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Putin flexibiliza o uso de armas nucleares e ameaça o Ocidente; entenda as implicações da nova política nuclear russa que agora permite retaliação nuclear contra Estados não nucleares

por Sérvulo Pimentel Publicado em 27/09/2024
Putin flexibiliza o uso de armas nucleares e ameaça o Ocidente; entenda as implicações da nova política nuclear russa que agora permite retaliação nuclear contra Estados não nucleares

A Rússia deu um passo crucial e perigoso ao flexibilizar as regras para o uso de seu arsenal nuclear, o maior e mais sofisticado do mundo. Segundo o site russo RIA Novosti, a Rússia fez importantes mudanças em sua doutrina nuclear, reduzindo os limites para o uso de seu vasto arsenal nuclear, o maior e mais avançado do mundo.

As alterações indicam que as armas nucleares poderão ser usadas até contra Estados não nucleares que ataquem a Rússia, se estes contarem com o apoio de uma potência nuclear, como Estados Unidos, Reino Unido ou França. “A lacuna que permitiu às potências ocidentais combaterem a Rússia por procuração foi destruída”, afirmou a colunista Victoria Nikíforova.

Essas mudanças foram anunciadas durante uma reunião do Conselho de Segurança da Rússia, com o objetivo de ajustar a política nuclear do país frente ao que Moscou considera uma crescente ameaça do Ocidente.

O que muda na doutrina nuclear russa?

A doutrina nuclear da Rússia estabelece as regras e condições para o uso de suas armas nucleares. Tradicionalmente, a Rússia reservava esse tipo de armamento apenas para situações em que sua própria sobrevivência estivesse em jogo ou em resposta a um ataque nuclear.

Agora, esse cenário mudou. A nova doutrina permite o uso de armas nucleares até mesmo em resposta a ataques convencionais (não nucleares), caso eles representem uma ameaça crítica à soberania do país.

Segundo Putin, “a agressão contra a Rússia por qualquer Estado não nuclear, mas com o apoio de uma potência nuclear, será considerada como um ataque conjunto”. Ou seja, países como Polônia, Ucrânia e outros membros da OTAN podem ser alvos de ataques nucleares se colaborarem com os EUA, Reino Unido ou França.

A ameaça externa e o papel das potências ocidentais

As mudanças na doutrina visam responder ao que a Rússia chama de envolvimento direto das potências ocidentais no conflito na Ucrânia. Putin acusa os países ocidentais de utilizarem a Ucrânia como um “peão” em um jogo maior para enfraquecer a Rússia, fornecendo armas e apoio militar, sem se envolver diretamente no conflito.

Para o Kremlin, isso representa um confronto que “provoca o mundo para um desastre nuclear”, como afirmou Dmitry Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia.

Proteção à Bielorrússia

Outro ponto importante nas alterações feitas na doutrina nuclear é a inclusão da proteção à Bielorrússia. O país, aliado próximo de Moscou, também está agora sob o “guarda-chuva nuclear” da Rússia.

Putin ressaltou que qualquer ataque à Bielorrússia, mesmo com armas convencionais, pode desencadear uma resposta nuclear russa. Isso visa dissuadir possíveis agressões de países como Polônia e Ucrânia contra o território bielorrusso.

Flexibilidade e eficácia na nova doutrina

A nova doutrina foi ajustada para tornar a política de dissuasão nuclear da Rússia mais flexível e adaptada às novas ameaças, como explicou Andrei Kartapolov, chefe do Comitê de Defesa da Duma. “As mudanças foram feitas para garantir que nossa doutrina corresponda às realidades de hoje e seja mais eficaz”, disse Kartapolov.

Essas realidades incluem as “guerras híbridas” promovidas pelo Ocidente, que combinam métodos tradicionais e não convencionais de ataque, como o uso de drones e ciberataques.

A resposta nuclear contra ataques convencionais

O documento atualizado também amplia o escopo para o uso de armas nucleares em resposta a ataques convencionais em grande escala. “Consideraremos essa possibilidade assim que tivermos informações confiáveis sobre o lançamento massivo de armas de ataque aeroespacial”, afirmou Putin. Isso inclui mísseis de cruzeiro, drones e aeronaves hipersônicas que cruzem a fronteira russa.

Com essas mudanças, a Rússia envia um recado claro aos países da OTAN: qualquer ataque ao território russo ou de seus aliados, mesmo que feito com armas convencionais, pode ser considerado motivo para um ataque nuclear de retaliação.

Sérvulo Pimentel

Sérvulo Pimentel

Apaixonado pela língua portuguesa e pelo universo militar, Sérvulo é professor há dez anos e atua como redator há cinco, sendo um especialista na produção de notícias sobre Defesa Nacional e sociedade militar. Na Revista Sociedade Militar, dedica-se a levar informações confiáveis e bem apuradas ao público, sempre prezando pela responsabilidade jornalística e imparcialidade. Seu compromisso é contribuir para um debate informado e acessível sobre temas estratégicos e sociais, aproximando os leitores das principais questões que envolvem as Forças Armadas e a sociedade.