

Patrono da Marinha, teve sua exemplar conduta reconhecida pela nação ao ter seu nome inscrito no livro de heróis da pátria.

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