Enquanto o noticiário político se ocupa de escândalos e disputas internas, um dos principais nomes das Forças Armadas norte-americanas desembarca discretamente em Brasília, com um objetivo claro: intensificar o combate ao narcotráfico e à circulação ilegal de armamentos na América do Sul.
Trata-se do almirante Alvin Holsey, atual comandante do Comando Sul dos Estados Unidos (Southcom), que cumpre uma agenda de três dias no Brasil em maio de 2025.
Parceria militar reforçada entre os dois países
Segundo informações do portal ”Metrópoles”, Holsey deve se reunir com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e os três comandantes das Forças Armadas brasileiras, Exército, Marinha e Aeronáutica.
O encontro faz parte de uma série de iniciativas do governo norte-americano para fortalecer a presença e a influência militar na região, em um momento em que a segurança das fronteiras sul-americanas tem despertado preocupação internacional.
O foco principal do diálogo é a intensificação das operações conjuntas para coibir o tráfico de drogas, armas e munições, especialmente nas áreas de tríplice fronteira entre Brasil, Bolívia e Peru, regiões historicamente exploradas por facções criminosas e cartéis internacionais.
Esta é a primeira visita oficial de Holsey ao Brasil desde que ele assumiu o comando do Southcom, em novembro de 2024.
Antes disso, em abril deste ano, o almirante já havia participado de encontros diplomáticos na Argentina, onde foi recebido pelo presidente Javier Milei em Buenos Aires, consolidando uma frente de cooperação entre Washington e os principais países do Cone Sul.
Alerta geopolítico na América do Sul
A presença do chefe do Southcom em solo brasileiro é vista como um movimento estratégico dos EUA diante do crescente interesse de potências como China, Rússia e Irã na região.
O governo dos Estados Unidos tem reiterado sua preocupação com a atuação de redes criminosas transnacionais, muitas vezes com conexões indiretas com grupos extremistas e interesses políticos globais.
A América do Sul, embora não envolvida diretamente em conflitos armados internacionais, tornou-se uma zona crítica para o combate ao crime organizado e ao financiamento ilícito.
O que é o Comando Sul (Southcom)
O Southcom é um dos onze comandos unificados do Departamento de Defesa dos Estados Unidos.
Localizado em Doral, na região metropolitana de Miami, ele tem a responsabilidade de coordenar ações militares e diplomáticas em toda a América Latina e Caribe, com foco na promoção da estabilidade, no combate ao tráfico e na prevenção de ameaças à segurança regional.
O comando é composto por membros das diferentes forças armadas dos EUA — Exército, Marinha, Força Aérea, Fuzileiros Navais e Guarda Costeira — além de representantes de agências federais.
Holsey, um veterano da Marinha norte-americana com décadas de experiência, assumiu o comando do Southcom com a missão de estreitar laços com aliados estratégicos na América do Sul e impedir o avanço de atores considerados adversários dos interesses dos EUA, como a China e o Irã.
Brasil e EUA: uma aliança silenciosa, mas firme
Apesar de manter uma postura discreta nas declarações públicas, o Brasil tem sido um parceiro-chave dos Estados Unidos em ações de cooperação militar nos últimos anos.
Autoridades brasileiras, embora cautelosas, reconhecem os benefícios da colaboração com os norte-americanos, especialmente no acesso a tecnologias de ponta, treinamentos conjuntos e recursos para inteligência.
Por outro lado, o governo brasileiro evita uma exposição excessiva dessas parcerias, principalmente para não comprometer suas relações diplomáticas com países do Oriente Médio e potências que mantêm interlocução com Brasília.
Essa diplomacia equilibrada permite ao Brasil atuar como mediador em temas sensíveis da política internacional, ao mesmo tempo em que mantém firme sua soberania e interesse nacional nas parcerias estratégicas com os Estados Unidos.
Interesses além das fronteiras
A presença de Holsey também ocorre em um momento de alerta global sobre atividades ilícitas nas fronteiras sul-americanas, como contrabando de armas, lavagem de dinheiro e tráfico de pessoas, práticas que muitas vezes se entrelaçam com redes criminosas internacionais.
Além disso, há uma preocupação crescente com a possibilidade de infiltrações de organizações com vínculos ideológicos e religiosos radicais — tema que voltou ao debate com a recente promessa do presidente Donald Trump de pagar recompensas milionárias por informações sobre grupos como o Hezbollah atuando na América do Sul.
O contexto geopolítico da região, portanto, exige ações coordenadas e eficazes, nas quais o intercâmbio de inteligência e apoio logístico entre os países se torna essencial.