Segundo o jornal Folha de São Paulo, havia um “acordo” entre os oficiais generais comandantes das três Forças Armadas e o Governo do presidente Lula. O combinado, obviamente não explícito, e muito menos documentado, tinha como objeto não “expor desavenças entre o governo e os militares“. Conforme fontes do veículo de imprensa, o acordo teria sido “quebrado”, quando a Marinha do Brasil, comandada pelo almirante Marcos Sampaio Olsen, publicou um vídeo promocional em homenagem ao Dia do Marinheiro. A peça publicitária contava, em tom de provocação, que a Marinha e seus militares não seriam realmente privilegiados.
Ainda segundo a FSP, o Presidente da República e o ministro da Defesa, José Mucio Monteiro teriam se queixado com o comandante Marcos Sampaio Olsen. Após o protesto de seus superiores, o almirante não teve outra opção, senão excluir das redes sociais o vídeo em homenagem ao Dia do Marinheiro.
O comandante da Marinha “na prancha”
A repercussão negativa da publicidade gerou críticas ao comandante da Marinha no governo e até mesmo pedidos para que Olsen fosse exonerado do cargo. O principal argumento seria de que o chefe da Força Naval teria atuado politicamente ao criticar de maneira velada o pacote fiscal do ministro Fernando Haddad (Fazenda), que altera a previdência dos militares.
O vídeo divulgado pela Marinha contrastava cenas de marinheiros durante operações de salvamento e treinamentos militares com imagens de pessoas em período de lazer aproveitando praias, festas e viagens. A gravação dizia que os militares na Marinha tinham de se “acostumar com uma vida de sacrifícios“. Ao final, uma marinheira dizia diretamente à câmera: “Privilégios?? Vem pra Marinha”.
A filmagem foi divulgada em 1º de dezembro, um dia após os comandantes se encontrarem com o presidente Lula, em almoço no Palácio da Alvorada num sábado para exporem suas contrariedades ao pacote fiscal.
Ministros ouvidos pela Folha consideraram o vídeo como inoportuno e motivo de grande constrangimento no governo. Em resposta, segundo relatos, Olsen justificou que precisava mostrar internamente que a Marinha não estava desamparada diante de ofensivas contra benefícios da carreira.
Olsen esteve na segunda-feira (16) na Escola de Guerra Naval, no Rio de Janeiro, para um almoço com capitães de mar-e-guerra veteranos e almirantes da ativa e da reserva. Participaram cerca de 60 pessoas. O encontro ocorre todo fim do ano, como uma confraternização. É uma forma do chefe da Força ouvir as demandas de militares aposentados.
De acordo com relatos feitos à Folha de SP, os principais assuntos da reunião foram as mudanças nas aposentadorias e a repercussão negativa do vídeo junto ao governo.
O “diplomata” milionário
Olsen, durante a conversa com os militares da reserva, teria relatado aos oficiais que após ouvir as reclamações de Lula precisou “ser diplomático“, decidindo reverter o cenário para “conter danos” – mandou apagar o vídeo. Ele disse que a Força se sentia desamparada com os sucessivos cortes de gastos, reveses em seus projetos estratégicos e, mais recentemente, com as mudanças na aposentadoria.
Conforme matéria publicada pela Revista Sociedade Militar, – mesmo negando que a carreira tenha privilégios – em outubro deste ano, o próprio comandante da Marinha do Brasil recebeu pouco mais de R$ 1 milhão ao ir para a reserva em 2023.
O valor é composto por uma verba indenizatória de R$ 394 mil e férias atrasadas no valor de R$ 216 mil, pagas em janeiro do ano passado, além de outros recursos indenizatórios de R$ 444,5 mil, recebidos no mês seguinte. As informações são do Portal da Transparência.
O montante inclui uma série de benefícios acumulados durante a carreira, previstos na legislação brasileira, como uma ajuda de custo para a passagem à reserva que chega a R$ 300 mil.
Os dois principais benefícios são o pagamento de oito vezes o salário do militar ao deixar o serviço ativo (o salário bruto de Olsen é de quase R$ 38 mil) e o pagamento das licenças especiais (LEsp) – a cada dez anos de trabalho, os militares tinham 6 meses de folga – caso não fossem tiradas, o benefício seria recebido ao final da carreira. A LEsp foi extinta pela Medida Provisória 2.215 de 2001.
A Marinha disse que o pagamento de militares no País obedece rigorosamente o arcabouço legal vigente e suas atualizações, a seguir: Medida Provisória nº 2.215, de 31 de agosto de 2001, o Decreto nº 4.307, de 18 de julho de 2002 e a Lei nº 13.954, de 16 dezembro de 2019.
Melhor de três
Além dos pagamentos exorbitantes do almirante Olsen, há ainda os outros dois oficiais generais comandantes da Força Aérea e do Exército brasileiro.
Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, comandante da Força terrestre, por exemplo, recebeu até outubro de 2024 R$585.219,82. Só nos 10 meses de 2024, o general de quatro estrelas realizou 32 viagens, com destinos dentro e fora do Brasil. Isso significou pouco mais de 3 ausências por mês.
O tenente-brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, comandante da Força Aérea recebe R$26.536,35 líquidos, que, acrescidos dos R$13.930,27, referentes à função comissionada CCX 011.8, compõem o salário de R$ 40.466,62. Esses dados também são do Portal da Transparência do Governo Federal.
Sua renda acumulada em 2024 (salário regular mais as viagens) foi de R$444.434,99