Em meio a um dos conflitos mais devastadores da Europa desde a Segunda Guerra Mundial, Rússia e Ucrânia deram um passo incomum rumo ao diálogo: a liberação simultânea de 780 prisioneiros. O acordo bilateral, anunciado nesta sexta-feira, 23 de maio, representa o maior movimento humanitário do tipo desde 2022 e ocorreu após conversas diretas em Istambul, sinalizando uma possível abertura para negociações futuras. O gesto reacende a atenção global sobre o conflito, enquanto os combates continuam e novas vítimas são registradas em diversas frentes.
A operação humanitária ocorreu dias após uma rodada de negociações diretas entre representantes dos dois países em Istambul, que durou cerca de duas horas. Embora não tenha resultado em um cessar-fogo nesta guerra, o encontro rendeu o primeiro avanço concreto entre os lados em mais de três anos de conflito.
Acordo entre Moscou e Kiev libera 780 prisioneiros e é resultado de reunião em Istambul
De acordo com o Ministério da Defesa da Rússia, entre os libertados estavam 270 soldados e 120 civis. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, confirmou os números e declarou que mais prisioneiros seriam soltos no sábado e no domingo, como parte do mesmo acordo. O gesto foi interpretado como uma tentativa de aliviar tensões, apesar da continuidade dos combates em diversas regiões do território ucraniano.
A troca de prisioneiros de guerra ganhou repercussão internacional. O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou na rede Truth Social uma mensagem parabenizando os envolvidos:
“Uma grande troca de prisioneiros acaba de ser concluída entre a Rússia e a Ucrânia. Ela entrará em vigor em breve. Parabéns a ambos os lados por esta negociação. Isso pode levar a algo grande???”.
Troca inclui civis capturados durante a guerra na Rússia e ocorre em meio a bombardeios no sul da Ucrânia
O Ministério da Defesa da Rússia afirmou que parte dos civis libertados havia sido capturada na região de Kursk, durante uma incursão militar realizada pela Ucrânia no ano anterior. Após a soltura, os prisioneiros russos foram levados para Belarus, onde receberam apoio médico e psicológico antes de serem transferidos ao território russo.
Enquanto isso, combates continuam em várias regiões da Ucrânia. Moscou anunciou nesta sexta-feira a captura do assentamento de Rakivka, localizado na região de Kharkiv, no nordeste do país. No sul, o governador regional de Odessa, Oleh Kiper, informou que dois mísseis russos atingiram a infraestrutura portuária da cidade, matando uma pessoa e ferindo outras oito. Odessa é considerada estratégica por seu papel no comércio marítimo e no transporte de grãos e armamentos.
Autoridades ucranianas também mobilizaram jornalistas para a região de Chernihiv, no norte do país, com a expectativa de que parte dos prisioneiros libertos fosse levada até lá. A movimentação foi vista como uma ação simbólica e de apoio à reintegração dos ex-detentos ao convívio civil.
Ucrânia propõe cessar-fogo temporário, mas Rússia impõe condições
Apesar do avanço representado pela troca de prisioneiros, um cessar-fogo ainda parece distante. A Ucrânia se declarou pronta para adotar uma trégua de 30 dias imediatamente. No entanto, o Kremlin mantém sua posição de não interromper os ataques até que determinadas condições, não informadas publicamente, sejam atendidas.
O conflito, iniciado em fevereiro de 2022 com a invasão russa, já causou centenas de milhares de baixas militares, embora ambos os lados evitem divulgar números oficiais. Estima-se também que dezenas de milhares de civis ucranianos tenham morrido durante os bombardeios a centros urbanos, como consequência direta da guerra.
A troca de prisioneiros surge, portanto, como um dos raros momentos de cooperação entre as partes desde o início da guerra. Ainda que os ataques continuem e o cessar-fogo não tenha sido firmado, o episódio reforça a importância de ações humanitárias em meio a um cenário de violência contínua. A comunidade internacional segue atenta aos próximos passos, enquanto cresce a expectativa de novas liberações e, quem sabe, de futuras negociações mais amplas.
Fonte: CNN Brasil