Renovação na Câmara pode crescer e ultrapassar 60%
Após as últimas eleições a porcentagem de novos deputados ficou em 47%. O maior índice registrado depois do governo militar foi 62%, em 1990, talvez como reflexo da euforia e perspectivas de que com novos políticos o país assumisse rumos mais promissores.
Mas, ao contrário do que indica o senso comum, as estatísticas mostram que a mobilização da sociedade até hoje não foi o fator preponderante para a renovação dos deputados federais. As mudanças mais significativas na composição das casas legislativas ocorreram como consequência de decisões dos próprios políticos de concorrer ou não a re-eleição.
Instituições como o DIAP, que se debruçam sobre a questão, acreditam que a renovação em 2018 deve na verdade diminuir porque muitos políticos implicados em questões judiciais devem lutar para se candidatar a re-eleição. O índice de RE-CANDIDATURA sempre ultrapassa 70% e em 2018 pode ultrapassar muito a taxa de 80%.
Diante da repercussão da Lava Jato, operações derivadas e condenações de políticos influentes, que podem servir de estímulo para que a sociedade lute por uma nova classe política, cremos no protagonismo da sociedade e na possibilidade de se alcançar um índice de renovação similar ou superior a 1990.
Pesquisas realizadas pelo governo no fim da greve dos caminhoneiros indicam que cerca de 2/3 da sociedade querem uma renovação completa.
Papel da sociedade
Além da luta pela eleição de candidatos com conduta ilibada, é necessário que se faça uma campanha para aumentar a rejeição de certos deputados e senadores que vão se candidatar a reeleição. Deve-se “mirar” em políticos mais influentes e formadores de opinião na massa que ainda lhes dá algum crédito. Desconstruindo sua reputação abala-se a reputação de toda a esquerda. No Brasil esse tipo de “campanha” não é muito usada. Mas, obviamente, é necessário também lutar para afastar o que é mau.
Não é proibido citar nomes e até criar hashtags. Alguns exemplos.
#NãoReelejaMariadoRosario, ela luta para que os marginais com 17 anos de idade permaneçam sem punição e para …
#NãoReelejaRenanCalheiros. Ele já é senador e responde a 17 inquéritos no STF. Ele não merece o nosso voto. Renan gastou x milhões em viagens… x milhões com cota parlamentar etc.
Nas eleições passadas o índice de parlamentares re-eleitos ultrapassou 70%. Dos 513 deputados, 387 se candidataram a re-eleição, sendo que 273 foram re-eleitos. Portanto, a renovação foi bem MENOS expressiva do que a grande mídia alardeou. Dizia-se em vários jornais que o Congresso “ficou mais conservador”, dando a impressão que houve grande renovação na casa.
Ano |
Índice de recandidatura | Nº de reeleitos | % de re-eleitos | Novos parlamentares | Renovação |
1990 | 74,34% | 189 | 51,35% | 306 | 61,82% |
1994 | 78,92% | 230 | 57,93% | 273 | 54,28% |
1998 | 86,35% | 288 | 65,01% | 225 | 43,86% |
2002 | 81,09% | 283 | 68,02% | 230 | 44,83% |
2006 | 86,16% | 267 | 60,41% | 246 | 47,95% |
2010 | 79,33% | 286 | 70,76% | 227 | 44,25% |
2014 | 75,43% | 273 | 70,54% | 240 | 47% |
O PT, por exemplo, foi o partido que mais re-elegeu deputados em 2014. O PSOL reelegeu seus três deputados da legislatura anterior.
Em 1990, como dito, o índice de renovação do Congresso foi altíssimo, 61.8%. Mas – infelizmente – nem mesmo naquela época o número não veio somente como resposta aos anseios da sociedade. O índice foi diretamente ligado à baixa porcentagem de re-candidaturas ocorrida naquele ano, que foi de 74.3%.
Como sempre dito aqui a sociedade deve assumir o protagonismo. Se 2/3 querem renovação é dever desses dois terços lutar pelos seus candidatos e também lutar para que políticos antigos e corruptos não sejam reeleitos.
Robson Augusto é Militar R1, cientista social e jornalista.
Dados / Tabelas de: https://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/475450-INDICE-DE-RENOVACAO-DE-PARLAMENTARES-NA-CAMARA-CHEGA-A-43,7.html
https://www.diap.org.br/index.php/noticias/agencia-diap/27805-desafios-da-renovacao-qualitativa-do-congresso