Nos campos abertos do leste europeu, onde a guerra entre Ucrânia e Rússia entra em seu terceiro ano, as motocicletas surgem como armas inesperadas.

Esses veículos, tradicionalmente associados ao transporte individual ou a missões de reconhecimento, passaram a ser usados em ataques diretos, invasões relâmpago e infiltrações noturnas.

Com a proliferação de drones explosivos sobrevoando o campo de batalha, a leveza e a velocidade das motos oferecem uma nova resposta tática.

A ideia, inicialmente vista como uma solução improvisada, agora é parte central da doutrina de assalto ucraniana.

No dia 21 de maio de 2025, o 425º Regimento de Assalto Separado da Ucrânia, também conhecido como “Skala”, anunciou publicamente a criação da primeira companhia de motocicletas militares do país.

A iniciativa marca um divisor de águas nas operações táticas ucranianas.

Segundo o próprio regimento, trata-se de uma “cavalaria moderna” com capacidade de “atacar, desaparecer e reaparecer em outro ponto do front”, confundindo os sistemas de vigilância e defesa russos.

Ataques-relâmpago contra alvos russos

A eficácia da nova tática foi colocada à prova em um ataque noturno bem-sucedido realizado nas proximidades de Sudzhansky, na região russa de Kursk.

Segundo informações do portal ”R7”, as tropas da “Skala” usaram motocicletas off-road para romper linhas defensivas, tomar postos avançados e destruir pontos de comunicação russos antes de bater em retirada, sem registrar baixas.

As imagens divulgadas nas redes oficiais mostram os combatentes cruzando obstáculos antitanque do tipo “dentes de dragão”, aproveitando-se da agilidade do veículo e do terreno favorável.

Equipados com óculos de visão noturna e fuzis de assalto, os soldados operam sempre em duplas, com um piloto e um atirador que dispara em movimento, em um estilo reminiscentes das tropas móveis do século passado.

“As motos oferecem uma velocidade de ataque e retirada que nenhum veículo blindado consegue alcançar hoje no campo de batalha dominado por drones”, afirmou o tenente-coronel Pavlo Shamshyn, porta-voz das Forças Terrestres da Ucrânia em Kharkiv.

Mobilidade contra drones letais

Desde que os drones se consolidaram como principal ameaça aérea em combate terrestre, os blindados passaram a ser alvos prioritários — e vulneráveis.

“Tão logo um veículo blindado é detectado, é questão de minutos até que um drone kamikaze o destrua”, explicou Shamshyn.

Nesse cenário, a mobilidade leve se tornou a única resposta viável para manter a capacidade ofensiva com baixo custo humano.

As motocicletas utilizadas pelos ucranianos são, na maioria, modelos civis adaptados para fins militares, com reforços de proteção e suporte para armamentos.

O treinamento das duplas motociclistas envolve centenas de horas de sincronização, tiros em movimento e evasão noturna.

O objetivo é sempre romper linhas inimigas rapidamente, causar danos localizados e desaparecer antes que o inimigo reaja.

Rússia também investe em motos e quadriciclos

A inovação, no entanto, não é exclusividade da Ucrânia.

Desde 2023, a Rússia passou a usar motocicletas e quadriciclos como alternativa aos blindados, sobretudo após sofrer pesadas perdas para drones ucranianos e minas terrestres.

Segundo informes do Exército ucraniano, um ataque russo em Pokrovsk teria envolvido mais de 100 motocicletas simultaneamente, em uma tática semelhante à usada pela Ucrânia hoje.

Esses veículos, embora mais frágeis, conseguem navegar por terrenos estreitos, florestas e zonas urbanas com facilidade — algo inviável para tanques.

O uso militar de motos, embora agora em larga escala, tem precedentes históricos.

Durante a Segunda Guerra Mundial, tropas de elite alemãs e americanas já utilizavam motocicletas para reconhecimento e comunicações.

Mais recentemente, forças especiais dos EUA e Reino Unido também recorreram a motos em operações no Afeganistão e Iraque.

A novidade na Ucrânia está justamente no uso massivo e ofensivo, com ataques frontais e operações de sabotagem além da linha de contato.