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Conversa com o editor. Sim, os viciados também são culpados, as donas de casa se corrompem também. Como está a nossa percepção do certo e errado?

por Sociedade Militar Publicado em 18/12/2018
Conversa com o editor. Sim, os viciados também são culpados, as donas de casa se corrompem também. Como está a nossa percepção do certo e errado?

Sim, os viciados também são culpados, as donas de casa se corrompem também

Uma conversa despretensiosa com os leitores / colaboradores da Revista Sociedade Militar. Não se trata de um artigo, reportagem etc., apenas um bate papo para refletirmos juntos sobre situações do nosso quotidiano. Sua participação / opinião sempre é muito importante.

Dizer na TV que o viciado é responsável por mortes é politicamente incorreto? Dizer em um outdoor que a dona de casa que compra material roubado é receptadora é politicamente incorreto? Dizer que o primo que compra um celular roubado colabora para o aumento desse tipo de crime é um erro? Devemos mesmo nos calar para evitar que sejamos considerados antipáticos?

Feira livre

Na semana passada visitando amigos aqui do Rio estive em uma feira livre num bairro localizado no Município de Belford Roxo – RJ. Lá chegando estranhei o preço de alguns produtos expostos nas barracas. Material que custaria 15 ou 20 reais estava sendo vendido por 8 ou 10. Existe uma lógica, não dá pra vender sabão OMO pela metade do preço na feira livre, não tem como isso ser comercialmente viável, e qualquer pessoa adulta compreende isso muito bem, quase por instinto, incluindo aí as várias donas de casa que ali estavam adquirindo o material.

Para que a mercadoria roubada chegue nas mãos do consumidor, pessoas podem ter morrido, além de outras conseqüências para todos nós, como aumento dos preços, aumento do seguro, desemprego etc.

Maconha na praia

Normalmente só vou a praia bem cedinho, mas como resido na região oceânica de Niterói no verão uma vez ou outra acompanho algum parente ou amigo que passa pela nossa casa para ir à praia, geralmente vão no quentíssimo horário de pico, pra minha “felicidade”. Nesse final de semana aconteceu, e acabei indo à chamada Prainha, em Piratininga, por volta de meio-dia. Mesmo tendo anos de atividade ligada à segurança pública confesso que fiquei alarmado com a quantidade de haxixe ali consumida. Para meu espanto, sendo impossível não perceber o cheiro fortíssimo de maconha, ninguém parecia perceber algo errado ou escandaloso, ninguém parecia achar que a moça que na mesa ao lado fumava maconha estava praticando algo vergonhoso.

Não se trata só de prejudicar a própria saúde, como acontecia com o consumo do cigarro, a coisa é bem mais ampla. Será que ao olhar um maconheiro com o cigarro na boca ninguém se lembra das muitas desgraças que ocorrem ao redor da cadeia produtiva e logística até que essa droga chegue nas mãos do consumidor?

Mídia e conscientização

É preciso criar comerciais de TV que mostrem que o rapaz e a moça que encomendam maconha ao moto-taxista que busca lá dentro da comunidade são co-responsáveis pela morte de policiais e pessoas comuns que ousam atrapalhar de alguma forma a logística para que a droga seja vendida.

Algo bem duro e agressivo é necessário e urgente. Sugiro algo como uma cena de uma mãe que perdeu um filho pequeno por bala perdida apontando para um usuário de maconha e gritando aos prantos: “__ Foi por causa de você que meu filho morreu, seu maconheiro safado! Se você não comprasse não haveria quem vendesse. Safado, assassino, assassino!” É só um exemplo, sugestão, mas sei que temos muitos especialistas nesse tipo de coisa.

É preciso criar peças publicitárias, outdoors, comerciais de TV, banners para sites que façam com que o filho adolescente olhe para a mãe e a questione porque está comprando mercadoria roubada no mercadinho da comunidade. Quando a amiga disser que comprou sabão em pó pela metade do preço na feira ela deve receber uma resposta do tipo: “Como assim? Isso é roubado. Eu não colocaria isso dentro da minha casa.”

É necessário que além do rigoroso combate à criminalidade o novo governo desenvolva estratégias midiáticas que façam com que todos, tanto o consumidor de drogas quanto a dona de casa receptadora, sejam confrontados com as consequências de seus atos.

Há algum tempo a associação das operadoras de TV a cabo  (ABTA) veiculou em canais de TV a CABO comerciais contra a pirataria. A principio usaram como estratégia deixar o usuário de TV PIRATA constrangido em frente a seus familiares. Mas, em pouco tempo a estratégia mudou, passaram a veicular comercial que diz que usando aparelhos pirata o consumidor teria prejuízo, que suas senhas de banco seriam clonadas e é esse o comercial que até hoje vem sendo veiculado.

Notem que a estratégia que prevalece é a que tenta “convencer pelo bolso” esse é um sinal óbvio de que o brasileiro está mais preocupado com o prejuízo financeiro do que com o constrangimento. Portanto, é também necessário uma reeducação de nossa sociedade, é preciso que princípios como honestidade, bondade e preocupação com o próximo sejam resgatados. Sem isso não caminharemos para um futuro melhor.

Enquanto conversava com os amigos na praia eu não conseguia parar de pensar nos caras que fumavam maconha na mesa ao lado. Onde teriam comprado, será que tem um traficante por ali, será que está armado, qual é a facção que comanda a praia? Pelo número de consumidores passei a crer que agora facções comandam praias. Mas, aparentemente eu era o único ali que pensava nessas coisas. Por um instante me senti um paranoico. 

Nossa sociedade está doente? Estamos com a meste entorpecida? Nos acostumamos com o absurdo ao nosso lado? Será que não percebemos que se a coisa continuar assim BRASIL nossas crianças estarão irremediavelmente perdidas?

Em um artigo recente chegamos a comentar sobre moradores de comunidades que ficam o dia inteiro com o ar-condicionado ligado porque não pagam energia elétrica, usufruem de “direitos” concedidos pelos traficantes – donos das comunidades. Veja: Corrompidos – parte da sociedade carioca está corrompida

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Robson Augustto é Militar R1, jornalista e sociólogo

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